O Interpol não é daquelas bandas que demoram a vir para o Brasil: a banda já veio 7 vezes ao país contando com a mais recente, mas, com exceção da primeira passagem em 2008, todas as outras vindas do trio mais melancólico do indie rock foram em festivais (Planeta Terra em 2011, Lollapalooza em 2015 e 2019 e a primeira edição do Primavera Sound em São Paulo em 2022), então, quando os shows solos em 2024 foram anunciados já seria o suficiente para a comoção dos fãs, mas, além disso, os shows dessa turnê vieram com um gosto mais especial.
Dessa vez, o Interpol anunciou que os shows no Brasil em 2024 fariam parte da turnê em celebração aos dois primeiros discos da banda: o clássico “Turn on the bright lights” e seu sucessor, “Antics”.
E na última sexta-feira, dia 7, a banda apresentou o esperado setlist na Audio, em São Paulo, a primeira das duas datas na cidade, já que em questão de minutos, os ingressos se esgotaram. E com casa cheia, a expectativa era de um show emocionante e realmente foi, mas não só pela nostalgia.
Pontuais e metódicos, o Interpol subiu ao palco às 21h e tocou na sequência seus dois primeiros discos, quase completos. Em meio a uma escuridão, os primeiros acordes de “Specialist”, faixa lado b que só saiu na edição de aniversário de 10 anos do Turn on the bright lights, em 2012.
Apesar da emoção, a faixa, por ser lado b, não teve tanta adesão do público, mas isso foi corrigido na sequência (não rapidamente, já que Specialist tem quase 7 minutos de duração) com “Say hello to the angels” e “Obstacle 1”.
A música seguinte, “NYC”, evidenciou uma das coisas que mais chamaram a atenção nesse show: a iluminação perfeita do palco. Além das primeiras faixas serem tocadas em meio a luzes vermelhas, deixando o palco idêntico à capa do álbum, em NYC as luzes ficaram azuis e quando Paul Banks cantou “It’s up to me now, turn on the bright lights”, luzes muito fortes se acenderam no fundo do palco quase cegando a plateia. E, por fim, todas as luzes se apagaram, ficando apenas globos de espelhos, posicionados nas laterais e no centro do palco rodando iluminados: aquele momento de melancolia pós noitada em New York City, mesmo estando em São Paulo, no início da noite.
A escolha da iluminação foi um fator que tornou o show do Interpol mais imersivo, já que a banda em si era praticamente ofuscada pelas luzes (quem fotografou, deve ter sofrido para editar as fotos), e para completar, Paul Banks e companhia não são muito adeptos de discursos ao longo do show. Entre uma música e outra, o vocalista apenas apresentou os músicos que o acompanhavam, agradeceu e explicou que o show era dividido em duas partes, uma para o “Turn on the Bright Lights” e outra para o “Antics”.
E depois de 9 músicas do primeiro disco e uma pausa de menos de dois minutos, a banda voltou ao palco para o disco preferido de quem escreve essa resenha, começando com “Next Exit” e seguindo o “Antics” na íntegra. Que momento!
E como eu disse que eles eram metódicos, um show que se propõe a voltar ao começo da banda não poderia terminar de forma mais inteligente: depois de tocar o 1º e o 2º álbuns, o Interpol volta para um bis e toca a primeira faixa do primeiro disco: Untlited, que, apesar dos seus quase 4 minutos de duração, tem apenas 4 versos.
E assim, como quem fecha um ciclo, o Interpol encerrou sua performance em São Paulo na sua 7ª vinda ao Brasil – a terceira vez em que vejo a banda ao vivo – deixando o sentimento de que quem viu esse show, viu um dos melhores shows da banda em nosso país.