Se você foi um jovem paulista nos anos de 2010 e frequentou alguma balada da Rua Augusta, você conhece o The Vaccines. “If you wanna” foi um hit em 2011, ano de lançamento do primeiro disco da banda, e entrou no setlist de praticamente todos os DJs que tocaram naquelas festas.
Naquele ano o indie estava tão em alta que o extinto festival Planeta Terra trazia no line up os próprios The Vaccines, o Interpol e os Strokes, entre outros nomes, como Bombay Bicycle Club e um show de abertura de um rapper ainda nem tão famoso fora do nicho, Criolo. Porém, dias antes do festival, que aconteceu em novembro de 2011, o The Vaccines cancelou sua participação.
Eu era uma das pessoas que comprou ingresso pra ver os Strokes, mas esperava muito pelo The Vaccines naquele festival e me decepcionei. E eu, sinceramente, não sei explicar as razões pelas quais desde 2011 eu nunca tinha visto o Vaccines ao vivo até a noite do dia 21 de novembro de 2024, 13 anos e uns dias depois daquele show que não aconteceu no Planeta Terra.
Porém, seja alguém que viu a banda ao vivo pela primeira vez, como eu; seja alguém que ouviu a banda há poucos dias antes do show, como a fotógrafa que me acompanhou e que ilustra essa matéria; ou seja um fã que viu a banda uma ou duas vezes, nas duas vindas do Vaccines ao Brasil anos depois do festival (em 2012 e 2013), a emoção pode ter sido bem parecida naquela noite no Cine Joia, mesmo lugar onde a banda se apresentou em 2012, quando o local tinha outro nome, Cine Gran Metropole.
Mas vamos começar com Apeles…
Apeles, projeto solo de Eduardo Praça, foi o número de abertura para um Cine Joia que já se encontrava bem cheio às 20h, com muitos fãs dos Vaccines amontoados na frente do palco.
Algumas pessoas ao meu redor comentavam não saber o que esperar do show de abertura, mas assim que Eduardo começou a tocar, a plateia mostrou ter curtido o som, inclusive com um casal me perguntando o nome da banda pra ouvir depois.
Apeles apresentou as músicas de sua carreira, focando no álbum mais recente e, inclusive, para duas faixas desse disco, chamou duas participações que funcionaram como uma viagem no tempo do indie: primeiro, Helio Flanders, vocalista do Vanguart, banda que também explodiu na cena indie 2010 – inclusive houve até uma comoção dos presentes ao ver a figura de Helio no palco -; depois, YMA, cantora paulistana que vem se destacando na cena alternativa por seu som psicodélico e um pouco post punk.
E o que esperavam do The Vaccines?
Ao final do show do Apeles, o sold out daquela noite era mais do que visível, era sentido no calor e no pouco espaço para andar entre as muitas pessoas que ocupavam o Cine Joia esperando o The Vaccines, que subiu ao palco pontualmente às 21h15 em meio ao coro da plateia, que se sobrepunha à voz do vocalista Justin Young por muitas vezes.
Com um fôlego incansável, a plateia poderia ter roubado a cena se a banda em si não fosse tão carismática. Justin interagiu diversas vezes com o público e mostrou ter adorado os cartazes que os fãs levaram com as mensagens “Eleven years waiting” (11 anos esperando) e “Your band is my favorite love” (sua banda é meu amor preferido, um trocadilho com o nome da música “your love is my favorite band”).
O setlist contou com 21 músicas e o único erro da banda foi não ter deixado nenhum dos grandes hits do seu auge para o bis – “wreckin’ bar”, “post break-up sex”, “no hope”, “teenage icon”, “if you wanna” e “all in white” foram tocadas antes do bis, que englobou as faixas “sometimes, i swear”, “a lack of understanding”, “lunar eclipse” e “all my friends are falling in love”.
Mas, apesar de um retorno morno após o bis, a energia do público ainda se manteve até o fim do show e quem ficou na casa por mais tempo pôde até garantir um autógrafo dos integrantes.
E respondendo à pergunta feita no título do primeiro disco dos Vaccines e no subtítulo dessa resenha, o que se esperava da banda podia ser diferente pra cada pessoa presente no Cine Joia, e após o show os únicos sentimentos possíveis eram de que o The Vaccines é mais do que apenas uma nostalgia indie dos anos 2000, e sim uma banda que vale a pena acompanhar e de que a longa espera valeu a pena.