No dia 22 de setembro, um domingo ensolarado, aconteceu a 11ª edição da Feira Gato. O evento, que já imprime sua marca na cena cultural alternativa de São Paulo, mostrou inteligência no uso de espaços e recursos, possibilitando uma experiência agradável e diversificada na Casa Rockambole, envolvendo shows, expositores de arte, brechós, palestras, workshops e leitura de tarot.
A Feira teve início às 14h, com a área de expositores já lotada. O público passeava, olhando, começando a conhecer os variados itens dos artistas e brechós que expunham. Também havia opções de bebida e alimentação para diferentes preferências dietéticas.
O primeiro show do dia ficou a cargo da Kabeça Cheia, trio composto por José Victor Barroso (voz principal e guitarra) Lucas Troiano (bateria e voz de apoio) e João Cruz (baixo e voz de apoio). A banda expôs, com muita técnica e emoção, músicas que estarão em disco homônimo de estreia, algumas composições que ficaram de fora do disco, e as demos já lançadas Sentimentos Selvagens e Nublado.
O grupo exercitou seu potente blues-rock psicodélico de forma cativante. No entanto, por ainda ser um projeto em início e ter ficado com o primeiro horário do domingo, encontrou um público ainda muito esparso e tímido. Mas isso não os impediu de entregar seu melhor a cada faixa, com canções de personalidade marcante, que deixaram expectativa para o álbum por vir.
Em seguida, a dupla Cum Control (Jonathan Rissi na voz e guitarra; Antonio Leal Filho na bateria), de Curitiba, conseguiu trazer mais pessoas para perto do palco, mas acabou vendo uma plateia ainda tímida e pouco aquecida para sua visceral mistura de powerviolence, metal e noise. Porém, assim como a banda anterior, o duo não se abalou, deixando tudo de si em cada música tocada.
Enquanto isso, o espaço aberto da Casa Rockambole, onde ficaram expositores e aconteciam as sessões de bate-papo, continuava cheio, sinalizando a preferência do público por começar o dia mais tranquilamente e, aos poucos, conectar-se com a energia das apresentações musicais.
Esse espaço contou com falas, por exemplo, de Greg Maya, integrante da banda Terno Rei. Durante seu bate-papo, Greg resumiu o caminho de construção da Terno Rei, tocando em casas pequenas e indo aonde quer que fossem chamados. Comentou também a importância do merchandising para divulgação e retorno financeiro da banda.
O músico falou sobre como sua banda tem fãs dedicados e como a venda de merch muitas vezes iguala ou ultrapassa cachês de shows. E, a partir disso, fez contraposição com a atual cultura de “bandas de TikTok”, que, segundo Greg, fragiliza a relação entre artistas e fãs, resultando, por muitas vezes, em poucas vendas de merch e a impossibilidade de formação de um público fiel.
Depois, dando continuidade aos shows, Violeta Lucena (cutieboneca) abriu a apresentação de Ghast Chloe. Ghast, de apenas 18 anos, mostrou imensa maturidade e presença de palco, com faixas envolventes de hyperpop e estética anos 2000. O show animado da artista foi capaz de reunir um público mais jovem e apaixonado que ficou bem junto ao palco, cantando várias de suas músicas com ela.
Em uma crescente adesão do público aos shows, a banda seguinte, jonabug, preencheu consideravelmente o espaço dedicado à plateia, já causando uma leve disputa por espaços para ver Marilia, Samuel e Dennis. O trio carismático envolveu o público com sua intensa e sedutora combinação de shoegaze, grunge e indie-rock.
A banda também puxou um “parabéns pra você” para um fã que fazia aniversário no dia. Em seguida, ganharam um desenho de presente deste mesmo fã. Emocionados, encerraram sua apresentação agradecendo esses momentos de conexão com seu público.
Já a banda Maré Tardia, de Vila Velha, iniciou seu show encontrando uma plateia novamente quase vazia. Mas, aos poucos, a performance enérgica da banda chamou o público de volta. Suas músicas dançantes e vigorosas, que passeiam pelo punk, surf music e rock alternativo, provocaram até mesmo rodas de bate-cabeça.
Para fechar a noite de domingo da Feira Gato, o artista de pluggn’b virgingod fez um show animado, com público também não muito grande, porém extremamente disposto e unido. Nesse meio-tempo, expositores e demais trabalhadores do evento guardavam suas coisas e esvaziavam as mesas.
Assim se encerrou a Feira, bem-sucedida e indicando possuir capacidade e estrutura organizacional para ocupar até mesmo espaços de eventos maiores do que a Casa Rockambole. A Feira, hoje, não deixa dúvidas quanto a ser uma excelente atividade cultural alternativa e relevante vitrine para artistas independentes em São Paulo.
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