A segunda edição do GPWeek veio com tudo e, após um primeiro dia bem pop punk, o festival teve um segundo dia mais voltado para o rap e hip-hop com um show histórico do Kendrick Lamar.
Com exceção do duo de música eletrônica, Sofi Tukker, o lineup do segundo dia do GPWeek foi majoritariamente composto por artistas pretos, cujas músicas trazem uma ótica de extrema importância para assuntos de empoderamento racial.
Do Rap ao Eletrônico e do Funk ao Jazz
Tasha & Tracie, dupla de rappers brasileiras formada pelas irmãs gêmeas Tasha Okereke e Tracie Okereke foi a primeira atração a subir no palco do GPWeek no domingo. A dupla vem se destacando cada vez mais no cenário do rap nacional. Só neste ano, as irmãs foram atração de alguns dos maiores festivais do Brasil.
A segunda atração a se apresentar foi a cantora IZA, que agraciou o público do Allianz Parque com seu repertório que transita entre pop, funk e R&B. IZA cantou, dançou ao lado de seus dançarinos, conversou com o público de GPWeek. Em um dos momentos do show, a cantora convidou o rapper L7nnon para o palco na música “Fiu Fiu”. A cantora também fez questão de cumprimentar Masego, cantor jamaicano de R&B que estava na plateia acompanhando o show. Já na música “Sintoniza”, IZA desceu do palco e foi correndo até a galera que estava na pista paddock para cantar a música enquanto cumprimentava os fãs.
Na queda da tarde, o duo de música eletrônica Sofi Tukker foi o que mais se distanciou das demais atrações no estilo musical. Sophie Hawley-Weld e Tucker Halpern já bem conhecidos pelos fãs de música eletrônica e pelo hit “Drinkee” subiram ao palco para fazer uma rave no GPWeek. Com bastante carisma, o duo brincou com uma dinâmica de pontuar o público brasileiro a cada música cantada e dançada pela galera. No fim, o placar entre Nova York e São Paulo ia ser decidido por esses pontos – Brasil ganhou, mas claro que isso foi apenas uma brincadeira para fazer a galera engajar mais – e funcionou. Sophie é alemã, mas tem grande apreço pela língua e cultura brasileira por já ter morado aqui. Não à toa, muitas das músicas do duo têm letras em português. As cantoras brasileiras Mari Merenda e Sophia Ardessore foram convidadas a subir no palco para cantar “Veneno“, música recém-lançada em parceria com o Sofi Tukker.
Uma das atrações mais aguardadas do dia, o cantor Stephen Lee Bruner, que se apresenta sob o pseudônimo Thundercat foi recebido no GPWeek sob fortes aplausos do público. O cantor e multi-instrumentista americano, junto de sua talentosíssima banda, trouxe um repertório repleto de jazz, soul, hip-hop e muito, muito groove.
Thundercat já venceu o Grammy Awards em 2016 por Melhor desempenho solo de rap por “These Walls” e em 2021 por Melhor Álbum de R&B Contemporâneo por It Is What It Is. O show contou com um setlist que passa por várias etapas da carreira do cantor. Em determinado momento, Thundercat disse que os músicos favoritos dele são brasileiros e contou que escreveu a música “Overseas” após uma viagem ao Brasil. Os sucessos “Funny Thing“, “Them Changes” e “No More Lies“, parceria com Tame Impala, fecharam o show.
Kendrick Lamar fez show rápido e suficientemente bom para ser histórico
A esse ponto, o estádio já estava “lotado”, entre aspas porque mesmo tendo mais público que no dia anterior, o GPWeek não chegou a ter sold out de ingressos. Mas isso não foi um problema para o público que aguardava um dos maiores nomes do rap atualmente, Kendrick Lamar.
O músico subiu ao palco do Allianz Parque pontualmente, sob muitos gritos de entusiasmo dos fãs que enfrentaram uma noite fria para ver o músico. Sem uma grande estrutura de palco, Kendrick se apresenta no estilo minimalista, sozinho, com um feixe de luz que o acompanha em todos os movimentos. Aos poucos, bailarinos sobem ao palco para performances teatrais. A genialidade de Kendrick não é mostrada em tamanho de estrutura e sim na grandiosidade e potência das músicas.
Lamar iniciou o show com “N95“, dali em diante foi uma chuva de hits, cada uma das músicas na ponta da língua dos fãs, que acompanhavam o rapper em cada rima. Poucas vezes vi um público tão entusiasmado quanto o do Kendrick. As pessoas cantavam, pulavam, se emocionavam, gritavam e levavam as mãos para o alto no ritmo de cada batida. Foi uma verdadeira celebração.
Kendrick é uma das maiores influências do rap desta geração e também sempre foi um dos nomes mais pedidos entre os fãs para os lineups de festivais aqui, mas esta é apenas a segunda vez do rapper de Compton aqui no Brasil.
Desta vez, a passagem do rapper pelo Brasil teve um ingrediente especial: Kendrick parou o show para chamar o músico Thundercat, que o assistia da área vip, para subir ao palco. Os músicos já trabalharam juntos no álbum To Pimp a Butterfly (2015). Visivelmente feliz, Kendrick fez questão de explicar que aquela era a primeira vez em que os dois dividiam o palco, um verdadeiro momento histórico e quem estava no GPWeek pôde presenciar esse encontro, que foi eternizado com uma foto.
Outros artistas do rap nacional também acompanharam o show do rapper no Allianz Parque: Mano Brown, Emicida, BK, Rincon Sapiência, Lucas Carlos, entre outros.
Seguindo com o show potente e rápido, Kendrick chegou a tocar 22 músicas no setlist, uma atrás da outra. Hits como “King Kunta“, “DNA.“, “HUMBLE.“, “Count Me Out“, “Money Trees” e “Bitch, Don’t Kill My Vibe” foram os mais celebrados pelo público. Também teve um momento pra lá de especial (e clássico de shows em estádio, convenhamos) na música “LOVE.“, quando os fãs levantaram suas lanternas de celular para acompanhar o músico. A música “Alright“ foi a responsável por finalizar o show, sem muitas firulas, Kendrick finalizou dizendo que vai voltar.