
Air (Foto cedida pela assessoria do evento)
Com alguns dos melhores shows do ano no line up, em sua terceira edição, o C6 Fest mostrou que tem tudo para se consolidar como o festival queridinho dos indies, ainda mais depois do fim do Primavera Sound São Paulo (que não aconteceu em 2024 e não deu sinal em 2025) e da virada cada vez mais pop e mainstream do Lollapalooza.
E isso se deve, sem dúvida, a um dos grandes acertos do C6 Fest: a curadoria musical, que trouxe nomes diferentes e incríveis que não foram lembrados em outros festivais nos últimos anos e que misturam clássicos com descobertas mais recentes, indo de Nile Rodgers, Air, Wilco e Pretenders a A.G. Cook, Agnes Nune e The Last Dinner Party. E isso porque estamos falando apenas do fim de semana, sem contar a quinta e a sexta-feira que levaram shows ainda mais diversos ao público apaixonado por música.
Ocupando muito bem o Parque do Ibirapuera, o festival contou com 4 palcos no sábado e no domingo, além das tradicionais ativações de patrocinadores e de áreas de descanso e alimentação. Tudo muito bem distribuído, exceto pelos palcos principais serem bem distantes um do outro e os horários entre um show e outro muito apertados – isso quando não aconteciam quase simultaneamente, como o caso de Gossip e Pretenders. Inclusive, isso foi uma reclamação do público desde o início. O festival até reajustou alguns horários, mas muita gente seguiu infeliz. Podemos aceitar que festival é mesmo uma escolha e uma renúncia a cada show ou diminuir a quantidade de palcos e reajustar os horários dos headliners? Fica aí uma coisa a se pensar para as próximas edições.
Mas, agora, vamos falar do que interessa: quais os melhores shows do C6 Fest 2025? Confira nessa lista.
Os melhores shows do C6 Fest 2025 (sábado e domingo)
A.G. Cook

Como se a gente tivesse embarcado em uma viagem futurista, A.G. Cook transformou a vibe do C6 Fest em uma festa de música eletrônica, em que o artista ficou, praticamente, em segundo plano. O palco era escuro, os telões exibiam projeções coloridas, o som estava muito alto e A.G. Cook falou pouco com a plateia, focando em tocar e, de vez em quando, cantar em microfones carregados de autotune.
O produtor de Brat, um dos álbuns pop mais emblemáticos dos últimos tempos, fez do C6 Fest uma rave britânica e rolou até “Mean Girls” no final do setlist. É daqueles shows tão imersivos que te fazem esquecer do tempo.
Gossip

O Gossip foi o headliner do sábado na Tenda Metlife, segundo maior palco do C6 Fest, e mostrou porque era um dos shows mais aguardados da edição. Assim que terminaram a primeira música, “Listen Up”, a plateia, que já tinha cantado muito alto, ovacionou a banda. Beth Ditto, que é um show a parte, se mostrou muito emocionada com o carinho e contornou o fato de estar quase lacrimejando com uma piada: “Só pra vocês saberem, nós não somos o The Pretenders… vocês vieram ver o The Pretenders, né?”, fazendo referência ao show que acontecia no palco Heineken, do outro lado do festival (infelizmente, quem escolheu ver Gossip perdeu boa parte do show do Pretenders, já que um começou apenas 30 minutos antes do outro). A vocalista ainda completou dizendo que lamentava os shows acontecerem simultaneamente porque ela queria muito ver Pretenders ao vivo (nós também, Beth).
A vibe dos fãs foi de emoção e alegria a cada música, o que se seguiu até o fim do show, mesmo quando a banda tocava faixas de seu álbum mais recente, Real Power, de 2024. Mas, claro, que os destaques ficam para os hits, especialmente “Move in the right direction”, que com uma letra sobre superação, levou o público a cantar tão alto que só não ofuscou Beth Ditto porque a potência vocal dela é ainda maior ao vivo.
Air

Assim que Gossip acabou, o espaço da Tenda Metlife ficou praticamente vazio, ocupado apenas por quem aproveitou a ausência de filas pra comer ou beber alguma coisa enquanto a maioria das pessoas se deslocava ao palco principal para ver os headliners do primeiro dia que, explicando para os mais jovens, eram o A.G. Cook do fim dos anos 90.
Se muita gente elogiou os trabalhos de A.G. Cook, como músico e produtor, por parecerem futuristas demais para o pop atual, lá em 1998 um duo francês lançou “Moon Safari”, uma “brincadeira” de dois músicos com sintetizadores e outros instrumentos que resultou em um álbum emblemático que foi tocado na íntegra pelo duo no C6.
E, assim como o show de Cook, ao contrário da maioria dos shows do palco principal, que exibiam no telão um reflexo do show para os fãs do fundão, no show do Air a experiência é imersiva. O palco é escuro e o telão é inteiramente de projeções, que nos levam a viajar na vibe das músicas. Quem não enxergava os músicos, não reclamou, afinal “Moon Safari” ao vivo não é pra ver, é pra sentir.
English Teacher

O grupo britânico English Teacher pode ter pouco tempo de formação, mas compensa com empolgação e talento no palco.
Liderada pela vocalista Lily Fontaine, a jovem banda teve uma ascensão meteórica no último ano e impressionou na tarde do último domingo, na tenda Metlife, tocando sucessos de seu primeiro disco This Could Be Texas, que vem ganhando elogios de crítica e do público, inclusive levando prêmios importantes como o Mercury Prize de 2024.
O álbum reúne ótimas canções como “The World’s Biggest Paving Slab”, “Albatross” e “Nearly Daffodils”, que foram tocadas ao vivo com muita vontade. Em um certo momento, Lily desceu do palco e cantou colada na grade, bem perto do público. O quarteto de Leeds sentiu que sua estreia nos palcos brasileiros era especial e resolveu inovar, convidando uma fã para subir ao palco e tocar guitarra com eles.
Realmente, o English Teacher é sensacional ao vivo e deixou uma ótima impressão para nós, brasileiros.
The Last Dinner Party

As integrantes do The Last Dinner Party mostraram que toda a aclamação que vêm recebendo é bem merecida. Uma das atrações mais aguardadas do C6 Fest, a banda demonstrou logo no início o quanto estava feliz por tocar no Brasil, e o público correspondeu, cantando cada faixa do disco Prelude to Ecstasy a plenos pulmões. Muitas fãs levaram cartazes e compareceram com looks retrôs repletos com corsets e vestidos, assim como as integrantes da banda.
Aliás, o estilo do The Last Dinner Party é um elemento importante, como já falamos aqui, junto com a sua teatralidade.
No palco, a vocalista Abigail Morris encena uma personagem que sente profundamente cada faixa. Seja em “Caesar on a TV Screen”, “Feminine Urge” ou no hit “Nothing Matters”, elas mostram que mandam muito bem e passeiam pelo palco com intensidade. Somos apenas espectadores hipnotizados e, no final, torcemos para que elas voltem logo ao Brasil.
Seu Jorge Baile à la Baiana

Seu Jorge fez seu baile musical na Arena Heineken. Com um show que prestigia o disco Baile à la Baiana, lançado este ano, que mistura soul, samba e funk, ele ainda trouxe alguns de seus sucessos, como “Mina de Condomínio” e “Amiga da Minha Mulher”.
O show também contou com convidados especiais, como a cantora baiana Luedji Luna, que cantou “Banho de Folhas”, além dos percussionistas Magary Lord e Peu Meurray, duas figuras importantíssimas na produção do disco e ajudaram Seu Jorge a unir ritmos cariocas e baianos no palco do C6 Fest.
Wilco

Uma legião de fãs do Wilco se espremia entre as árvores da Tenda Metlife. Na terceira passagem da banda pelo Brasil (quase uma década depois da última), o show foi marcado por uma seleção de clássicos. Os integrantes brilharam tocando sucessos de toda a sua trajetória e mostraram por que são os reis do indie folk.
Era nítida a emoção dos fãs, muitos lembrando da juventude e dos momentos marcados pelas músicas do Wilco. E essa emoção não foi só do público, o vocalista Jeff Tweedy também demonstrou um carinho especial ao ver uma plateia tão dedicada que ansiava pelas suas músicas: “Por que a gente não fica logo aqui?”, disse ele em um momento do show. Caso o Wilco decida ficar, tenho certeza que seus fãs vão aprovar a ideia!
Nile Rodgers & Chic

Nile Rodgers é aquela lenda musical que você precisa parar tudo para ver. Aos 72 anos, ele e o grupo Chic transformaram o palco da Arena Heineken em uma pista de dança cheia de brilhos e paetês.
Nile tem inúmeros hits ao longo da carreira: de David Bowie, Madonna e Donna Summer, até clássicos modernos como canções de Daft Punk e Beyoncé.
Durante o show de 1h30, era impossível ficar parado. Músicas que embalaram várias gerações iam sendo tocadas uma a uma, em uma setlist escolhida a dedo. Um grande nome da música, que entregou um show leve, dançante e divertido, encerrando o segundo dia do C6 Fest 2025.
>>Confira vídeos de shows do C6 Fest no Instagram do Musicult
Resenha por Vitória Ataíde e Letícia Pataquine