Resenha e fotos por Elika (@entrecidades_kintsugi)
Mais fotos por Paola Oliveira (@aminadasbandas)
Com 14 anos de carreira, a banda carioca Zander iniciou semi-oficialmente a tour do novo álbum, Em Carne Viva, lançado em 2021.
Dizemos “semi-oficialmente” por conta do adiamento do show de lançamento, que ocorreria no início de fevereiro deste ano, mas, por conta dos casos da variante ômicron, foi remarcado para julho.
Em dezembro de 2021, o Zander chegou a fazer um pocket-show na FENDA315, em São Paulo, onde puderam testar pela primeira vez as novas músicas e oficializar o novo membro da banda, Lucas Theodoro (E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante), que além trazer mais peso e versatilidade com uma terceira guitarra, backing vocals, teclados e percussão, foi também o produtor do álbum Em Carne Viva, em conjunto com Gabriel Arbex (guitarra) e Gabriel Zander (vocal).
O álbum Em Carne Viva também marca a estreia de Carlos Fermentão na bateria, que entrou na banda no meio da turnê do álbum “Flamboyant”.
No último fim de semana, a banda conseguiu voltar aos palcos, ainda antes do show oficial de lançamento, mas para uma série de três shows e o que rolou nessas apresentações, a gente conta a seguir.
Sexta-feira, 18/2
O calor que fez durante todo o dia já indicava a intensidade e alta temperatura (literalmente) que iríamos encontrar naquela noite de sexta-feira no FFFRONT, casa localizada em Pinheiros, São Paulo: afinal, o Zander voltava aos palcos após dois anos, fazendo a espera valer a pena em shows épicos.
O primeiro show estava marcado para as 22h, e iniciou com atraso, por volta de 22h45, com o som de Otis Redding e sua bela “Dreams to Remember”, canção de 1968.
A princípio uma escolha inusitada (ideia de Gabriel Arbex) para abrir o show de uma banda de hardcore melódico, a música encaixou perfeitamente, com uma letra que fala sobre ter alguém ou algo tirado de nós: “lembrar disso sonhando”, como a música diz, pode refletir bem o que o período pandêmico tem sido para todos nós, com shows, familiares, amigos e ídolos sendo levados embora por tanto tempo e alguns em definitivo.
O gigante Otis deu espaço a outro: Carlos Fermentão, dando início ao show com a introdução da faixa-título do novo álbum, “Em Carne Viva”. Esse momento foi como ter tomado um sorvete após uma longa caminhada sob forte sol – e um sorvete cairia bem mesmo naquele momento, pois o calor que fazia no local foi se intensificando a cada música.
Em Carne Viva, o álbum, conta com oito músicas e, no show, todas são tocadas na mesma sequência do disco, sendo que e a cada três faixas novas, outras três músicas de álbuns e EPs anteriores são intercaladas.
O disco contou com participações de Lucas Silveira (Fresno), Teco Martins (Rancore), Isa Salles e Léo Ramos (Scatolove), Popoto (Raça) e João Lemos (Molho Negro) que, de surpresa, subiu ao palco assim que “Pela Janela” iniciou.
Pôde-se ver uma empolgação maior nos olhares ao redor e, para a felicidade do público, João voltou ao palco depois para a clássica “Depois da Enchente”, que João também registrou com a banda no álbum Vivo, de 2019.
Sábado, 19/2
No sábado, a banda integrou o festival 1100 GRAUS, que aconteceu no Studio 1100 em Diadema, dividindo o palco com bandas como menores atos, Glória e outras, mas, como em todo festival, um setlist mais curto foi necessário.
Domingo, 20/2
De volta ao FFFRONT, quem não pôde ver a banda nos dois dias anteriores, conferiu no domingo exatamente o mesmo show, a mesma sequência de músicas no setlist, das novidades aos clássicos, como “Dezesseis”, “Até a Próxima Parada”, “Dialeto” e, a música mais tocada da banda nos streamings, “Bastian Contra o Nada”, que faz uma alusão ao personagem Bastian, de “História Sem Fim”, e saúde mental.
Aos fãs mais antigos, não só da banda, mas também de Gabriel Zander, restou apreciar com super empolgação a presença da música “Antes da Enchente” no setlist, música que é do repertório da banda Noção de Nada, da qual fez parte Marcelo Mani, Gabriel Arbex e Gabriel Zander e é uma das mais respeitadas da cena até hoje, responsável por influenciar até a Fresno, como já declarou o próprio Lucas Silveira.
O diferencial da noite de domingo foi, além do próprio público e do frio que fazia na cidade, a participação de Cyro Sampaio (menores atos) na ótima “Caos Efeito”, do EP Tropical Melancolia, parceria de 2020 entre Zander e menores atos.
A banda finalizou o show de domingo antes da meia noite, com Gabriel Arbex na maior perfeição possível na guitarra, Carlos Fermentão destruindo (quase que literalmente) os pratos e ordenando um brinde a quem se dispusesse na plateia, com sua latinha erguida a cada música, Theodoro super empolgado e preciso em cada uma de suas habilidades, Marcelo Malni super concentrado e impecável a cada nota do baixo, e Gabriel Zander que, mais do que qualquer outra pessoa, soube dizer tudo o que queríamos e precisávamos ouvir e, assim como cantou em “Pólvora”, a última música do show:
“Espero que até o fim seja sempre assim”.
O que se viu nessa retomada de shows da banda pode se resumir na palavra mais clichê e óbvia possível: saudade. A banda tocando como se realmente pudesse nunca mais ter tocado e os fãs cantando o mais alto possível, se emocionando a cada frase.
Como dito por alguém que passava por mim na saída, o sentimento de todos deveria ser o mesmo: “C*****, COMO EU TAVA COM SAUDADE DISSO”.
_________________
O Zander volta aos palcos com o lançamento oficial de Em Carne Viva no dia 16 de julho na Fabrique, em São Paulo. Ainda tem ingressos no site da Pixelticket!