O tão aguardado álbum do blink-182, intitulado One More Time…, finalmente viu a luz do dia em 20 de Outubro de 2023. Este lançamento marcou não apenas o retorno da banda ao cenário musical, mas também a volta de Tom DeLonge (Guitarrista/Vocalista), após 7 anos de ausência desde 2015.
Entretanto, One More Time… não é um álbum que se destina a qualquer ouvinte casual. É uma obra que foi concebida especialmente para os verdadeiros fãs da banda. Desde os lançamentos individuais dos singles até o lançamento completo do disco, os comentários têm sido divididos. Isso reflete não apenas a variedade de gostos entre os fãs, mas também a diversidade de projetos paralelos em que os membros do blink-182 se envolveram ao longo dos anos, como Box Car Racer, The Transplants, +44 e Angels And Airwaves.
A experiência de ouvir One More Time… pode parecer confusa à primeira vista, mas à medida que o espectador se entrega à jornada faixa a faixa, começa a entender a complexidade e profundidade que o álbum oferece. Por isso, garanta que está confortável e acompanhe a gente nesta análise faixa a faixa do álbum.
One More Time… análise faixa a faixa
“Anthem Part 3” é a faixa de abertura deste belíssimo trabalho, e o impacto é instantâneo: é a boa e velha pedrada do Blink das antigas. A nostalgia é imediata, não apenas pela sonoridade, mas também pelo título da canção. Como uma continuação de “Anthem Part Two” (do álbum Take Off Your Pants and Jacket de 2001), que por sua vez é sequência de “Anthem” (de Enema Of The State de 1999), a música evoca um sentimento de continuidade e evolução. Mostrando que os integrantes conseguem transmitir muito com poucas palavras, a música apresenta letras mais maduras e reflete uma virada de página e superação na vida dos membros da banda. É um verdadeiro hino motivacional, e não poderia haver uma escolha melhor para abrir o álbum. Muitos fãs já a consideram uma das três melhores faixas do disco.
Em seguida, temos um dos singles do álbum, intitulado “Dance With Me“. No videoclipe, a banda aparece fantasiada de Ramones, trazendo uma série de referências nostálgicas. A introdução faz uma homenagem a uma das entrevistas mais icônicas da banda em 1981, no programa Tomorrow Show. Logo antes da música começar, Tom DeLonge solta uma de suas piadas clássicas, acrescentando ainda mais nostalgia para os fãs. O videoclipe é inteiramente baseado na música “I Wanna Be Sedated” dos Ramones, com um detalhe interessante: a enfermeira que aparece nos dois clipes sedando os membros dos Ramones, fazendo alusão ao nome da música original, enquanto a enfermeira do Blink-182 recria a cena clássica da capa do álbum Enema Of The State de 1999. O clipe termina com uma cena da entrevista, onde Tom tenta flertar com a entrevistadora, mas sem sucesso. Mark responde a última pergunta com um simples “Gabba Gabba Hey!“, referência aos Ramones. Essa é mais uma das muitas camadas de referências nostálgicas presentes no trabalho da banda.
É importante destacar que o título “Dance With Me” já foi usado em uma das músicas raras da Demo do Box Car Racer, junto com “Mandy“, tocadas apenas algumas vezes nos shows da banda em 2002.
A terceira faixa, intitulada “Fell in Love“, é uma das músicas mais conhecidas do álbum, sendo também um dos singles. No entanto, para muitos, é considerada uma das faixas mais “fracas”, já que apresenta uma vibe mais “cringe”. Afinal, o que três caras na casa dos 50 anos estavam tentando transmitir com letras que remetem aos momentos bobos e apaixonados da adolescência? Esse é mais um dos motivos que reforçam que o álbum não é para todos, mas sim para os verdadeiros fãs.
Apesar da recepção mista quanto à letra, a sonoridade da música traz uma vibe totalmente inspirada em The Cure. Há um sample de “Close To Me“, um dos hits da banda de Robert Smith lançado em 1985. E não é para menos, afinal, Robert Smith foi homenageado nos créditos do álbum como um dos compositores desta música, juntamente com Nick Long (Dark Waves), Ryan Tedder (OneRepublic) e os próprios integrantes do blink-182. Vale lembrar que esta não é a primeira vez que Robert Smith colabora com a banda. Ele também fez participação nos vocais da música “All Of This“, do álbum autointitulado de 2003.
Em uma curiosidade adicional, em 17 de setembro de 2004, durante o programa MTV Icon-The Cure, o blink-182 foi uma das bandas convidadas para este especial, ao lado de AFI, Deftones, Razorlight e com Marilyn Manson como apresentador. Durante o evento, que ocorreu em Old Billingsgate Market, Londres, o Blink fez um cover de “A Letter To Elise“, deixando os fãs da banda arrepiados, com Robert Smith assistindo na plateia. Três meses depois, na última turnê do blink-182 antes do hiato indefinido em 2005, Robert Smith foi convidado ao palco para cantar “All Of This” (do Blink-182) e “Boys Don’t Cry” (do The Cure) na Wembley Arena, Londres, em 6 de dezembro de 2004.
Em seguida, vem a tão aguardada (sem querer) “Terrified“. Aguardada no sentido de que os fãs já tinham a expectativa de uma música no estilo Box Car Racer (projeto paralelo de Tom e Travis em 2002), pois Travis e Tom deram alguns sinais disso no Twitter há alguns anos atrás. No entanto, até o momento do lançamento, não sabíamos ao certo qual seria essa música, mas quando você aperta ‘Play’, é recebido por um riff de guitarra super simples, porém com um timbre poderoso e pesado. Em incríveis dois segundos, qualquer fã do Blink e de seus projetos paralelos consegue decifrar que esta é, de fato, a música perdida do Box Car Racer há 21 anos atrás.
Não por coincidência, “Terrified” soa exatamente como “All Systems Go” e o refrão lembra muito “Tiny Voices” (ambas do Box Car Racer), trazendo a mesma linha sonora sombria e madura que o álbum inteiro segue do começo ao fim. Há rumores de que “Terrified” tenha sido escrita originalmente naquela época, o que encerra mais um caso para os fãs mais atentos.
Em seguida, temos a grande balada, que fez os fãs se afogarem em suas próprias lágrimas: “One More Time” (que dá nome ao disco). Esta música foi o puro suco da nostalgia. Seu videoclipe impactante não precisou se esforçar para chamar a atenção, mesmo daqueles que não são fãs. Afinal, todos sabem que o blink-182 é recheado de hits que marcaram uma geração inteira em todo o mundo. Quantas vezes você se viu assistindo à MTV na adolescência ou qualquer outro programa musical que não tenha passado clipes, documentários, shows e entrevistas deles? Pois bem, a proposta do clipe foi exatamente essa: uma viagem no tempo.
A música e clipe de One More Time são um show à parte
O videoclipe foi gravado em apenas um take, com uma câmera e um Chroma Key no fundo (quase que 360º), utilizando Inteligência Artificial para reconstruir todos os cenários dos clipes anteriores da banda, incluindo shows e entrevistas, apenas com a formação de Tom, Mark e Travis. Começa com o fundo de “Adam’s Song” (do álbum Enema Of The State de 1999) e se mantém assim até a chegada do refrão. Em seguida, vemos cenas do Warped Tour de 1999, “Feeling This” (do álbum autointitulado de 2003), “First Date” (do álbum Take Off Your Pants And Jacket de 2001), “TRL” (Total Request Live, programa da MTV americana dos anos 2000), onde o blink-182 se apresentou ao vivo em comemoração ao lançamento do álbum Take Off Your Pants And Jacket, tocando as músicas “Anthem Part Two”, “Dammit” e “The Rock Show” em 12 de Junho de 2001.
A viagem continua com “Stay Together For The Kids”, “After Midnight” (do álbum Neighborhoods de 2011), a mansão/estúdio (casa onde a banda passou os primeiros 4-5 meses escrevendo muitas músicas, como “Feeling This”, “Obvious”, “I Miss You”, “Down”, “Asthenia”, “Here’s Your Letter”, “Not Now”, etc. Eles alugaram essa casa para gravar o álbum autointitulado, localizada em 18211 Via De Sueno, Rancho Santa Fé, CA – Califórnia), “Down”, e então paramos em “I Miss You” no pré-refrão.
Um detalhe importante é que, na cena pós-refrão, eles cantam a frase “I Miss You“, exatamente como o cenário mostrado ao fundo. No refrão seguinte, temos “Up All Night”, “What’s My Age Again?”, “Always”, “The Rock Show”, a capa do álbum ao vivo da banda (do The Mark, Tom and Travis Show (The Enema Strikes Back!) de 2000), “All The Small Things”, “Blink-182 Live Reading And Leeds Festival 2014 (FLAME FUCK)” (onde ocorreu a primeira aparição da escrita ‘FUCK’ em chamas ao fundo do palco, em 7 de Julho de 2001), “Daytona Beach – Live 2000” (blink-182 live at Club 600 North, Plaza Resort & Spa, Daytona Beach, FL, EUA – Flórida. Esse show aconteceu em 23 de Fevereiro de 2000), e o restante da música se encerra no palco recente da turnê mundial.
Detalhando minuciosamente cada cenário, não poderia deixar de mencionar a letra em si, especificamente os versos de Mark, que tocaram profundamente o coração dos fãs: “I wish they told us, it shouldn’t take a sickness Or airplanes falling out the sky“.
Aqui, claramente podemos perceber um certo arrependimento por parte do trio, pelos anos perdidos enquanto estiveram separados, tanto na vida profissional quanto na pessoal. Após o hiato indefinido em 2005, Tom DeLonge formou a banda Angels And Airwaves, enquanto Mark Hoppus e Travis Barker formaram o +44, ambos no mesmo ano. No entanto, seus primeiros lançamentos e notoriedade tiveram repercussão em 2006.
Um pouco mais sobre os acontecimentos na jornada do blink-182
Um evento marcante aconteceu na noite de 19 de setembro de 2008, quando um jato executivo Learjet 60 caiu durante a decolagem do Aeroporto Metropolitano de Columbia, na Carolina do Sul. Dos seis ocupantes, quatro não sobreviveram. E entre os dois sobreviventes estavam Travis Barker e seu amigo DJ AM. Eles estavam retornando de uma apresentação do projeto TRV$DJAM em um show em Five Points. Após esse incidente, o blink-182 anunciou seu retorno durante a apresentação ao vivo do Grammy Awards de 2009. Em seguida, lançaram o álbum Neighborhoods em 27 de novembro de 2011 e o EP Dogs Eating Dogs em 18 de dezembro de 2012.
No entanto, em 2015, Tom novamente deixou a banda. Mais tarde, em abril de 2021, Mark foi diagnosticado com linfoma, um tipo de câncer que tem origem no sistema linfático. Curiosamente, Tom retornou ao Blink um ano depois, quando Mark já estava curado. Como diz a letra da música: “Eu queria que nos contassem, não deveria ser por causa de uma doença ou aviões caindo do céu“.
O que surpreendeu muitos foi a participação de Travis nos vocais nos últimos versos da canção. Travis sempre foi alvo de brincadeiras carinhosas dos fãs por ser uma pessoa fechada e de poucas palavras, mas seu talento na bateria é inegável, sendo eleito mais de uma vez o melhor baterista de todos os tempos.
Mas aqui vai uma bomba! Travis também canta em outras músicas, como “Obvious”, “Down”, “Cynical”, “Built This Pool” e “Quarantine” (uma música feita na época da Covid-19).
Para finalizar, o clipe se encerra com algumas cenas do Blink na adolescência. Por mais simples que seja, essa música e esse clipe estão recheados de memórias, que apenas os verdadeiros fãs são capazes de notar cada detalhe.
As outras faixas também contam muito da história do Blink
A próxima faixa (e outro single) é “More Than You Know“, e esse retorno não se sustenta apenas das nostálgicas piadinhas. Com uma batida acelerada e uma letra um tanto quanto madura, eles acrescentam nessa canção o bom e velho Punk Rock e Hardcore Melódico. Nela, podemos notar muitas referências sonoras do +44 em seu primeiro e único álbum de estúdio When Your Heart Stops Beating (2006).
“Turn This Off” tem um único e grande defeito… ela acaba num PISCAR de olhos (PISCAR. HÃ? PEGOU A REFERÊNCIA?!!)! Com apenas 23 segundos de pura adrenalina e…. piadinhas sujas que tanto amamos, ela claramente faz referência às tão curtas e clássicas “Joke Songs”, como “Family Reunion” e “Happy Holidays, You Bastard”, dentre tantas outras. Continuem assim, meus meninos! Mas, para você que está lendo isso, “If you’re too sensitive, well, turn this off!“.
“When We Were Young“, só pelo título, demonstra o quanto os membros do blink-182 estão ansiosos para trazer à tona toda a juventude de seu passado para os dias atuais, sem se preocupar com o que irão dizer ou pensar. Soa como um sentimento de saudades do que viveram e que não houve arrependimento em absolutamente nada em suas experiências ao longo da vida e carreira.
À medida que a música avança, também podemos notar versos de sentimentalismo com algum amor juvenil que ocorreu no passado, dando a entender que tudo era mais fácil e que o céu era o limite para aqueles momentos. Nos últimos dois versos da segunda estrofe, ele cita como a vida adulta é chata e imprevisível, que os contatos do passado já não existem mais, mas que as lembranças persistem até hoje. Isso reflete muito da vida dos três integrantes e mostra como eles decidiram quebrar essa barreira, mesmo que essa letra não esteja diretamente ligada à carreira do trio.
A música não se tornou um single, mas acabou sendo “vazada” propositalmente antes da data de estreia do álbum. Isso ocorreu porque o título da canção é o mesmo do Festival que ocorreu em Las Vegas e que contava com diversas bandas de pop punk dos anos 90 e 2000. O evento postou em sua página no Instagram, em 16 de outubro, um vídeo com a legenda “SEE YOU GUYS SOON 🖤 🎶 WHEN WE WERE YOUNG by @blink182“. Alguns comentários geraram dúvidas achando que o blink-182 criou essa música apenas para o evento… pode ser, não sabemos ao certo, mas é, sem dúvida, uma grande coincidência.
“Edging” provavelmente foi uma das coisas mais insanas que aconteceu, pegando todos de surpresa. Quer dizer, o que é poder acordar, pegar o celular e ver uma notificação do blink-182 de que a banda voltou com a formação “original” e, de quebra, um single novo?! E para enlouquecer ainda mais, um stories divulgando uma World Tour com uma lista imensa de regiões, incluindo o nosso Brasil! Seria a primeira vez deles aqui em mais de 30 anos de carreira. Eles iriam tocar no Festival Lollapalooza de 2023, mas infelizmente isso não se concretizou devido a uma cirurgia no dedo do Travis. O Twenty One Pilots substituiu o lugar deles. Tom acabou postando um vídeo na página do Instagram da banda pedindo desculpas aos fãs da América do Sul, mostrando-se muito animado com essa primeira passagem no continente e triste pelo ocorrido. O lado bom é que o Lolla 24 está chegando e… VAI TER BLINK!
“Edging” foi o primeiro single do álbum e foi lançada no dia 14 de outubro de 2022. Como os palhaços que eles são, o clipe se passa em um circo e a letra se refere a uma pessoa antissocial e de más condutas, que não é aceita nem bem vista pela sociedade (no caso aqui, a perseguição são de coelhos, o que também faz referência ao “Bunny”, antigo logo/mascote da banda). Apesar de se tratar de m@tar coelhos no clipe, isso pode haver muitas simbologias positivas, mas segundo Mark, não há nenhuma ligação. Será?
O próximo single, “You Don’t Know What You’ve Got“, provavelmente é a letra mais forte do álbum, pois retrata o quanto devemos valorizar a vida e seus acontecimentos antes que seja tarde demais. Enfatiza também a necessidade de reconhecermos e darmos o devido valor a algo ou alguém importante presente em nossas vidas. Essa música foi escrita devido ao câncer que Mark teve e como ele conseguiu superá-lo.
“Blink Wave” traz uma sonoridade eletrônica dos anos 80, o que chamamos de Synthwave, e podemos notar claramente logo na introdução, assim como em toda a música. Apesar de a letra não ter sido escrita diretamente para eles, ela claramente faz referências ao trio, principalmente para Mark e Tom. Ela explora muito a questão de superar relacionamentos do passado que não deram certo. Nas linhas de Mark “Yeah we tried/But never could escape the long goodbye“, remete à separação de Mark e Travis (+44) com Tom (Angels And Airwaves) e suas canções diretas um para o outro.
Um grande exemplo disso foi em “No, It Isn’t” (+44). Eles tentam seguir em frente, mas sempre são atormentados em seus sonhos. A resposta vem logo no refrão, com Tom nos vocais: “You know I just can’t keep my mind off you/ The pain’s so deep, I can’t get through/ With the midnight black-and-white tattoos“. Mesmo com a vontade insaciável de poder continuar, o ex-parceiro não sai de suas mentes. No verso “With the midnight black-and-white tattoos“, pode significar as memórias que passaram juntos e que as mesmas ficaram congeladas no tempo. Pois assim como as tatuagens, elas são eternas, podem ser dolorosas ao serem feitas, mas o resultado traz boas sensações e a beleza nelas contida.
Por outro lado, apesar de toda a inquietação de Tom e Mark em seus versos, eles tentam reacender o relacionamento. Partindo para a ponte da música, novamente com Tom nos vocais, ele cita: “Save me like the last time/ The best 10 days of my life, the best 10 days of my life“. Pode parecer piração, mas se pararmos para analisar, o número 10 foi a quantidade de trabalhos (CD/EP) lançados pelo Blink com Tom e Mark na formação, com exceção de Greatest Hits e o mais recente One More Time…. Então, o verso “Me salve como da última vez/ Os dez melhores dias da minha vida“, diz a respeito dos momentos em que Mark e Tom dividiam juntos no Blink e que esses eram os melhores que já vivenciaram.
Essa teoria pode parecer loucura, e de fato é, mas é muito satisfatório poder interpretar dessa maneira e acreditar que foi assim. Já existem comentários também de que a palavra “Wave” no título da música remete ao Angels And Airwaves, a outra banda de Tom, onde toda essa intriga começou. Destacando também o fato de que a sonoridade dessa música se encaixaria perfeitamente nos trabalhos do Angels And Airwaves e até mesmo do +44.
“Bad News” com certeza está no top 3 do álbum para muitos fãs, pois, assim como “Anthem Part 3”, traz aquela batida acelerada do bom e velho Hardcore Melódico. Nos leva à adolescência, com aquela vontade insaciável de pegar nosso skate e sair por aí sem rumo. O riff dessa música e ela por inteiro soam exatamente como a Era Dude Ranch (1997 – Tom DeLonge, Mark Hoppus e Scott Raynor), um álbum maravilhoso e o preferido de muitos fãs por ser o mais Old School (mesmo que sem o Travis), e sua letra traz o mais do mesmo: relacionamentos que não deram certo e que a melhor solução é deixar partir. O título da canção já diz tudo… o amor acabou.
“Hurt (Interlude)” é provavelmente a música mais pura, sincera e bonita já criada pela banda, apesar de triste. “Hurt” é um espelho inegável de Angels And Airwaves. Toda sua “estrutura espacial” permite flutuar e viajar pelas nuvens no momento em que você fecha seus olhos para ouvir. A letra, de fato, é literalmente de partir o coração, pois é exatamente isso o que ela retrata, é exatamente isso o que ela conversa conosco em suas perguntas. “Have you hurt like this before?“. Caso nosso coração já esteja muito machucado, a probabilidade dele se ferir ainda mais no futuro é muito grande. “Have you loved like this before?“. Aqui ele ressalta as duas faces da moeda, ou do amor, por assim dizer. Tanto lindo quanto cruel. Ou o quão cego ele pode ser. Qual a intensidade com que amamos? Se o nosso coração já está despedaçado e jogado ao chão e tentarmos nos entregar de corpo e alma logo de cara como na primeira vez, é certo de que estaremos expostos a novas desilusões do amor. Estaremos vulneráveis a nos machucar de novo e de novo.
Pode-se dizer que “Turpentine” é uma tragicomédia. Apesar de muitos versos serem engraçados e a maneira como ela é levada do começo ao fim, o tema abordado é bastante sério (o famoso “rir para não chorar”), pois ela fala de vícios e do conflito interno que temos na nossa mente. A música é recheada de metáforas, tais como um refúgio, uma válvula de escape temporária para aliviar os nossos problemas. Ela também representa a incerteza, ora temos esperança e salvação, ora nos vemos novamente no fundo do poço.
Agora, se você me perguntasse o que é “Turpentine”, que traduzida significa “Terebintina”, você nunca iria ter uma resposta concreta minha do que seria isso. Certamente é o nome mais curioso que já vi em uma música. Mas, segundo algumas pesquisas, a terebintina nada mais é do que um solvente natural utilizado no artesanato, sendo usado na mistura de tintas, vernizes e polidores. É também o diluente ideal para tintas destinadas à pintura de óleo sobre tela e é totalmente isenta de impurezas (guarde essa palavra). Segundo outra informação (que é a que vai mais valer aqui), esse produto também é ótimo para ser passado dentro dos armários, pois previne pragas urbanas como traças e cupins e ao mesmo tempo conserva a madeira.
Dito tudo isso, você deve estar se perguntando: “Que diabos isso tem a ver com a música? Parece que estou numa página de tiazinhas!” Bom, agora que sabemos o que é “Terebintina” (espero que eu tenha explicado corretamente), e analisando minuciosamente a canção mais uma vez, basta ligar/encaixar as peças para ver como faz algum sentido. Sabemos que é um produto isento de impurezas, ou seja, o personagem da música tenta de alguma forma se limpar (ato de purificação) com o produto (“Wash yourself with turpentine“), e as traças e cupins nada mais são do que os vícios e problemas que corroem o interior do personagem (que é o “armário”). As metáforas que são utilizadas durante os versos são pensamentos em conflito consigo mesmo, de que realizar esses atos os quais ele afirma pode amenizar as dores constantes que ele sente.
De uma coisa é certa, apesar da música ser brilhante, ela é ao mesmo tempo muito viajada. Estariam nossos integrantes chapados ao criar essa música? Uma lavagem com terebintina seria necessária.
A música “Fuck Face” não é necessariamente uma “Joke Song” como “Turn This Off!”, mas é igualmente curta. Com apenas 27 segundos de pura agressividade, ela expressa um protesto, o descontentamento e a irritação com alguém que monopoliza uma conversa sem permitir que os outros expressem suas opiniões. A música se baseia repetidamente nos seguintes versos: “Shut up, you talk too much, you talk too much, you talk too much“. Esta é a faixa mais pesada do disco, pois sua sonoridade evoca o clássico punk rock cru e rasgado.
Surpreendentemente, foi cantada por Travis Barker, o que pegou muitos de surpresa, já que sua voz estava muito agressiva e, para a maioria, irreconhecível. Isso só foi percebido quando Travis postou um vídeo dele mesmo no estúdio gravando os vocais da canção. Talvez isso faça alusão à piada interna entre os fãs sobre Travis sempre ser um homem de poucas palavras, e agora ele abre a boca para cantar uma música inteira, mesmo que muito rápida. Essa pode ter sido uma brincadeira feita pelos próprios integrantes para os fãs
Este álbum está cheio de surpresas, e como todo o álbum está repleto de referências aos projetos passados dos membros, “Fuck Face” não é exceção, já que tem uma semelhança total com a banda de rapcore paralela de Travis Barker, Tim Armstrong (Rancid) e Skinhead Rob (Death March e Expensive Taste), o The Transplants. Vale ressaltar que Tim Armstrong foi um dos compositores desta música, então era natural que The Transplants fosse mencionado. Aproveitando o fato de que Robert Smith teve seu nome creditado neste álbum na música ‘Fell in Love’, e teve uma participação em “All Off This” no passado, Tim Armstrong também colaborou vocalmente na música “Cat Like Thief” (Box Car Racer – 2002). Como mencionado antes, este álbum está repleto de surpresas nostálgicas.
“Other Side” é mais uma música repleta de lembranças e sentimentos, pois foi dedicada a Robert Ortíz, falecido em Maio de 2022, que era o técnico de baixo de Mark há mais de 15 anos. Ele estava sempre viajando e nos palcos com a banda, especialmente com Mark. Não é por acaso que essa música é inteiramente cantada por ele no álbum inteiro (assim como ‘Bad News’), já que o vínculo entre os dois era mais forte. Por isso, no primeiro verso do refrão, ele diz: “It’ll never be the same stage, right“, enfatizando que seus momentos de alegria dentro e fora dos palcos nunca mais serão os mesmos. No próximo verso: “But we’ll always have that coffee life“, faz referência à hashtag que Robert usava em algumas de suas postagens no Instagram quando havia café (#WeGotThatCoffeeLife).
Além disso, Robert tinha sua própria empresa de grãos de café chamada Stage Right Coffee Company. Ele era um amante do café e frequentemente aparecia em seu Stories segurando um copo de café com legendas como “Coffee Life” ou “Got That Coffee Life”. Agora, veja bem, o nome da empresa de café de Robert era Stage Right Coffee. Se observarmos novamente o primeiro verso do refrão “It’ll never be the same STAGE, RIGHT“, temos aqui um duplo sentido (GENIAL) na canção, fazendo referência ao nome da empresa de Robert e declarando seus momentos juntos nos palcos. “We grew up Siouxsie and The Banshees” faz referência à banda inglesa de rock formada em Londres em 1976 que eles costumavam ouvir juntos.
Há muitas outras referências dentro da música, como em todas as outras, mas selecionei os versos que mais tocam o coração e nos fazem refletir sobre como eles provavelmente chegaram até ali ao escrever as letras, e também para não alongar demais o texto. A propósito, muito obrigado se você ainda está aqui! Já está acabando, eu prometo.
Childhood e reflexões finais sobre One More Time…
Por mais que o álbum por completo tenha músicas eletrizantes e divertidas, grande parte, ou talvez ele inteiro, encontra-se muito sombrio. Isso sugere que os caras estão envelhecendo (isso é fato), e isso é aterrorizante.
“Childhood” é uma música simplesmente LINDA e fecha o álbum trazendo mais uma letra de nostalgia e saudades do passado, de como os melhores dias de suas vidas estão guardados na juventude e a frustração dos dias atuais. Ela expressa a sensação de que o mundo mudou e as pessoas dessa geração não sentem a mesma sensação como a geração passada. Mas isso, por um lado, é o pensamento de uma pessoa que já está envelhecendo e não pode acompanhar as mudanças, pois vive presa no passado, nos dias em que mais se sentiu realizado. A música inteira é baseada em versos com esse significado e nota-se claramente a ausência de dias melhores. Ela também cita como as pessoas de hoje se esqueceram do que é poder sonhar na infância e correr atrás desses sonhos. Mesmo que, em alguns casos, isso não seja possível, a inocência de uma criança sempre fez tudo isso parecer possível.
Nos primeiros versos “I see signs up in the sky/ Disappear before my eyes” e “Guess we’re all desensitised/ Forgot the meaning of our lives“, é nítido que eles tentam explorar a transição da perda da inocência de uma criança (de que tudo é possível quando nos permitimos sonhar) para a vida chata de um adulto. Percebe-se o desespero de querer escapar do presente, dos dias atuais e voltar para o passado: “What’s going on with me? / Everybody seems / So lost, I wanna leave / 2023, who the fuck are we?“. O refrão revela a essência do álbum, mencionando fortemente a sensação de nostalgia e saudades do passado.
Quem conhece bem a banda sabe o quanto eles tiravam sarro de tudo e não se importavam com opiniões alheias. Eles eram felizes com o que faziam e como agiam. Sem preocupações, com alguns medos, é claro, pois isso é natural do ser humano em qualquer fase, mas nada tirava a alegria deles de contar uma piada, não importava onde estivessem. Isso talvez tenha sido a cereja do bolo para alavancar a carreira da banda e torná-los o que são hoje. O jeito inocente e os sonhos de sua infância os levaram onde sempre quiseram.
E hoje, na casa dos 50, passando por diversos obstáculos da vida, driblando até mesmo a morte, perceberam o quanto a vida pode ser cruel e curta ao mesmo tempo. Então, por que levar tudo tão a sério? Por que não retornar à sua essência e reviver aqueles melhores dias de suas vidas?… por que não perdoar? Como diz o refrão da música ‘One More Time’: “Eu tenho que morrer para ouvir você dizer que sente minha falta? / Eu tenho que morrer para ouvir você dizer adeus? / Eu não quero agir como se houvesse amanhã / Eu não quero esperar para fazer isso mais uma vez“. Para finalizar o álbum, eles acrescentam um som de 8-bits, remetendo à infância e aos jogos eletrônicos dos anos 80/90, já que Mark é um grande fã de video games. E, claro, blink não é blink sem um solo de bateria de Travis (e diversos outros fatores), não é mesmo?! Então foi exatamente isso que esses caras fizeram. Eles prometeram e realmente entregaram tudo e mais além!
Ufa! Quanta coisa boa esse álbum nos proporcionou, não é mesmo?! O que? Ainda não acabou? Não, não acabou!
Após o lançamento oficial do álbum, cinco dias depois (25/10), o blink surpreendeu os fãs com mais duas faixas bônus inéditas: “See You” e “Cut Me Off”. E claro que sou suspeito para falar, mas ambas são perfeitas também.
One More Time… teve 125 mil unidades vendidas em sua primeira semana, o que levou o trabalho ao topo da Billboard 200. Isso só mostra o que esses três juntos são capazes quando estão unidos. Tomara que eles nunca mais se separem.
“A vida é a infância da imortalidade.” – Johann Wolfgang von Goethe