Quando se fala de punk rock/hardcore melódico, a que lugar nossa mente nos transporta primeiro? Sejamos sinceros…Estados Unidos. E tudo bem, afinal a maior parte das bandas do gênero veio de lá. Mas se há algo capaz de ultrapassar fronteiras, isso é a música. E isso nos traz à calorosa América do Sul, mais precisamente à Argentina, terra de Maradona, Boca Juniors e, sim, terra de Carlos Damián Rodriguez (Nekro, para os íntimos), Boom Boom Kid e Fun People.
Se você está familiarizado com essas vertentes musicais, há uma enorme possibilidade de essas duas bandas fazerem parte de suas playlists diárias. O Fun People veio primeiro, atuando de 1989 a 2001. Quando a banda se desfez, Nekro iniciou as atividades do Boom Boom Kid e está na ativa até hoje, se tornando uma velha conhecida dos brasileiros, já que está sempre por aqui, inclusive em 2022, quando tocou no Hangar 110.
Já para o começo de 2024, o grupo preparou uma surpresa: três shows, sendo dois no Sesc Paulista, e um terceiro – e muito especial – no Fabrique Club, tocando um belo set do Fun People e matando nossa saudade da banda, em evento produzido pela Powerline Music & Books.
E se você acha que o fato de o Boom Boom Kid ser um habitué em terras tupiniquins tornou as apresentações menos interessantes e contagiantes…você está TERRIVELMENTE ENGANADO. Os dias 18, 19 e 20 de janeiro foram marcados por shows intensos, com aquele calor gostoso típico do povo sul-americano. Mas vamos nos concentrar no set do Fun People, que contou com outro convidado ilustre: Cantlon Bernarbe, outro membro original do já extinto grupo, se juntando a Nekro, Marcelo Vidal (bateria), Javier Marta (guitarra), e Ruben Dario Lopez (baixo).
Fun People: É hora de matar as saudades
Sábado, 18h, chuva caindo em São Paulo. Parece o clima ideal para ficar em casa, certo? ERRADO! Não ia ser uma garoinha que estragaria uma noite tão especial. Sem banda de abertura, o momento era de chegar à casa e esperar ansioso pela apresentação da banda argentina, que se preparava nos bastidores. Apesar da ansiedade, sabíamos o que estava por vir. Apresentações comandadas por Nekro e seus conhecidos dreads loiros são sempre carregadas de energia, melodia e paixão.
Pontualmente às 19h, a banda subiu no palco do Fabrique, trazendo consigo um repertório com clássicos que embalam a vida dos emos 30+. Músicas como Oro, Middle of The Rounds, Leave Me Alone e Si Pudiera deram o tom logo no início da apresentação, que praticamente não teve pausas. O quinteto sabia que o público ansiava por um show naquele formato: uma música atrás da outra, sem interrupções, preenchendo cada segundo com hits que há muito só eram ouvidos nos discos da banda.
E tinha mais, muito mais. Dando continuidade ao show, Looking For, Perdidos, A Mi Manera fizeram a trilha sonora do Fabrique Club naquela noite, com banda e público cantando em uníssono. Não havia sequer uma música da qual o público não soubesse a letra e cantasse a plenos pulmões. Em uma das poucas pausas, Nekro fez suas clássicas danças, esbanjando desenvoltura com seus já conhecidos solos de gaita totalmente descompromissados com qualquer técnica musical rebuscada, e enfatizando sua clara influência por parte do brasileiro Ney Matogrosso, conhecido por suas apresentações cheias de energia, dança e performance.
Um dos pontos altos das três apresentações do Boom Boom Kid em São Paulo foi o “surfe” de Nekro sobre os presentes, com seu velho bodyboard. Ao voltar ao palco, chamava o público para perto e, como uma espécie de guru do punk rock, tocava a testa de cada um e os “abençoava”. É um frontman que realmente sabe cativar e conquistar quem o assiste, sem se colocar acima de ninguém, se divertindo como qualquer um que esteve presente naquela noite, em uma grande celebração da música.
Chega de conversa, voltemos à ação. Quando a banda tocou Vientos, para mim, foi o ponto mais alto da noite. Todos pulando, cantando e celebrando juntos um momento que certamente ficará na história. Em seguida, a banda desce do palco, mas ninguém sai da casa. O conhecido script do bis. Estávamos certos. O quinteto voltou, tocou mais algumas músicas e pouco mais de uma hora depois, desceu do palco e se despediu do público, com aquela sensação de “dever cumprido”. Fun People acabou? Jamais! Não no nosso coração.
Agradecimentos a Camila Pazini, do blog Needles&Pins, que cedeu gentilmente as fotos dessa matéria.