No fim de março, Beyoncé escreveu mais um capítulo de sua vida na história da música pop, ou melhor, da música mundial, afinal, a cantora vai além do posto de diva pop, flertando desde sempre com o hip hop e, agora, com a música country, com o álbum Cowboy Carter, uma continuação ou apenas um outro lado do antecessor, Rennaissance, com capa semelhante, mas sonoridade bem diferente.
Já em terras brasileiras, Pabllo Vittar fez do início de abril a estreia do aguardado Batidão Tropical Vol. 2, também um disco continuação que, além de ser seu 6º álbum de estúdio, é parte de seu projeto de regravar clássicos da música popular do norte e nordeste do Brasil.
Tá, mas o que esses álbuns têm em comum?
Revisitar tradições e ter liberdade criativa: não há regras para Beyoncé e Vittar
Por mais diferentes que sejam sonoramente e por mais distantes que uma intérprete esteja da outra, Cowboy Carter e Batidão Tropical Vol. 2 carregam uma semelhança em suas composições: ambos os discos mergulham nas raízes musicais de suas autoras: Beyoncé vai ao fundo de seu estado natal, o Texas, para revirar a música country, 8 anos depois de ter sido hostilizada em uma premiação voltado ao gênero, a Country Music Awards; Pabllo, uma drag queen, que por mais famosa e grandiosa que seja, ainda lida com um país extremamente homofóbico, revisita os ritmos mais tradicionais do nordeste do Brasil e coloca sua voz em clássicos dos gêneros.
Mais do que apenas se aventurar em gêneros musicais diferentes – no caso de Beyoncé, dominado por pessoas brancas e, no caso de Pabllo, com poucos ou nenhum nome LGBT de destaque – as artistas provam que é possível, após alcançar o mainstream, criar música com liberdade, sem fronteiras, fazendo o que lhe dá vontade e ainda assim alcançar os tão sonhados grandes números de plays ou vender discos e ingressos para shows. Em tempos de músicas pop tão formatadas e comerciais, é notório que o público sente falta de algo feito com verdade.
Tanto Bey quanto Pabllo possuem últimos lançamentos extremamente distintos. Beyoncé vem do experimental Lemonade, passando pelo dançante Renaissance e terminando em uma obra-prima country inovadora. Já Pabllo lançou Noitada, álbum que vai do pop ao funk, com músicas bem radiofônicas, e emendou com After, álbum de remixes que, por si só, já dá uma balada para nenhum fã de eletrônica botar defeito, para, enfim, continuar seu projeto de tecnobrega e forró com Batidão Tropical 2. Deu pra ver só nesse parágrafo que barreiras na música não existem para essas duas artistas inventivas e disruptivas.
A seguir, um pouco mais sobre cada álbum e sua marca nas carreiras de Beyoncé e Vittar.
Cowboy Carter
Iniciando com “Ameriican Requiem”, um alarme em forma de hino que incinera antigas ideias sobre arte e as pessoas que a criam, o álbum dá o tom de renovação de um gênero que foi negado a Beyoncé por anos.
Mantendo sua pose de diva pop e suas raízes hip hop, Beyoncé reinventa o estilo musical regional de seu estado natal, o country, em um álbum de 27 faixas, que se envolve em pura instrumentação, utilizando acordeão, gaita, violão acústico, ukulele, guitarra, bandolim, violino, piano e banjo. Também há muitas palmas, passos de ferradura de cavalo e batidas de botas no chão de madeira.
“A alegria de criar música é que não há regras. Quanto mais vejo o mundo evoluindo, mais sinto uma conexão mais profunda com a pureza. Com inteligência artificial, filtros digitais e programação, eu queria voltar aos instrumentos reais, e usei alguns muito antigos. Eu não queria algumas camadas de instrumentos como cordas, especialmente guitarras e órgãos perfeitamente afinados. Mantive algumas músicas cruas e mergulhei no folclore. Todos os sons eram tão orgânicos e humanos, coisas do dia a dia como o vento, estalos e até o som de pássaros e galinhas, os sons da natureza.”
Beyoncé
Em Cowboy Carter, o trabalho de uma artista que criou em seus próprios termos, na ausência de regras, persiste ousadamente. É um trabalho raro que pode hospedar tão facilmente remakes de clássicos como “Blackbird” dos Beatles e “Jolene” de Dolly Parton com criações diversas como “Sweet Honey Buckin”, “Riiver Dance” e “II Most Wanted”.
“Acho que as pessoas vão ficar surpresas porque não acho que este álbum seja o que todos esperam, mas é a melhor música que já fiz.”
Beyoncé
Batidão Tropical Vol. 2
Com participações especiais de artistas do Norte e Nordeste do Brasil, Pabllo apresenta regravações e inéditas em Batidão Tropical Vol. 2. Trazendo “Idiota” como faixa principal, o álbum também chegou com outras novidades como a canção “Me Usa”, lançada em 2020 pela Banda Magníficos, e “Pede pra eu ficar”, versão em português de “Listen to your heart”, do Roxette – e quem acompanha música muito popular brasileira sabe que versões forró de músicas estrangeiras são uma tradição.
Além disso, Pabllo também traz no projeto novas versões de conhecidas músicas: “Pra Te Esquecer”, que ficou famosa na voz de Joelma na Banda Calypso; “São Amores”, originalmente lançada pela banda Forró do Muído; “Falta Coragem”, em parceria com a sergipana Taty Girl; e “Não Desligue o Telefone”, do cantor Tony Guerra.
No projeto, Vittar regravou músicas que fizeram parte de sua infância no Maranhão e no Pará, como “Ai Ai Ai Mega Príncipe”, segundo single do disco, lançado em 5 de março.
“Este álbum é uma expressão que fez parte da minha infância, da minha arte e da minha jornada como artista. Cada batida, cada letra, é uma parte de mim e estou muito feliz em poder compartilhar com meus fãs toda a energia e paixão que coloquei neste projeto. Preparem-se para dançar, celebrar e se apaixonar, porque este álbum é a cara do Brasil”.
Pabllo Vittar
Batidão Tropical é gigante e significativo quando falamos de representatividade e leva os ouvintes em uma viagem sonora com muito batidão, tecnomelody, forró e mais, uma verdadeira celebração da diversidade e da cultura brasileira.
Mas Batidão Tropical Vol. 2 ainda não acabou. No lugar de três faixas ainda não lançadas, Pabllo deixou áudios especiais com recado para os fãs. O que mais será que vem por aí? O que já dá pra saber é que será inovador, como tudo que a artista faz.
Texto escrito por Letícia Pataquine, com trechos retirados dos materiais enviados pelas assessorias das artistas.