
Filmes de fantasia infanto-juvenil já foram, um dia, um gênero cinematográfico muito prolífico. Obras dos anos 80 como A História sem Fim (1984) e Labirinto (1986) – cultuada aventura estrelada e cantada por David Bowie – são lembradas com muita nostalgia por aqueles que puderam prestigiá-las na infância. A predominância das animações 3D e filmes live-action ambientados inteiramente em mundos gerados por computação gráfica, como Um Filme Minecraft (2025), acabou afastando os filmes de fantasia do imaginário popular, mas será que ainda existe espaço pra esse tipo de obra? É o que a gente reflete enquanto falamos sobre o filme A Lenda de Ochi.
O que é A Lenda de Ochi?
A Lenda de Ochi, filme de estreia do diretor estadunidense Isaiah Saxon, propõe resgatar um pouco dessa magia do passado. O filme acompanha a jornada de Yuri (Helena Zengel), uma menina que vive em um vilarejo remoto na idílica ilha de Carpathia junto a seu irmão adotivo Petro (Finn Wolfhart) e seu pai Maxim (Willem Dafoe).
A harmonia da família começa a ser desafiada quando Yuri decide adotar um filhote de Ochi, animal mágico que é repudiado e caçado por todos os moradores do vilarejo, capitaneados pelo pai da garota. Ao ser confrontada sobre a situação, Yuri decide fugir para devolver o animalzinho à sua família, iniciando uma perseguição que esconde muitos segredos.
Uma ode aos clássicos
O primeiro fator que salta aos olhos ao início da projeção é o quanto o A Lenda de Ochi se preocupa em emular a estética das supracitadas produções de fantasia dos anos 80 e 90. A estética da filmagem, alcançada pelo uso de câmeras vintage e um design de produção muito colorido, busca a todo instante conversar com a nostalgia do público mais velho. Os Ochi, animaizinhos simpáticos que lembram em muito os diversos mascotes da franquia Star Wars, também foram criados a partir de fantoches e bonecos animatrônicos.
Tudo isso contribui para a criação de uma atmosfera convidativa e familiar para aqueles que detêm as referências do gênero, resta saber como este apelo se traduz ao público infantil. Retirada a nostalgia, sobra alguma qualidade à Lenda de Ochi?
A verdade é que sobra sim. O ritmo acelerado de aventura, os visuais interessantes e os bonecos amigáveis fazem com que o filme, que não é tão extenso, passe mais rápido ainda. As atuações contribuem, principalmente a de Willem Dafoe, cujo personagem e alcance dramático são a força-motriz do roteiro. Dafoe dá vida a um antagonista ambíguo que, mesmo controlador e cego pelos próprios anseios, possui boas intenções e sofre a todo momento com os rumos da situação em que se encontra.
Mesmo que um tanto derivativo, pegando emprestado muito da nostalgia de seus realizadores e de uma fórmula que já foi utilizada à exaustão, A Lenda de Ochi tem seu valor em meio ao mar de produções estética e tematicamente repetitivas destinadas ao público mais jovem. Talvez até funcione como uma porta de entrada para que os pequenos conheçam algumas das aventuras mais antigas, protagonizadas por crianças que, hoje em dia, já têm até cabelos brancos; mas que permanecem como os jovens aventureiros de outrora no imaginário da cultura pop.