As bandas Def Leppard e Mötley Crüe estão com a turnê conjunta “The World Tour” que contemplou países da América do Sul. Aqui no Brasil, o show aconteceu na última terça-feira (07) no Allianz Parque, em São Paulo.
Edu Falaschi foi pouco favorecido pelo horário do show
Como artista convidado, Edu Falaschi foi o responsável por fazer o show de abertura da turnê do Def Leppard e Mötley Crue. É bem verdade que, apesar de ser um ícone do power metal, o cantor, compositor e produtor brasileiro parecia não ser a melhor escolha para iniciar a noite de shows.
O horário pode ter sido o grande vilão – convenhamos, 18:15 em plena terça-feira é pedir para ter pouco público. Apesar disso, o show – que teve a duração reduzida – foi muito bem executado por Falaschi e sua banda, formada por Roberto Barros e Diogo Mafra (nas guitarras), Raphael Dafras (baixo), Jean Gardinalli (bateria), Fabio Laguna (teclados) e Raissa Ramos e Fabio Caldeira nos backing vocals.
Mötley Crüe e a nostalgia do Glam Metal oitentista
Em 2015, o Crüe fez um show de despedida no Rock in Rio que não foi dos melhores – tudo estava meio abaixo do esperado. Com isso, as expectativas para esse show de 2023 não eram as maiores em questões técnicas, mas ainda assim era grandes porque sempre tem aquela nostalgia, né?
O show estava previsto para 19:30, e pouco antes do horário ainda era perceptível muitos lugares vazios nas arquibancadas que, mesmo com o espaço do show reduzido (a estrutura ocupava apenas metade do estádio), não chegaram a lotar. Mesmo assim, a receptividade dos fãs foi boa quando Vince Neil (voz), Nikki Sixx (baixo), Tommy Lee (bateria) e John 5 (guitarra) subiram ao palco ao som de “Wild Side” do álbum Girls, girls, girls (1987). Mas foi com “Shout at the Devil“, do homônimo de 1983, que o público começou a cantar.
A dinâmica do Crüe funcionou bem no palco: Nikki Sixx é a alma da banda e, quando ele se comunica com os fãs, tudo parece muito natural e direcionado, quase como se a gente não soubesse que metade das falas são reutilizadas em outros lugares – e a gente não se importa porque a gente gosta mesmo assim. Em um momento muito legal, Sixx chamou uma fã para subir ao palco e agradecer. É por causa dos fãs que eles chegaram onde estão.
Já John 5, que substitui Mick Mars devido a questões de saúde do guitarrista original, é a figura bizarra da banda, no melhor dos sentidos. Ele vai de um lado ao outro do palco e da passarela, fazendo caras, bocas e baba, além de ser um exímio guitarrista.
Tommy Lee, amado e odiado na mesma intensidade, sabe como entreter os fãs que ainda se caracterizam como a banda em seus tempos áureos – ele é o que restou da atmosfera de tesão que a banda exalava nos anos 80. Quando desceu da bateria para falar com o público, brincou dizendo que gostaria de morar aqui porque é o lugar com as “tatas” (seios) mais bonitas e aproveitou para pedir que as mulheres subissem aos ombros dos rapazes para mostrar os seios – algumas pessoas o fizeram.
Neil é um pouco menos carismático e embora não tenha mais capacidade vocal há muitos anos, a presença dele funciona para equilibrar todas as outras personalidades fortes da banda e também trazer um peso emocional e nostálgico.
“Too Fast for Love“, “Live Wire” e “Looks That Kill” foram as mais celebradas pelo público na primeira parte do show. “Home Sweet Home” foi o ponto alto da noite, aquele momento da galera cantando enquanto coloca as lanternas de celulares para o alto – não precisa negar, a gente sabe que todo mundo gosta disso.
A partir daí, o show foi se encaminhando para o final com os clássicos “Dr. Feelgood“, “Salme Ol’ Situation“, “Girls, Girls, Girls“, “Primal Scream” e “Kickstart My Heart“, que finalizou o show com muita energia, mas com a sensação de que foi um show muito curto.
Def Leppard dá aula de rock
Após o show do Mötley Crüe, muitas pessoas se dispersaram, saíram para beber água, ir ao banheiro ou até mesmo ir embora, o que trouxe uma sensação de que o show do Def Leppard teria uma adesão ainda menos intensa do que a do Crüe.
O Def Leppard, formado por Joe Elliott (vocais), Phil Collen (guitarra), Vivian Campbell (guitarra), Rick Savage (baixo) e Rick Allen (bateria) subiu ao palco pontualmente assim que a contagem regressiva mostrada em telão terminou. A música escolhida para abrir a setlist foi “Take What You Want“, do trabalho mais recente Diamond Star Halos (2022).
Já de início, era bem perceptível a diferença vocal entre Joe Elliott (Leppard) e Vince Neil (Crüe). O britânico Elliot está com tudo em cima dentro do possível para a idade (63) e aquilo animou ainda mais – quando uma banda soa incrível ao vivo, a gente sabe que o show valeu a pena.
“Let’s Get Rocked“, “Animal” “Foolin‘” e “Armageddon It“, sucessos dos álbuns Adrenalize (1992), Hysteria (1987) e Pyromania (1983) colocaram o nível lá no alto com a dinâmica entre os membros da banda, mas não chegaram a levantar tanto o público. A banda, então, pediu licença para tocar mais uma de seu novo álbum, a enérgica “Kick” que chegou a empolgar bastante.
A baladinha “Love Bites” veio literalmente como música para os ouvidos – a potência dela ao vivo é surreal. Na minha opinião, o Def Leppard tem duas das baladinhas mais bem feitas dos anos 80, uma é “Love Bites” e a outra eu falo já já. “Promises“, que veio em seguida, é uma música que destoa um pouco das demais, é mais chatinha.
Em um momento acústico, “This Guitar” mostrou que funciona bem em shows de estádio, fora que evidencia ainda mais o equilíbrio nos vocais de Elliot. E o momento romântico seguiu com “When Love and Hate Collide“. “Rocket” foi mais pro lado da música de transição antes da muito bem-recebida “Bringin’ On the Heartbreak“.
Para descansar um pouco os vocais, foi a hora de Phill Collen e Rick Allen tocarem “Switch 625“. Não é a primeira vez que vejo um show do Leppard, mas a sensação de ver Rick Allen quebrando tudo com um braço só sempre me arrepia! Phill Collen também tem uma presença absurda – ok que metade do tempo ele passa mandando beijos para as mulheres da grade.
Faltou empolgação do público no show de hits
“Hysteria“, uma das melhores baladas dos anos 80 que citei acima, foi o sinal de que o show se encaminhava para o final e que viria uma surra de hits. Essa seria a hora do público ir à loucura, mas não foi bem assim que aconteceu. O hit mais aguardado da noite “Pour Some Sugar On Me” veio arrebatador e até deve muita participação do público, mas quase deu para pensar que a galera tinha ficado até aquele horário só pra ouvir essa música.
A certeza disso veio com “Rock of Ages“, uma das músicas mais icônicas e enérgicas da banda, foi recebida com pouca empolgação. Joe Elliot chegou a pedir e fazer sinal para a galera gritar e cantar junto, mas o pedido mal foi atendido – ele literalmente cruzou os braços e deu de ombros ao ver que o público não reagiu com energia o suficiente.
Esse foi o momento em que eu me entristeci e pensei que talvez essa tenha sido a última vez em que os caras vêm pra cá. Eles chegaram a agradecer e disseram que voltariam, mas eu não acreditei muito, não – convenhamos, metade da capacidade do estádio, ainda assim com muitos lugares vazios e o público meio mortão.
Isso me levantou muitas questões porque nos últimos shows que cobri, de estilos musicais diferentes, a galera se entregou à experiência completa do show – por que aqui tinha de ser diferente?
Mais um sucesso da banda, “Photograph“, foi a música responsável por finalizar essa que foi uma aula de rock ‘n’ roll que merecia ter mais reconhecimento.
Confira a Setlist do Def Leppard no Allianz Parque
- Take What You Want
- Let’s Get Rocked
- Animal
- Foolin’
- Armageddon It
- Kick
- Love Bites
- Promises
- This Guitar
- When Love and Hate Collide
- Rocket
- Bringin’ On the Heartbreak
- Switch 625
- Hysteria
- Pour Some Sugar on Me
- Rock of Ages
- Photograph
Confira a Setlist do Mötley Crüe no Allianz Parque
- Wild Side
- Shout at the Devil
- Too Fast for Love
- Don’t Go Away Mad (Just Go Away)
- Saints of Los Angeles
- Live Wire
- Looks That Kill
- The Dirt (Est. 1981)
- Guitar Solo
- Mashup: Rock and Roll, Part 2 / Smokin’ in the Boys Room / Helter Skelter / Anarchy in the U.K. / Blitzkrieg Bop
- Home Sweet Home
- Dr. Feelgood
- Same Ol’ Situation (S.O.S.)
- Girls, Girls, Girls
- Primal Scream
- Kickstart My Heart
1 thought on “Def Leppard e Mötley Crüe fizeram ótimos shows para um público pouco interessado”