O ano era 2010 e Christina Aguilera, depois do sucesso de Back to Basics, lançava seu sexto álbum de estúdio, Bionic, que até hoje é um dos álbuns mais subestimados da música pop.
E já que em poucos dias a diva irá se apresentar pela primeira vez no Brasil, 15 anos depois desse disco, decidi revisitar o álbum e, enfim, fazer #justiçaporBionic, esperando que ela inclua alguns hits dessa obra no setlist.
A história de Bionic
Entre 2006 e 2008, Christina Aguilera teve muitos motivos pra comemorar: o álbum Back to Basics, um dos mais emblemáticos de sua carreira, vendeu milhões de cópias no mundo todo e lhe rendeu um Grammy de Melhor Perfomance Pop, a turnê foi um sucesso e em 2008 ela foi mãe.
Ainda em 2008 ela começou a trabalhar no sucessor de Back to Basics e decidiu explorar um pop mais eletrônico, bem diferente das influências de jazz que permearam Back to Basics.
Já em 2009, o álbum pop alternativo estava pronto, porém Christina optou por adiar o lançamento para 2010, para se dedicar à divulgação do musical Burlesque, no qual ela é protagonista junto de Cher.
Enfim, chegamos à 2010, porém, mesmo estando pronto, o álbum não agradou a gravadora RCA Records, que alegou justamente que Bionic era alternativo demais. Então, Xtina voltou aos estúdios e acrescentou novas faixas, mais comerciais. Inclusive, Christina teve até que mudar o single de divulgação, que seria “Glam”, para “Not Myself Tonight”, faixa que foi incluída após reclamações da gravadora.
E quando o videoclipe de “Not Myself Tonight” estreou, Christina recebeu mais críticas do que elogios, não só dos conservadores, que sempre se chocam com a música pop e as cenas quentes do videoclipe, mas também da mídia, que a acusou de não ser original e copiar a, até então, novata Lady Gaga, que em 2010 só tinha lançado The Fame e The Fame Monster.
Quanto a números, Bionic chegou a algumas paradas e vendeu muitas cópias, mas nada comparado ao sucesso de seu anterior.
Bionic: o BRAT de 2010
Se em 2024 a internet parou com o pop futurista de Charli XCX, em 2010 o mundo não estava tão preparado para uma Christina Aguilera eletrônica e carregada de sintetizadores, trazendo até um feat com Peaches, ou melhor, o mundo não estava preparado para Madam X (não confundir com Madame X, de Madonna, anos depois), a persona que Christina Aguilera assumiu no conceito de Bionic.
Ouvir Bionic novamente, 15 anos depois, mostra que realmente o disco é um dos mais subestimados e injustiçados da história do pop, pois já trazia tendências que foram replicadas em discos posteriores de cantoras diferentes, como as próprias Lady Gaga e Charli XCX, além de ser uma proposta ousada vinda de Christina, que não era muito adepta de autotunes até Bionic, talvez por, anos antes, o uso de autotune ser sempre vinculado a artistas sem muita potência vocal, o que, definitivamente, não é o caso de Xtina.
Faixas como “Elastic Love”, “My Girls” (o feat com Peaches), “Monday Morning”, “Bobblehead”, “Birds of prey” e a faixa-título, “Bionic”, poderiam facilmente estar em algum álbum de indie pop ou, até mesmo, em BRAT (“Monday Morning”, na verdade, poderia estar em um disco do Cansei de Ser Sexy, sério).
Claro que o disco não é perfeito, afinal, ele é gigante, com 23 faixas em sua versão Deluxe. As adições de músicas mais comerciais quebram a vibe alternativa de Bionic, além das tradicionais baladas que comprovam os alcances vocais de Christina, mas que também destoam da proposta do disco, porém, ainda assim, elas são melhores e mais fieis ao trabalho criativo de Xtina do que as músicas incluídas por interferência da gravadora.
Bionic merece justiça!
Anos depois de seu lançamento, os fãs de música pop voltaram a prestar atenção em Bionic, reconhecendo que ele foi um disco subestimado pela gravadora, que não acreditou que um álbum mais alternativo pudesse ser rentável, e pela mídia, que descredibilizou Christina, criando uma rivalidade sem sentido entre ela e Gaga.
O disco também sofreu com a pirataria – em 2010, plataformas de streaming não existiam e os downloads ilegais eram uma das formas mais fáceis de se conseguir música na internet -, mas hoje, além de ser, junto de Stripped e Back to Basics, um dos álbuns mais marcantes da carreira de Christina, Bionic figura como favorito entre muitos fãs não só da cantora, mas de pop em geral, justamente por, 15 anos atrás, inovar com um pop futurista, que hoje é o normal, com mais cantoras alternativas tomando a frente do cenário musical.