Festival novinho, o MITA celebrou no último fim de semana sua segunda edição. Começando com um dia em 2022, o festival aumentou em 2023, levando, durante 2 dias seguidos, diversas atrações, com Lana del Rey e Florence and the Machine como headliners, ao Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
Muito antes do festival, logo no anúncio do novo local – em 2022, o festival aconteceu no Anhembi -, muitas pessoas criticaram a escolha da produtora, devido às atuais condições de falta de segurança no centro da cidade. Porém, o MITA foi só um dos 3 grandes festivais que aconteceram e acontecerão no novo Anhangabaú, em uma parceria da produtora 30ebr com a prefeitura da cidade – o próximo é o Knotfest.
Apesar do receio do público, o festival vendeu muitos ingressos, devido ao line up, que contava com grandes nomes de diferentes gêneros musicais e trouxe duas cantoras muito amadas pelos indies brasileiros como headliners, além de shows inéditos como as irmãs HAIM e o tão esperado retorno do NX Zero.
O primeiro dia de MITA teve ingressos esgotados e ao chegarmos, entre 13h30 e 14h, os portões já tinham aberto há algum tempo e os shows de N.I.N.A e Avuá com Rodrigo Alarcon já tinham rolado. Assim, Jehnny Beth se apresentava no palco Centro, palco principal do festival e o único com a famosa “pista premium”, motivo de muitas reclamações do público ao longo do dia, visto que o espaço dessa pista era bem grande, o que deixou quem comprou ingresso para pista normal com muita dificuldade de enxergar o palco, mesmo estando colado na grade.
Voltando ao show de Jehnny Beth, uma performance marcada por rock industrial, roupas pretas, potência vocal e um cover de Nine Inch Nails, tudo o que moldou um dos shows mais legais do início do MITA, que, inclusive (devido à vibe “trevosa” de Jehnny, ex-vocalista da banda Savages, e sua baixista/tecladista Norvina, que assume os vocais em um dos momentos mais quentes do fim do show), deveria ter sido um show deixado mais pra tarde, teria funcionado melhor e mais pessoas poderiam ter assistido a essa ótima performance.
Os shows aconteciam de modo alternado, então assim que Jehnny se despediu no palco centro, o palco Deezer recebeu Duda Beat e a empolgação do público com os hits da diva pernambucana parecia ser um presságio de que o palco secundário seria mais empolgante que o palco principal.
Após Duda, o trio de jazz BADBADNOTGOOD era a atração do palco centro e, por ser um som instrumental, não agradou boa parte do público, especialmente os fãs de Lana Del Rey na pista comum, que alternaram suas reclamações entre xingamentos ao festival (devido à distância da pista) e reclamações sobre a banda, inclusive comemorando quando o show acabou. Uma situação chata, já que, independentemente de gostar ou não do som de um artista, respeito pelos profissionais é essencial.
Além disso, o propósito de um festival cujo nome é Music is the Answer não é justamente unir diferentes estilos?
A tarde seguiu e o palco Deezer recebeu o que foi um dos shows mais memoráveis do primeiro dia. Djonga, que por si só já faz grandes shows, recebeu BK e os rappers conduziram um público que sabia as músicas do começo ao fim, gritando por mais hits.
O show foi de rap e teve seus momentos de contestação e “dedo na ferida”, especialmente em “Ladrão” e na clássica “Olho de Tigre”, que sempre encerra os shows de Djonga, mas, no geral, foi um show para o mês dos namorados, já que em “Leal”, Djonga chamou diferentes casais do público para o palco, celebrando o amor e a diversidade.
Depois, Luccas Carlos apareceu de surpresa e o público pediu muito por “Planos”, parceria entre ele e BK, que teve de ser cantada a capella.
Um show com participação ativa do público faz toda a diferença na experiência total e isso ficou muito claro ao compararmos os shows de Djonga e Natiruts – outro grande nome da música nacional que fechou o palco Deezer com uma apresentação lindíssima, sensível e divertida, colocando todo mundo pra cantar hits da banda como “Natiruts reggae power” e “Quero ser feliz também” e “Liberdade pra dentro da cabeça” – com os shows finais do palco Centro: Flume e Lana Del Rey.
O DJ australiano Flume empolgou parte do público, mas não fez nenhuma apresentação muito memorável. Ao contrário do padrão de shows de música eletrônica, o DJ contou com os vocais de Vera Blue em algumas músicas, mas, ainda assim, para um público interessado em Lana del Rey, o ponto alto do show foi quando Flume tocou seu remix de “Tennis Court”, da cantora Lorde.
Enfim, às 20h30, a ansiedade do público era enorme, já que Lana deveria entrar no palco naquela hora. Porém, Lana começou o show 40 minutos depois, para uma plateia dividida entre os muito apaixonados e emocionados e os muito cansados. Uma outra parte do público até tinha disposição, mas nem tanto para cantar junto ou simplesmente prestar atenção em Lana, focando em conversas aleatórias, fotos na pista premium e idas ao bar.
O show de Lana não é ruim, apesar de muitas pessoas reclamarem da diferença entre a Lana animada que se apresentou uma semana antes no Rio de Janeiro, para uma Lana mais séria e nervosa em São Paulo.
Com um setlist que permeou seus maiores sucessos, Lana entregou o que uma diva pop promete: trocas de look, emoção e dançarinas, além de criar toda uma atmosfera teatral em seu show. Sua voz é impecável e a cantora prova que, apesar de todos esses elementos no palco, o que faz seu show ser especial é a sua presença e a emoção que transmite nas músicas.
Além disso, a cantora que escolheu o Brasil como país de seu “comeback” aos palcos, não poupou elogios aos fãs brasileiros, descendo para cumprimentar os fãs na grade em determinado momento, inclusive.
Ainda assim, seja por seu atraso, seu nervosismo ou pela falta de empolgação do público, a headliner não foi o destaque do dia, deixando este posto para nomes nacionais, especialmente Djonga, BK e Natiruts.
Fotos dos shows por: Ariel Martini e Bruno Okawagoe/ cedidas pela assessoria