Na última terça-feira (26), o Musicult esteve presente na cabine e coletiva de imprensa do filme “Uma família feliz”, que estreia dia 04 de abril. A obra criada por Raphael Montes, escritor de “Dias perfeitos” e “Bom dia, Verônica” (que também é um tremendo de sucesso na Netflix), teve direção de José Eduardo Belmonte.
Sinopse
Eva (Grazi Massafera) e Vicente (Reynaldo Gianecchini) protagonizam um casal que se une após o marido ficar viúvo, responsável pelas filhas Ângela e Sarah. Pertencentes à classe média, vivem uma vida normal num condomínio, dentro da rotina esperada: trabalho, casa, filhos. Eva está vivendo sua primeira experiência como mãe, já no fim da gestação de seu primogênito, Lucas.
Alguns dramas típicos da convivência começam a mexer com o cotidiano do casal, sobretudo com um recém-nascido fazendo parte da rotina. Coisas bizarras passam a se revelar e abalam esse casal. Quem será o culpado pelo fracasso da relação?
O livro, originalmente narrado pela protagonista Eva, ganha novas nuances ao ser adaptado para filme. Trilha sonora, jogos de câmeras, toda a construção com base nos recursos audiovisuais entrega uma atmosfera de suspense pouco vista no cinema nacional.
Quem tem contato com obras de suspense de países como Argentina e Espanha, consegue reconhecer alguns aspectos comuns, como o desenrolar da trama, a capacidade de fazer um público compreender a alma das personagens. Não é o tipo de suspense com uma trilha clichê e sustos inesperados, o suspense é tecido cena a cena de uma forma brilhante.
Viver de aparências
Essa é a principal crítica do filme, apesar das inúmeras camadas e pautas que podem ser extraídas. Desde o título, “Uma família feliz”, à escolha das personagens principais – que são brancas e vivem em um condomínio de classe média alta parecendo estar num comercial de margarina – tudo o que se constrói é baseado na forma como o outro vai ver ou em como a sociedade espera que sejam relações perfeitas.
O filme faz o espectador se questionar sobre o que é real ou não, além de evidenciar que muitas vezes nós mesmos nos deixamos levar pela aparência e nos assustamos ao aprofundarmos nossas relações, evitando conhecer e lidar com o pior do outro.
Poderia ser só mais uma narrativa de desconstrução da família feliz, mas vai além, sobretudo por se tratar de um suspense que conseguiu manter a essência brasileira. Não é o tipo de suspense que usa litros de sangue falso, possessões ou elementos paranormais, por isso se mantém tão próximo do público.
O enredo envolve muito mais o psicológico e nossas falhas quanto sociedade. Há momentos, inclusive, em que você torce por um personagem, depois torce por outro e no fim torce pela história.
A complexidade das personagens
Em “Uma família feliz” fica evidente a evolução da atuação de Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, para quem os acompanhou no começo da carreira ainda em telenovelas. Eles já vinham provando que não eram apenas rostos bonitos e mais uma vez entregaram tudo e um pouco mais.
Em coletiva de imprensa, o Musicult teve a oportunidade de perguntar a Gianecchini, que viveu Matias Carneiro em “Bom dia, Verônica”, qual dos personagens foi mais complexo para construir. O ator respondeu que quando o roteiro é de Raphael Montes, sempre há de se esperar uma surpresa. E ele gosta disso: do desafio.
Para “Uma família feliz”, eles tiveram apenas 1 semana e meia de ensaios e a direção de José Eduardo Belmonte foi essencial nesse processo. Tanto o diretor quanto o roteirista queriam que o suspense se mantivesse nas diversas camadas de entrega das emoções, para que o público não tivesse pistas do desfecho (e que tampouco daremos aqui, por motivos de spoiler).
Para os atores, sempre acostumados com a intensidade e a entrega, tiveram de pisar no freio, afinal, o gênero também não é dos mais simples para se executar. Eles conseguiram com primor. Massafera ainda nos revelou que ao saírem dos ensaios, a criatividade dela e do seu parceiro de cena estava em alta, passavam horas pensando.
“Uma família feliz” também faz isso com o público. Não é um filme de fácil digestão, apesar de seguir uma receita já vista antes. Ele fica remoendo depois que os créditos finais sobem, o que a meu ver é bastante positivo para uma obra cinematográfica.
Depois que se assiste ao filme e se revisita as cenas, é possível perceber que havia easter eggs ali, mas de forma tão camuflada, era bastante difícil percebê-los (e não, não vá tentando descobrir essas pistas, apenas se deixe levar pela trama).
Aliás, o próprio autor, Montes, disse que assistindo ao filme uma segunda vez, parecerá outro filme, pois muitos elementos se revelarão, que numa primeira vista passam despercebidos. Inclusive para quem já leu o livro (que não é o caso do redator que aqui vos fala).
O que vem por aí?
“Uma família feliz” prova que mesmo com poucos dias de produção e um orçamento baixo, um roteiro bem amarrado e bem dirigido, além de trilha sonora, jogos de câmera, elenco e, sobretudo, criatividade, o nosso país leva jeito e pode ir muito além do que conquistamos até agora, independente do gênero.
Perguntamos a Raphael Montes se há outro projeto de livro para ser adaptado ao meio audiovisual. Ele respondeu que está vivendo o momento de “Uma família feliz” e ainda acompanhando a repercussão da 3ª temporada de “Bom dia, Verônica”, mas já está produzindo e pensando nos próximos trabalhos.
O escritor carioca também revelou que tem sentido despertada em si a vontade de experimentar dirigir alguma produção e pôde, ao lado de Belmonte, sentir mais essa presença e dinâmica no set de gravação.
Podemos esperar grandes feitos por vir.
Assista ao trailer do filme aqui e leia no Musicult outras resenhas cinematográficas.