
Pepe Bueno & Os Estranhos (Créditos: Duane Cartaxo)
A banda Pepe Bueno & Os Estranhos, idealizada pelo baixista e compositor Pepe Bueno, conhecido pelo trabalho no Tomada, lançou recentemente o terceiro álbum de sua carreira, ‘Confissões e Outros Blues’, tendo, inclusive, um show de lançamento realizado no dia 21 de março no Sesc Belenzinho.
Aproveitando esse momento de novidades da banda, a gente trocou uma ideia com o líder do grupo, Pepe Bueno, sobre
Entrevista – Pepe Bueno
Musicult: Seus primeiros álbuns, “Nariz de porco não é tomada” e “Eu, o Estranho”, mostram uma personalidade forte, que se mantém em seu novo trabalho. Você ousa misturar ritmos e sonoridades desde então. Como você vê o papel da experimentação na sua carreira?
Pepe: Somos frutos de experimentos e precisamos ser livres para que isso aconteça. Quando mais jovens acreditamos na experiência sem ter experimentado, com o tempo escolhemos a experiência que vamos fazer e isso reflete na música.
Você iniciou sua carreira com a banda Tomada, conhecida pela energia e autenticidade no rock. Que aprendizados dessa fase você trouxe para os projetos atuais?
Pepe: Foram anos com o Tomada, e eu amei todos eles. Aprendi a compor e escrever melhor, aprendi como é ter uma banda na estrada, como é conviver com parceiros de som, aprendi que cada palco tem uma história, conheci muita gente, tocamos para milhares e para 10 pessoas, complementando a resposta anterior, foi o começo da minha experiência sonora.
O que motivou a criação da banda Pepe Bueno & Os Estranhos? Qual foi a proposta sonora e artística que você queria explorar com esse novo grupo? E como foi o processo de composição e gravação do novo disco?
Pepe: Em 2014, gravei o disco “Eu, o estranho” junto ao Juninho e o Alberto (que estão na banda desde então) e quando lancei o disco no Sesc Belenzinho resolvi montar uma banda para tocar comigo. Desde então surgiu Os Estranhos, hoje em dia cada um traz ideias, composições e somos grandes amigos, uma família de louco, que amo. A gravação foi no estúdio Orra Meu em São Paulo e estávamos com a maior parte da banda juntos, o que deixou a sonoridade mais orgânica, e isso me deixou muito feliz.
Quais artistas ou movimentos musicais mais influenciaram Pepe Bueno e Os Estranhos, tanto no rock quanto no blues e na música em geral?
Pepe: Eu amo música, hoje em dia sou muito mais eclético, ouço Elis Regina até Sepultura, Clube da Esquina até André Prando, sou uma panela do diabo cheia de tempero e isso anda me fascinando. A ideia é continuar amplo para a boa música, sem se importar com o modismo, mas se chegar uma moda maneira, eu entro nela também.
A cena musical brasileira está sempre se transformando. Como você enxerga o espaço para bandas do underground hoje em dia? Que desafios você enxerga?
Pepe: Diferente de quando eu comecei, lá nos anos 2000. Ela sempre muda, é interessante e mais verdadeira que o mainstream. Os desafios são muitos, sendo o principal é se manter financeiramente, porque é fundamental para arte ser remunerada, pois gastamos tempo compondo, imaginando, tocando, criando as sensações sonoras… não somos apenas vagabundos: ralamos a beça e o tempo é um bem real e que precisamos sempre valorizar.
Agora com Confissões e Outros Blues, você mergulha de cabeça no blues. Por que esse gênero te atrai tanto nesse momento da sua trajetória?
Pepe: Eu amo blues, ele sempre esteve comigo e nos meus projetos. No Tomada, sempre tinha uma música de Blues nos álbuns, mas não é o blues que a galera do algodão fazia. Sou nascido em Santos e crescido em São Paulo, minha realidade é outra, não quero emular os sons que os mestres fizeram e sim interpretá-lo da minha forma, com as minhas experiências, ouço muito o estilo e sei e respeito a história, por isso me sinto mais confortável de fazer o “meu” blues, sem ser fidedigno. Os estranhos estão com um show de Blues BR que tocamos de Tim Maia a Alceu, passando pelas nossas bandas como Blue Jeans, Blues Etílicos e André Christovam, é um show que adoro fazer, tudo em “Brasileiro”.
O lançamento do novo álbum, no SESC, reuniu pessoas de várias faixas etárias, desde jovens de 20 e poucos anos, até veteranos do rock. Como você se sente com o feito raro de atingir tantas camadas distintas de público?
Pepe: Acho o máximo. Vivo também de pequenos sucessos e isso me realiza. Quero colocar esse show mais no palco, e já estamos fechando umas datas em SC e interior de SP, e aqui na capital sempre tocamos. Venham!!

Tem algo de muito forte em ouvir “If I Lose”, sabendo que ela carrega a participação de Diego Basanelli antes de sua trágica partida. Você sente que essa música virou também uma forma de homenagem? Como ela dialoga com o espírito do disco como um todo?
Pepe: Sim. Basa foi um cara que junto do Moko e Caíque inventaram o Clandestino Estúdio, um lugar mágico banhado em música, lá tinha toda a nata que faz e fez o som na capital e lá foi onde viramos amigos de verdade. A música é uma parceria minha com o Mário Bortolotto e ele trouxe uma parte da letra em inglês, eu pensei caraca, Mario não sabe nem falar “oi” em inglês, preciso de alguém que tenha haver com o som e fale bem a língua, dai veio logo o nome do Basa. Foi um momento bonito quando ele veio em casa e disse, “nunca pensei que seria um estranho”, respondi “pô, você não tem espelho em casa”, foi uma tarde/ noite muito legal.
Você recebeu artistas incríveis como Thunderbird, Paulão de Carvalho, Fabio Brum, Paulo Resende, Fabio Pagotto e Mário Bortolotto para o show e tem no currículo uma série de colaborações com vários músicos ao longo dos anos. Tem alguma parceria que foi especialmente marcante para você?
Pepe: Poxa, são meus pequenos sucessos, que são enormes dentro do meu coração, respeito muito todos eles, e no palco deu pra perceber que a junção é a música. Eu gosto de todas as minhas parcerias, porque cada uma traz uma história, melodia e som. Na pandemia, fiz uma que especialmente me deixa muito feliz que a música “Caipira Pira” que está no disco “Bagunça”(2022), quando acabei de fazer a música instrumental faltava a letra e falei, putz e agora? Foi aí que surgiu a ideia de falar com Cezar de Mercês (O Terço) que fez uma letra linda, dai pensei, po, vamos terminar a história com ele cantando, foi maravilhoso, no meio da sombra da pandemia a música nos trouxe a luz.
Existe alguma mulher com a qual você gostaria de colaborar num trabalho futuro?
Pepe: Sim, várias, tenho em mente fazer “As Minas & Os Estranhos”, espero conseguir concretizar o projeto. No show de lançamento do nosso último disco, estava presente a Lucinha Turnbull, fiquei emocionado, às vezes é um sinal, né?
O que podemos esperar de Pepe Bueno & Os Estranhos daqui pra frente? Já há novos projetos no horizonte?
Pepe: Quero tocar o disco e fazer o máximo de shows que conseguir, e quem sabe terminar esse ciclo com um disco ao vivo voltado ao Blues BR, nos moldes de liberdade e experimentos, com a cara dos Estranhos, cheio de gente no palco e cheio de verdade no coração
Pepe, muito obrigado por responder estas perguntas, foi um prazer me aprofundar na sua carreira para lhe fazer cada uma delas. Confissões e Outros Blues é um disco para ouvir com atenção, com o coração aberto, e eu não vejo a hora de prestigiar seu trabalho ao vivo.
Pepe: Será super bem-vinda, como todos. O nosso mundo estranho é aberto a todos, venham do jeito que quiserem, com a roupa que quiser, com as ideias que quiser, vamos experimentar juntos, muito obrigado pelo papo, foi ótimo.
Por: Vanessa Souza, redatora