
Yma (Créditos: Mariana Luiza/Musicult)
A Feira Gato aconteceu no último dia 6, quando comemorou seu aniversário de dois anos num frio domingo de abril. E, mesmo com a temperatura pouco convidativa da cidade, o público compareceu em peso na Casa Rockambole, estreitando os ambientes e provocando algumas filas às 15h.
>>Relembre outra edição deste evento
Nesse horário, já era possível ver a diversidade de expressões, artes, estilos e gerações dividindo o espaço, transitando principalmente entre o bar da casa e os expositores.

As atrações da Feira Gato de aniversário
Ghast Chloe
Também às 15h aconteceu o primeiro show do evento, feito pela carismática Ghast Chloe. A cantora e produtora musical entregou uma performance interessante e de qualidade com seu hyperpop, passando por faixas mais conhecidas, como “Só beijo garotos esquisitos!” e “Travequeiro do caralho!”, e outras recentes, como “CATWALK” e “Dress To Impress”.
No entanto, a artista enfrentou uma das dificuldades típicas de apresentações que acontecem tão cedo (ainda mais em um domingo): o público um pouco retraído, ainda que próximo ao palco. Contudo, isso nada depõe contra o talento da cantora, que se mostrou, mais uma vez, capaz de criar um ambiente musical atraente e divertido, composto pela estética anos 2000 e temas da vivência trans.
Finis Hominis
Pouco tempo depois, foi perceptível o crescente público caminhando entre expositores e oficinas, deixando corredores ainda mais apertados. Mas, quando o trio de sludge metal Finis Hominis subiu no palco, viu poucas pessoas diante de si. Na disputa incidental entre artes visuais, moda e música, a música, até então, perdia.
Apesar disso, João Paulo (bateria), Mega (baixo e voz) e Vitu (guitarra e voz) realizaram sua performance de forma impecável, trazendo a brutalidade de sua combinação musical, que mistura death metal, crust punk e stoner rock. E abordaram seus temas políticos de forma igualmente agressiva, como com a faixa “Nem Os Mortos São Neutros”.

Conversa e reflexões com Alexandre Giglio (Minuto Indie)
Infelizmente, depois de dois ótimos shows, um inconveniente: a palestra de Alexandre Giglio, fundador do portal Minuto Indie, que seria dada durante o evento, não aconteceu. Em razão de o local escolhido para a palestra ser muito próximo ao burburinho da feira de artes, com tantas pessoas passando, falando, e pouco espaço para comportar tudo isso, a palestra acabou cancelada.
E, então, pela impossibilidade de a palestra acontecer, Alexandre conversou com o jornalista que escreve agora esta cobertura, revelando brevemente qual era o material que havia preparado, e que seria realmente muito valioso para muitos dos presentes na Feira.
O bate-papo passaria pela história de formação do Minuto Indie e pontos necessários para se pensar uma marca, como estudo de mercado e métricas, criação de nome e logo, gestão de redes sociais e de pessoas, análise de nichos e “subnichos” de cada plataforma, entre outros tópicos.
Em resumo, Ale daria um excelente e bem-embasado panorama sobre empreendedorismo e sobre sua trajetória de aprendizagem que, como o próprio disse, aconteceu “na raça”, em um momento da história anterior aos relatórios de métricas que as redes sociais oferecem hoje, e anterior também às muitas referências de portais de música que existem agora.
Assim, a conversa resultante de uma palestra que não foi viável, e o ambiente lotado ao redor, acabaram por apontar em direção a uma mesma hipótese: talvez hoje a Feira Gato, que comemora dois anos bem-sucedidos de vida, tenha adquirido um porte que excede os limites estruturais da bela e agradável Casa Rockambole, e quem sabe peça por um local de realização mais amplo, para continuar sendo o que é: um polo cultural de inegável relevância na cena alternativa de São Paulo.

Maré Tardia
De todo modo, o evento seguiu, e a enérgica banda Maré Tardia — Bruno Lozorio (guitarra e voz), Gustavo Lacerda (guitarra e voz), Caio Mendonça (bateria) e Matheus Canni (baixo) — tomou o palco, conseguindo cativar mais pessoas e preencher um pouco mais o espaço reservado à plateia, e fez também com que o público se movimentasse mais e dançasse ao som de seu surf-punk-indie-rock.

A banda tem como característica um show corporal, de movimentos frenéticos e vocais viscerais, ainda que, comparada à sua última apresentação na Feira Gato, esta tenha sido um pouco menos expansiva. E, por ter começado a apresentação atrasada, a Maré Tardia foi interrompida no início da última música por um membro da produção, e, embora visivelmente chateados, os integrantes deixaram o palco rapidamente. O que se disse, nas conversas de bastidores, é que a banda entendeu a necessidade de seguir o cronograma e não houve mal-estar após o show.
girlblogging
Na sequência, girlblogging, novo projeto de Greg Maya, integrante do Terno Rei, criou expectativa a ponto de se formar uma fileira de fãs colados ao palco esperando o início da apresentação. Pela primeira vez, o espaço de shows ficou cheio, ainda que não lotado, e personalidades da cena foram vistas na plateia, como Henrique Uba (Candinho) e Gustavo Teixeira, ambos integrantes do Rancore, e Bruno Paschoal, do Terno Rei.

Muito tímido e um tanto nervoso, Greg, junto de Roberto Kramer (baixo) e Luis Cardoso (bateria), passou pelas faixas lançadas no primeiro EP do projeto, chamado “entre rosas”, como “emo” e “fim da linha”, além de apresentar também algumas inéditas, e brindou o público com riffs e dinâmicas cativantes de seu shoegaze ao mesmo tempo, introspectivo e explosivo. O músico falou pouco com a plateia, limitando-se a agradecer brevemente entre algumas das músicas, e foi muito aplaudido, em um início promissor dessa nova jornada.
YMA
Por fim, o show mais aguardado: a cantora e musicista YMA subiu ao palco com sua banda para encontrar o maior e mais apaixonado público desta edição do evento. Os tons de vermelho, característicos do universo visual da artista, inundavam o espaço, indo dos figurinos às luzes que incidiam sobre o palco.
A apresentação começou passando por canções mais queridas pelos fãs, como “Par de Olhos”, “Evaporar” e “Vampiro”. E, conforme o setlist seguia, a intensidade e peso do show aumentavam, alcançando uma potência magnética que ultrapassava os climas das gravações de estúdio, mostrando a dedicação de todos da banda para criar uma experiência singular ao vivo.

Ao tocar também algumas músicas inéditas, YMA dividiu publicamente, pela primeira vez, os planos de lançar um novo álbum ainda em 2025, segundo a cantora, “até setembro”. Em seguida, outro momento memorável foi o convite ao público para fazer uma coreografia no palco durante a canção “Summer Lover”, parceria da artista com Gab Ferreira.
Os muitos aplausos ao fim de cada música e os gritos de “YMA, eu te amo” não deixaram dúvida quanto ao poder, virtuosismo e carisma da artista e de sua banda. E, após muitos pedidos de bis, tocaram mais algumas canções para um ótimo encerramento da comemoração de aniversário de dois anos da Feira Gato.

Assim,a Feira Gato, embora tenha enfrentado alguns obstáculos, foi capaz de manter seu brilho marcante e oferecer ao público mais uma experiência cultural atrativa, acolhedora, inclusiva e diversa, especialmente em uma ocasião tão legal quanto o aniversário de uma proposta de feira cultural independente.
amei a cobertura <3