
Buzzcocks (Fotos por Matheus Paiva/Musicult)
Shows de bandas completando 40, 50 (às vezes até 60) anos de estrada são comuns em uma cidade como São Paulo. E em todos eles, uma pergunta sempre passa pela cabeça dos fãs — especialmente da faixa dos 30: como é possível tanta energia? O show dos Buzzcocks no último sábado, 24 de maio, em São Paulo, não foi diferente.

Com 49 anos de banda e a poucos meses do cinquentenário, os ingleses mostraram fôlego de sobra durante uma apresentação de cerca de 1h30. Foi um show diferente dos já presenciados pelos paulistanos nas quatro passagens anteriores da banda pela cidade. Agora sem o frontman, letrista e vocal principal Pete Shelley, falecido em 2018, os Buzzcocks subiram ao palco em São Paulo com uma “nova” voz, naturalmente destoante no tom e no tempo de Shelley, mas com certeza a mais amiga, Steve Diggle assumiu a frente da banda que ajudou a criar lá em 1976 e não deu margem para o público sentir qualquer estranhamento por muito tempo.

A quinta visita do Buzzcocks a São Paulo contou com duas bandas de abertura e uma dupla de DJs. O line-up, composto por Sweet Suburbia e Excluídos nos palcos e Nicolas Bahia e Fatiado Seleta na mesa de som, foi certeiro para quem curte o punk 77. Apesar dos shows curtos e da casa ainda enchendo, os fãs dessas bandas marcaram presença logo nas primeiras fileiras e mantiveram a energia em alta, durante os shows e também no som das mesas.
A vibração do público compensou a imobilidade dos fãs mais velhos dos Buzzcocks, que talvez não conhecessem tão bem os grupos de abertura (ainda que tenham seus próprios 20~30 anos de estrada). Bandas que também tinham seguidores tão fiéis quanto a atração principal.
Com horários cravados para as apresentações e os intervalos, os Buzzcocks subiram ao palco pouco depois das 19h30. E começaram com tudo: logo de cara, mandaram um de seus maiores sucessos, “What Do I Get?”, abrindo a sequência de cinco hits emendados: “What Do I Get?”, “Harmony in My Head”, “I Don’t Mind”, “Everybody’s Happy Nowadays”… O ritmo inicial marcando como seria o restante da noite — uma alternância certeira entre lados B e clássicos..

Ouvir as músicas de sempre com uma voz nova pode causar certo estranhamento no início, mas nada que alguns clássicos e a energia de Steve Diggle — único membro fundador ainda na banda — não resolvessem. Para os fãs atentos à trajetória do grupo, ver Steve no palco, comandando o show e mantendo viva a banda que fundou em 1976, foi mais do que suficiente para celebrar. Além dele já ter dividido palcos e histórias com praticamente todos os heróis do punk.
Se o show foi especial para os fãs mais fervorosos, também não decepcionou quem só conhecia os maiores sucessos. Além de ouvir os hits das rádios, esse público teve a chance de descobrir outras faixas mais obscuras — sempre acompanhadas de reações bem animadas dos fãs mais dedicados. A catarse se concretizou na última música do set: “Ever Fallen in Love (With Someone You Shouldn’t’ve)”, o maior clássico da banda, reconhecido tanto nas festas punks mais underground de São Paulo quanto no mainstream de séries e trilha sonora de Shrek.
Quem já era fã dos Buzzcocks saiu mais apaixonado. Quem conhecia pouco, provavelmente voltou pra casa curioso para ouvir mais. E todos ficaram na torcida para que esse show de (quase) 50 anos não tenha sido o último da banda em terras paulistas — nem brasileiras.

Texto e fotos por @matheusp