Na sexta-feira, 09/09, a casa de shows Espaço Unimed, em São Paulo, estava cheia. Um público entre jovens adultos, pessoas de quarenta e poucos anos, adolescentes e pré-adolescentes com seus pais, todo mundo de preto, como um bom show de rock acaba sendo. Todos para ver a banda do momento: Måneskin.
Um pouco antes das 22h, os primeiros acordes feitos pelos roadies da banda já fizeram a galera ir à loucura, pedindo pela banda em coro enquanto algumas pessoas comentavam sobre a beleza dos integrantes do quarteto.
O Måneskin entrou no palco às 22h14, fazendo uma espécie de magia e colocando todo mundo para pular. E foi a energia da primeira música, “Zitti e Buoni”, que deu o tom da loucura que seria o resto da noite.
De viral das redes sociais para o mainstream do Rock ‘N Roll
O Måneskin é uma banda italiana que surgiu em 2016 e, acredite se quiser, ganharam fama depois a participação na 11.ª edição do Factor X, o que levou a um contrato com a Sony Music e deu origem ao 1.º álbum da banda, lançado em 2018.
No começo de 2021, a banda virou hit no TikTok e no Instagram pelo visual dos integrantes, principalmente do vocalista Damiano, mas, além disso, as faixas “Zitti e Buoni”, “I Wanna Be Your Slave”, “Torna a Casa” e o cover da música de 1967 “Beggin”, da banda The Four Seasons, também tiveram um papel fundamental para o Måneskin se tornar viral.
Apesar de algumas críticas sobre a pose glam, para alguns, “exagerada” da banda, o Måneskin vem provando que, com o perdão do clichê, o rock não morreu para a geração Z. Isso porque seus integrantes, Damiano David, vocalista, Victoria De Angelis, baixista, Ethan Torchio, baterista, e Thomas Raggi, guitarra, não passam dos 23 anos — como boa parte do seu público.
Uma noite que vibrou o chão
Depois de “Zitti e Buoni”, o Maneskin seguiu a noite paulistana com “In Nome Del Padre” enlouquecendo cada vez mais sua audiência.
Vestido com um cropped de renda e calça de cowboy, o vocalista Damiano dominou o público como um verdadeiro rock star. Ele manda e o público obedece, mas essa relação não é unilateral. Depois de falar alguns palavrões em português na noite anterior, em sua apresentação no Rock in Rio, o público pediu e Damiano também obedeceu, soltando um divertido “Vamos, c******o, p***a”.
Enquanto o vocalista canta de um lado para o outro, o guitarrista mais tímido, Thomas, também usa todo o palco.
O quarteto interage muito bem entre si, entre reboladas e diversas idas ao público, a baixista Victoria interage com Thomas, Dammien e Ethan, também indo para lá e pra cá, com a vitalidade e molejo de uma estrela do rock glam clássica.
Depois da 3ª música, “Mammanian”, Damiano desabafa “Essa é a plateia mais barulhenta que já vimos. Nunca aconteceu de eu nunca ouvir a minha própria voz, mas eu me ouço o tempo todo e não dou a mínima pra mim, então continuem cantando alto”.
Em seguida, “La Paura Del Buio” começou, e a letra em italiano não impediu a galera de gritar cada palavra, uma dedicação incrível que só o público brasileiro é capaz de dar para uma banda.
Ainda embasbacado pela energia dos fãs, o vocalista solta, rindo, “Devemos fazer uma pausa para vocês descansarem? Vocês cantam melhor do que eu!”.
Quando o quarteto começou o hit cover “Beggin”, Victoria desceu do palco e foi para a grade sem medo de ser feliz. Em seguida, a balada “Coraline” falhou miseravelmente em baixar a energia da galera e serviu para destacar a voz rouca, potente e característica de Damiano.
“Alguém precisa de ajuda? Estão todos bem? Querem água?”, perguntou o vocalista. “Essa aqui é a água do palco, não posso dar porque é abençoada por Deus”, brinca.
Entre o rosto de paisagem de alguns pais acompanhando seus filhos diante de reboladas e um figurino revelador, o Måneskin seguiu a noite com um som alto e fazendo todo mundo dançar e pular, desde quem estava grudado na grade até as pessoas na porta de saída, no fundo da casa.
Já uma parte mais velha do público, estivesse ou não ali acompanhando seus filhos, assistiu o show, mesmo que de longe, com um sorriso adolescente na cara.
A raridade de presenciar o auge de uma banda
No meio do show, quando Damiano pergunta outra palavra em português que seria legal aprender, além dos palavrões, o público protesta tanto contra o atual presidente do Brasil que não teve jeito, o vocalista teve que soltar um “Fora, Bolsonaro” também. “Estamos nos divertindo muito, obrigado!” disse em seguida.
E realmente todo mundo estava se divertindo ali. Afinal, não é todo dia que se vê uma banda de rock no seu auge, em plena juventude, ainda mais fazendo um show no Brasil, país conhecido pela sua energia.
Testemunhar a sincera felicidade da banda em se deparar com o, até então, mais divertido e dedicado público da sua iniciante carreira, é algo verdadeiramente mágico.
Um bis de verdade
Já pelo começo do fim do show, depois do hit “I Wanna Be Your Slave” , Måneskin começa o cover de The Stooges “I Wanna Be Your Dog”. Foi quando Victoria pulou a grade e foi tocar baixo no meio da galera, entre empurrões, gritos e mãos tentando tocar qualquer parte que fosse do seu corpo. Vocal, guitarra, baixo e bateria altos e vibrantes se misturam com suor em uma atmosfera intensa e divertidamente maluca.
Repetindo o que foi feito no Rock in Rio, chegou a hora de escolher os fãs que iriam subir no palco para dançar “Livid Sui Gomiti”. Depois, as luzes se apagaram, mas os fãs continuaram esperançosos e deveras, porque o quarteto retornou para cantar “Le parole lontane” e fazer um bis de verdade, tocando “I Wanna Be Your Slave” de novo.
Tem quem ache que as bandas e público do rock clássico estão cansados. Seja verdade ou não, Måneskin está aí para exorcizar os demônios dos mais jovens e ressuscitar os millenials e boomers fãs do Rock ‘N Roll.
Dá para uma banda inteira ser sexy? Dá sim, mas nesse show em São Paulo, Måneskin mostrou que é mais que isso. E assim como da minha, mas como da parte de muita gente, estaremos atentos assistindo a banda e torcendo para que seu brilho não apague.