Formada em 2017 por Pedro Cursino (Baixo/Voz), Danilo Camargo (Guitarra/Voz) e Nicolas Brown (Bateria/Voz), a Zero To Hero é um trio de Taubaté, interior de São Paulo, que, depois do EP LILO, lançado em 2022, dá início à sua nova fase com The Perfect In Between, lançado no finalzinho de março e que veio depois dos três ótimos singles “Jimmy Neutron, Boy Neutral”, “Quiet Quitting” e “But Doctor, I am Pagliacci”.
Com muitas referências que vão desde os títulos das faixas à sonoridade de cada uma, o disco traz diferentes elementos e mostra a riqueza musical de uma das bandas mais promissoras do emocore atual, indo do midwest emo ao post hardcore.
Danilo e Pedro, principais compositores da Zero To Hero, passaram por cada uma das 13 faixas de The Perfect In Between e contaram para o Musicult suas percepções e ideias sobre cada música, além das maiores influências desse momento da banda.
Então, dê play em The Perfect in Between na sua plataforma de streaming favorita e saiba mais sobre a sua música preferida do disco ao continuar lendo.
Zero to hero e um faixa a faixa de The Perfect in Between
1 – What Is This Supposed to Mean?
Pedro: Essa música fala um pouco sobre como é cruel se agarrar a esperança, mesmo sem um horizonte de melhora. A gente constantemente briga com as expectativas e se frustra, aí acabamos brincando um pouco com os dois ditados “a esperança é a última que morre” e “os bons morrem cedo”. Se a esperança é a última que morre, ela deve ser horrível.
2 – Jimmy Neutron, Boy Neutral
Danilo: Na época que eu fiz essa, eu tava ouvindo bastante Tiny Moving Parts… Ela diz sobre conflitos interpessoais no qual não temos a ver diretamente com a situação. Nunca me posicionei nessas horas e sempre me culpei por me isentar disso. Hoje consigo ficar sem essa auto cobrança, nem sempre precisamos tomar um lado justamente por não termos a ver com isso.
3 – Sleeping Through Blue Screen
Danilo: Essa diz sobre a dificuldade de termos que seguir em frente ao lado de fantasmas do nosso próprio passado, de como nós éramos. Acho que as frustrações dessas situações acabaram sendo representadas através do próprio instrumental. Os efeitos e pausas durante o restante da música sem pé nem cabeça definem de maneira abstrata essa fuga sobre o passado.
4 – Quiet Quitting
Danilo: Essa já é um desabafo sobre encarar a vida adulta. Nós temos nossas ambições e quase nunca conseguimos levar isso a frente por conta do nosso emprego (ou se não do sistema). Recentemente larguei meu emprego de 6 anos após passar praticamente metade desse tempo me perguntando se onde estou e o que estou fazendo é o que eu quero pra mim, ou se seria possível eu encontrar um lugar onde eu me identificasse de fato. Por fim, cheguei à conclusão que, no fim das contas, trabalhar é uma bosta. De qualquer forma, acredito que essa música me ajudou a tomar a decisão de sair. Com certeza, uma música específica que me influenciou MUITO foi “a morning song”, do Oso Oso.
5 – But Doctor, I Am Pagliacci
Pedro: Eu sou uma pessoa bem fechada naturalmente. Principalmente se tratando do que me faz mal, do que me deixa pra baixo, não sou muito de ficar compartilhando com os outros. Eu sempre tive esse reflexo de tentar resolver essas situações sozinho e de maneira racional, tenho muita dificuldade de dar vazão pro emocional. Acho que essa música fala um pouco sobre essa minha fuga. Essa necessidade de se esconder atrás de piadas e tentar manter a normalidade mesmo quando por dentro a gente tá despedaçado.
6 – Closet Bones
Danilo: Essa faixa fala, basicamente, sobre o mesmo tema da “Sleeping Through Blue Screen”, porém sob um ponto de vista mais otimista e evoluído. Foi uma superação que tive após frustrações do passado. A intro dessa é total influenciada por “Stay Home” do American Football, sem tirar nem pôr.
7 – Joie De Vivre (Icarus)
Pedro: Se pá essa música é a mais difícil de falar sobre, porque eu real não sei exatamente qual era o meu objetivo ou ideia quando eu comecei a escrever. Canto um pouco sobre o mito de Ícaro e tento subverter a moral: originalmente, é um conto sobre o perigo de desafiar as regras e as suas duras consequências, que acabei transformando numa canção sobre quebrar os moldes e da existência, apesar da queda, de vida. O sol queima, mas ele também nos aquece.
8 – Anyway, Thanks for Stopping By
Pedro: Escrevi essa pra lidar com a perda de um ente querido, é uma música de luto. Não tem muito o quê dizer em questão de letra, porque eu acho que já é bem autoexplicativo. Ah, e preferimos deixar a track nesse estilo acústico por entender que essa música precisava dessa delicadeza, desse tato mais refinado pra transmitir a mensagem da maneira certa, de um jeito intimista.
9 – The Struggle Itself Is Enough to Fill a Man’s Heart
Pedro: Sempre tive muita brisa de colocar interlude nos álbuns, e foi isso que fiz aqui. Sempre tento fazer uma parte instrumental bem diferente e interessante, que consiga se manter de pé sem necessidade de letra ou mensagem. Também tento compor algo que ao mesmo tempo chame a próxima música, mas que não seja necessariamente a mesma coisa ou mesma vibe. Maior inspiração pra essa passagem acho que foi a música “23” da Jimmy Eat World. Baita música.
10 – One Must Imagine Sisyphus Happy
Pedro: Quando eu escrevi essa música, eu tava com bastante dificuldade de aceitar o mundo que a gente vive, com tanta injustiça e coisa sem sentido que a gente vê sempre no noticiário. Por coincidência eu esbarrei no mito de Sísifo, principalmente sobre a ótica do Albert Camus, e saí escrevendo a música como desabafo, pra me ajudar a digerir o que eu tava pensando. A mensagem principal é de encontrar na falta de sentido a vontade de continuar. Citando, Camus: “A percepção de que a vida é absurda não pode ser um fim, mas apenas o começo”.
11 – Amargo
Essa aqui eu botei na cabeça que ia escrever um shoegaze, apesar de eu não ter absolutamente nenhuma intimidade com o estilo e, pensando bem, talvez por isso ela acabou saindo em português: justamente por eu não ter um parâmetro ou influência forte desse gênero. Não tinha esse viés “inglês”. Ouvi bastante gorduratrans pra me inspirar, e acho que a que bateu mais forte e acabou culminando na “Amargo” foi “enterro dos ossos”.
12 – Words Are Torture Tools
Pedro: Impressionante como sempre lembro de Pixies quando ouço essa, especificamente de “Where Is My Mind?”. Acho que a dinâmica silêncio/barulho/silêncio, que eles fazem com maestria, é o que prevalece estruturalmente. Sobre a letra, é um pouco sobre a minha briga pra controlar a acidez e criticidade com os outros, que já me colocou em muita situação de treta desnecessária. Tive que aprender a não ser tão confrontativo da pior maneira.
13 – 2 Places, Same Time
Pedro: A gente já tinha tentado emplacar essa música várias vezes antes, ela é bem antiga em questão de composição, só que nunca encaixou do jeito que era pra ser, sempre faltava algo. Acabou que faltava um “molho” brasileiro que a gente colocou na segunda passagem: o ¾ da música, por conta da parte da batera, se transforma em algo que remete bem à um sertanejão. Emo caipira de Taubaté é isso.
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