Terminal Guadalupe, banda formada por Allan Yokohama, Dary Esteves Jr., Fabiano Ferronato e Marcelo Caldas, lançou nesta semana seu primeiro disco em 15 anos: Agora e Sempre, pela Loop Discos.
O álbum, que já está disponível em todas as plataformas digitais, foi lançado no dia 5 de setembro, data que marca o 53º aniversário do Ato Institucional nº 13, o AI-13, mecanismo pelo qual a ditadura militar brasileira endureceu o regime e passou a expulsar “legalmente” qualquer cidadão tido como “inconveniente”.
Coincidência ou não, Agora e Sempre é um retrato em branco e preto do Brasil de hoje, que nunca esteve tão perto de seu passado sombrio: é um álbum denso e melancólico, mas com um fio de esperança, rimando resiliência com resistência.
Sobre bases de cúmbia, flamenco, rock, lo-fi e pop estão as letras de Agora e Sempre, que resgatam um discurso histórico de Ulysses Guimarães: “Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América Latina”.
Com músicas em inglês, português, italiano e espanhol, Terminal Guadalupe não inovou neste álbum apenas na sonoridade, com músicas bem diferentes umas das outras, parecendo, inclusive, que estamos ouvindo grupos diferentes em um único álbum, mas também por, agora, ser uma banda espalhada pelo mundo.
A meio mundo de distância, os integrantes do Terminal Guadalupe juntaram sons sintéticos com timbres acústicos processados, em mergulho nas águas profundas da música eletrônica dos anos 1970, com subidas pontuais à superfície das paradas das playlists atuais, onde o ar fresco deu um banho de loja no som da banda.
Em Portugal, o paulistano Allan Yokohama (guitarra, violão, programações e voz) esculpia os arranjos, entre ritmos latinos, batidas programadas e violões distorcidos. Na Alemanha, o curitibano Fabiano Ferronato (bateria) criava as fundações das músicas novas, com vigor, pulsação e silêncios. No Brasil, o pantaneiro Dary Esteves Jr. (voz) modulava o discurso sem renunciar a canções.
O grupo (de WhatsApp, inicialmente) só ficou completo com a chegada do carioca Marcelo Caldas (baixo), da banda portuguesa The Invisible Age. Ele era velho conhecido da estrada: foi integrante do grupo glam Cabaret, que dividiu palcos com o Terminal Guadalupe em 2006 e 2007. Foi Marcelo quem também trouxe o produtor Iuri Freiberger.
Baterista da cultuada banda Tom Bloch, Freiberger lapidou álbuns de artistas novos e experientes, de Selvagens à Procura de Lei a Frank Jorge e Kassin. Ele e Yokohama dividiram a produção de Agora e Sempre, entre incontáveis trocas de mensagens e áudios e algumas poucas idas a Lisboa, onde bateria, baixo, guitarras, violões, sintetizadores e a voz de Allan foram gravados. Dary registrou sua voz em Curitiba.
O álbum também conta com participações especiais: em “Ahora Y Siempre”, o convidado é o cantor e compositor uruguaio Dany López; em “Privè”, a participação foi do cantor e compositor carioca Franco Cava; Rodrigo Lemos é quem toca teclado em “A Flor de Drummond” e “¿Qué Pasa, Cabrón?”; e Iuri Freiberger participa na percussão digital e intervenções sonoras durante o disco.
“As músicas transitam por universos diferentes, mas sempre chamam as coisas pelo nome, com a crueza de sentimentos que a realidade impõe. Isso torna o disco muito pesado ao mesmo tempo em que deixa claro: desistir não é uma opção. Buscamos forças. E recorremos a ironia, crítica e esperança para equilibrar as emoções”, teoriza Dary.
Ouça o disco em sua plataforma favorita e siga a Terminal Guadalupe no Instagram.