Se você foi ou é um jovem alternativo que não passa(va) um dia sem ouvir The Strokes, Interpol, Yeah Yeah Yeahs e LCD Soundsytem, não pode deixar de assistir Meet Me in the Bathroom (sim, o mesmo nome daquela música do Room On Fire sobre o relacionamento do vocalista Julian Casablancas com Courtney Love, que inclusive aparece no longa).
O documentário apresenta uma série de gravações inéditas, áudios e entrevistas das bandas que conquistaram os nossos corações na década passada.
A ideia do filme surgiu a partir do livro Meet Me in the Bathroom: Rebirth and Rock and Roll in New York City 2001–2011, da jornalista musical Lizzy Goodman, que retrata em mais de 600 páginas o renascimento da cena rock de Nova York, revisitando acontecimentos históricos como o “Bug do Milênio”, os ataques do 11 de setembro, além da gentrificação do bairro do Brooklyn. O filme se limita a um período menor, abrangendo as bandas que surgiram entre 1999-2004.
I just wanted to be one of The Strokes
Garotos com ótimas aparências, ternos e calças jeans, all star, cerveja na mão, em conjunto com riffs sujos e barulhentos. O The Strokes era formado por cinco jovens ricos de Manhattan, que se tornaram a cara da cena independente. Para a mídia, eram os salvadores do rock, e com o lançamento de seu primeiro disco, muitos viam uma similaridade com o Velvet Underground de Lou Reed.
Julian Casablancas conheceu Albert Hammond Jr. em um internato suíço, após encontros e desencontros, se juntaram a Nick Valensi, Nikolai Fraiture e o brasileiro Fabrizio Moretti, que até hoje estão na banda.
O documentário não deixa de fora manchetes sobre os integrantes do Strokes nascerem em berço de ouro, os chamados “nepo babies”, quando esse termo ainda não era usado, pelos membros terem pais dentro do Show Business – Julian, por exemplo, é filho do empresário John Casablancas, fundador das agências Elite Model, conhecido por revelar várias modelos de fama internacional.
“Se eu ouvisse falar de uma banda como nós, pensaria que eles eram uns babacas”
ironiza Julian Casablancas, depois de perguntado sobre a forma como os Strokes eram descritos pela imprensa.
O longa também apresenta outras vertentes da banda: o sucesso repentino que mudou para sempre a vida dos integrantes e a forma como lidavam.
O foco se mantém a maioria do tempo no misterioso e perfeccionista Julian, que sempre teve aversão à fama. A vida de festeiros e o vício em drogas de Albert Hammond são citados, o cantor-compositor Ryan Adams que andava no mesmo círculo social dos músicos, acaba sendo apontado como um “vilão” no documentário, por possivelmente ter influenciado o amigo Hammond a consumir heroína na época.
O que mais podemos ver em Meet me in the Bathroom
A ascensão mais orgânica do Interpol
O Interpol financiou por conta própria os seus primeiros EPs e a infeliz primeira turnê pela Inglaterra, com shows vazios. O grupo liderado por Paul Banks, que tem como característica voz soturna inconfundível, foi formado em Nova York, em 1997, mas só conseguiu lançar seu álbum de estreia em 2002. O aclamado pela crítica ‘Turn on the Bright Lights’ conta com as músicas: “Obstacle 1”, “Leif Erikson” e “Stella Was a Diver and She Always Down”.
Porém, o sucesso mundial só veio após o lançamento do segundo disco ‘Antics’ em 2004, de onde saíram os primeiros hits do Interpol ,”Evil” e “Slow Hands”. É nostálgico ver algumas gravações com a participação de Carlos Dengler, irreverente baixista do Interpol, que saiu da banda em 2010 e muitos fãs ainda sentem saudade.
A tempestuosa Karen O do Yeah Yeah Yeahs
Meet Me in the Bathroom também mostra como Karen O é autêntica. A voz do Yeah Yeah Yeahs era uma tímida garota que se transformava no palco em uma vocalista feroz de maquiagens excêntricas. Em suas performances, ela se arremessava para uma plateia apaixonada.
Entretanto, por trás de toda aquela impetuosidade, Karen era solitária e se queixava pela misoginia e racismo que vivia no mundo do rock dominado por homens brancos.
A compositora e produtora musical coreano-americana tornou-se uma forte referência para outras cantoras com a pegada underground.
Breves aparições de outras bandas e a gentrificação do Brooklyn
O filme-documentário ainda cita outras bandas que fizeram parte da cena, como a peculiar dupla Adam Green e Kimya Dawson, do The Moldy Peaches, que abrem o longa e narram a sua participação na primeira turnê dos Strokes pelo Reino Unido.
TV on the Radio tem uma breve aparição contando como a gentrificação do Brooklyn foi entrelaçada ao movimento indie, quando as bandas tiveram que deixar a Lower East Side e migrar para Williamsburg, que naquele momento oferecia alugueis mais baratos. E a dupla Will Lovelace e Dylan Southern, que são conhecidos por fazer outro documentário: Shut Up And Play The Hits, o famoso show de despedida da banda nova-iorquina LCD Soundsystem no Madison Square Garden.
Aliás, James Murphy é um dos personagens de Meet in the Bathroom, o frontman do LCD Soundsystem e cofundador do selo DFA Records, dos grupos The Rapture, Black Dice e tantos outros, é mostrado como um músico acanhado, mas genial, que tem dificuldade em socializar e finalmente encontra o seu lugar entre o dance e indie.
O que achamos do filme
Apesar de ser extremamente nostálgico para os apreciadores da cena, o filme possui um problema no uso da narração, muitas vezes não deixando claro quem está falando, fazendo com que o documentário fique desconexo em algumas sequências. Uma mudança interessante seria transformar Meet Me in the Bathroom em uma série documental, com cada episódio focado em uma banda diferente, pois um material tão rico merecia uma perspectiva mais centrada.
A cena alternativa de NY ainda tem muito a ser explorada, mas é reconfortante ver rostos tão jovens, o nascer de algo, que apesar dos artistas não terem ideia na época, moldaria a história da musica e o estilo de vida de uma geração.
Quando chegamos ao final do documentário, ficamos nostálgicos assim como Karen O “lamentando a dispersão da cena” e saudosistas de como tudo que aconteceu “in many ways, they’ll miss the good old days, someday, someday”.
Onde assistir?
Meet Me in the Bathroom está disponível na Apple TV, a partir de R$14,90.