Em 7 de janeiro de 1951, nascia Luiz Carlos dos Santos, que ficaria mais tarde conhecido como Luiz Melodia. O nome artístico não é por acaso, já que sua cabeça e coração saíram belíssimas letras e melodias que embalam histórias e que fazem parte da história da Música Popular Brasileira. E hoje, dia 16 de janeiro, o documentário Luiz Melodia – No Coração do Brasil estreia nos cinemas.
A poética profunda de Luiz Melodia caiu nas graças de cantoras que estavam no auge nos anos 1970, como Maria Bethânia e Gal Costa, que gravou a canção “Pérola Negra”, parte do álbum “Gal a todo vapor”, de 1972. Com isso, o nome de Melodia chegou a diferentes cantos do país. A importância da faixa “Pérola Negra” foi tanta que ele optou por usá-la para nomear seu primeiro álbum, de 1973.
O documentário Luiz Melodia – No Coração do Brasil, dirigido por Alessandra Dorgan, reúne materiais inéditos do cantor, dispostos a partir de falas que ele teve ao longo da vida, contando situações e histórias, além de trechos de shows e outros tipos de apresentações. É uma forma de conhecer Luiz Melodia por ele mesmo, seus processos criativos e a ânsia de elevar sua arte sempre a novos níveis e lugares.
Dorgan constrói uma narrativa a partir do que Melodia tinha a dizer e a forma como costura cada trecho, apesar de não seguir uma lógica temporal, aproxima o compositor do espectador, travando uma espécie de diálogo construído com imagens que permitem ver a genialidade por trás de sua obra.
Melodia sincera
Ele nasceu no Morro de São Carlos, no bairro Estácio, mesma localização de uma das escolas de samba mais tradicionais do carnaval brasileiro, a Estácio de Sá. Luiz foi menino do peão, que corria atrás do bonde, que jogava bola e era fanático pelo Vasco – sonhava até em ser ponta-direita do time do coração, mas a música falou mais alto.
Da sua paixão pelo seu local de origem; pelo popular; pelo Carnaval e pelo Rio de Janeiro nasceu uma de suas canções mais famosas e que o cantor se emocionava sempre ao cantar “Estácio, holly Estácio”, que faz parte do álbum “Pérola Negra” (1973).
Sua composição é sincera, retrata a vida simples, do pobre, do preto, do morro. Há mesclas entre o vivido e o visto. Trata-se de uma vida orgânica, com aspectos que a Era Digital talvez não dê conta de descrever e fazer sentir. É autêntico e se mantém contemporânea e atualizada toda a visão de mundo que melodia forneceu por meio de suas canções.
A relação com a Música Popular Brasileira
Os anos 1970 foram irreverentes, com diferentes influências de gêneros musicais estrangeiros convivendo simultaneamente com o regime militar. Havia sede de liberdade e Luiz Melodia foi um reflexo desse sentimento. Lutou pela liberdade e originalidade, desafiando o conservadorismo e trazendo certa vanguarda para o que viria se tornar a MPB.
Em 1975 foi finalista do Festival da Abertura, promovido pela Rede Globo, com a canção “Ébano”. No ano seguinte, passou a ser parte da trilha sonora de um dos maiores clássicos das telenovelas brasileiras, “Pecado Capital”, com a canção “Juventude Transviada”, que também já foi gravada por Gal Costa.
No documentário, em uma de suas falas, Luiz Melodia diz que não esperava fazer sucesso e que isso mexeu com ele, sobretudo com sua saúde mental, fazendo com que se mudasse para Salvador e ficasse um tempo na Ilha de Itaparica.
Na obra, também são retratadas polêmicas, sobretudo com as gravadoras. O compositor sempre gostou de experimentar, mesclar estilos e isso para o mercado muitas vezes é inadmissível. Querem nichar, fidelizar o público e, muitas vezes, isso não permite a liberdade criativa. Por esse motivo, ao longo da carreira, grandes hiatos ocorreram entre um álbum e outro.
Além dos nomes já citados, Luiz Melodia cantou com Elza Soares, já apresentou canções de Cazuza, ao mesmo tempo em que mesclava o samba, com a bachata, o reggae, o rock e tantos outros gêneros que com seu toque formavam belíssimas melodias. Afinal, é privilégio de poucos ter música em seu sobrenome.
Mesmo após seu falecimento (2017), suas canções mantêm sua presença viva. Vários artistas regravaram músicas de Luiz Melodia, incluindo Criolo, Mart’nália, Sandra de Sá, Anelis Assumpção, Zezé Motta, Liniker e Marisa Monte. Luiz Melodia é o autor de diversos retratos do Brasil.
Onde assistir
Em 2024, “Luiz Melodia – No Coração do Brasil” recebeu o prêmio “In-Edit Brasil de Melhor Documentário Musical”. Agora, em 2025, para quem é de São Paulo, o documentário estará em cartaz nos dias 16, 17, 18, 19, 22, 24 e 31 de janeiro no Instituto Moreira Salles – IMS Paulista. Confira valores e horários no site Ingresso.com.
E falando em In-Edit, o festival está com inscrições abertas para produtores e diretores de documentários musicais para a edição de 2025. Acesse o formulário aqui.