
Municipal Waste (Crédtos: MHermes Arts/Reprodução Instagram oficial do festival)
O Bangers Open Air apresentou sua primeira edição com nome diferente. Afinal, o festival já existia com o nome Summer Breeze e teve outras duas edições muito bem-sucedidas. Porém, se alguém tinha dúvidas de que o festival não atenderia às expectativas após a mudança de nome, teve uma grata surpresa ao participar do evento. Com o mesmo nível de qualidade das edições anteriores, mudanças interessantes na área do palco principal e uma curadoria de bandas para agradar todos os fãs de metal, com uma boa diversidade de subgêneros, o festival afastou as incertezas e mostrou que continuará dentro do circuito dos grandes festivais do Brasil com excelente qualidade.
A melhoria mais notável no festival foi a mudança na pista dos palcos Ice e Hot, pois, nas edições anteriores, a “house mix” – grande mesa de som que fica normalmente instalada no meio das pistas – foi colocada para o fundo dos palcos, melhorando muito a visibilidade de quem comprou os ingressos de pista. Em contrapartida, a locomoção entre os palcos nos horários de maior pico continuou difícil. Afinal, não existe um corredor demarcado para que se ande de um palco para o outro. Mas isso não chegou a piorar; apenas se manteve igual às edições anteriores.
Outra mudança bastante notável foi a do Waves Stage – palco onde as bandas nacionais em ascensão se apresentam – que passou para o auditório do Memorial. Na edição passada, era um palco em espaço aberto, próximo à entrada do evento. No espaço, foram colocados novos bares e opções de alimentação para o público, outro ponto forte do festival, com diversas opções de comidas e bebidas atendendo a todos os gostos e públicos.
Quando se fala de música, vimos uma edição que trouxe de volta o power metal com grande protagonismo, com bandas como Powerwolf, Kamelot, Sabaton, Blind Guardian e Sonata Arctica. Também houve espaço para o thrash metal com Kerry King, Destruction e Dark Angel; heavy metal com Saxon, Viper, W.A.S.P. e muitos outros subgêneros como hardcore, countrycore, crossover, gothic/symphonic metal, entre outros.
Vamos destacar os cinco shows dessa edição que nos chamaram bastante atenção, apesar de não serem os headliners do evento.
5 shows de destaque no Bangers Open Air 2025
Municipal Waste
O Municipal Waste demorou 15 anos para voltar ao Brasil, e só retornou por conta de estar acompanhando Kerry King em sua turnê, a quem eles agradeceram durante o show, por tê-los trazido novamente após tanto tempo. Quem ganhou com isso foram os fãs de thrash/crossover, que foram contemplados com uma apresentação incrível de uma banda que nitidamente prefere locais menores, mas não se intimidou com um grande palco e um bom público, apesar do horário, e mostrou que gosta mesmo é da bagunça.
Com o vocalista Tony Foresta deixando claro desde a primeira música que eles estavam fazendo aquele show para a pista comum – e não para a pista premium – e reforçando o pedido para as pessoas irem para a roda e “surfarem” em cima de quem estava parado, Tony incendiou o público aos poucos. Depois de uma pedrada atrás da outra como “Slime and Punishment”, “Sadistic Magician” e “Breathe Grease”, foi difícil até para quem não conhecia ficar parado.
Lá pela metade do show, após apresentarem “Wave of Death”, outro clássico da banda que não deixou ninguém parado, o que se ouvia na pista no intervalo entre uma música e outra eram pessoas que não conheciam a banda fazendo diversos elogios. O show estava realmente muito bom, e os caras conseguiram jogar a energia do público lá em cima – com certeza ganharam diversos fãs que acompanharam a apresentação sem conhecer a banda e que provavelmente querem vê-los novamente.
Com uma hora de apresentação e incríveis 21 sons no setlist – mesmo com pausas para papos com o público, como o inusitado pedido de óculos de sol e maconha, e até a presença de pessoas fantasiadas de “Jesus Cristo” e “Goku” na plateia, que arrancaram boas risadas de Tony – a banda fechou sua passagem pelo festival com “Born to Party” e literalmente fez a festa do público do Bangers.
Matanza Ritual
O Matanza Ritual subiu ao palco do Sun Stage no meio da tarde de sábado para um excelente público. Abriram o show com um de seus grandes clássicos, “Meio Psicopata”, e tiveram alguns pequenos problemas com o som nas duas primeiras músicas, em que a guitarra não estava tão ideal quanto os outros instrumentos.
Em relação aos anos clássicos de Matanza em sua primeira formação, o Matanza Ritual fica devendo um pouquinho. Jimmy está jogando um pouco mais para a plateia ajudá-lo a cantar algumas músicas que exigem bastante dele, mas a banda definitivamente não perdeu o brilho. Afinal, Jimmy ainda continua um excelente frontman e arrumou bons parceiros para reviver os clássicos do Matanza com uma nova formação e não apenas se esconder atrás dos hits, mas também lançar material novo.
A banda lançou A Vingança É Meu Motor em março deste ano e apresentou canções como “Lei do Mínimo Esforço”, “Nascido Num Dia de Azar” e “Assim Vamos Todos Morrer”, que foram muito bem recebidas pelo público.
Voltando aos clássicos, ficam os destaques para grandes canções como “Tempo Ruim”, “O Último Bar”, “Pé na Porta, Soco na Cara” e “Clube dos Canalhas”, que ainda embalam muito bem o público da banda e fazem o Matanza Ritual se manter relevante e com excelente audiência, mesmo dividindo início e finalzinho de show com Sonata Arctica e Kamelot.
Saxon
O Saxon deu uma aula de rock n’ roll no Hot Stage do Bangers Open Air. A banda, com 50 anos de estrada, fez um show riquíssimo em detalhes, com uma qualidade sonora absurda – uma das melhores, senão a melhor, de todo o festival – e o público presente teve a oportunidade de ver esses jovens senhores, canção após canção, desfilarem hits e habilidades musicais.
Com um vocal intacto pela força do tempo e instrumentistas de extremo talento, fizeram um show para um Memorial já muito cheio, e quando vieram sons como “Motorcycle Man” e “Heavy Metal Thunder”, foi impossível ficar parado, sem cantar ou sem fazer um “air guitar”.
A cada pausa que a banda fazia para trocar de instrumentos ou apenas conversar com o público, o nome da banda era gritado por todo o Memorial da América Latina, sendo extremamente exaltados pelo fantástico show que estavam fazendo – provavelmente uma das bandas mais ovacionadas no sábado do Bangers Open Air.
Ainda houve espaço para outros bons sons como “Denim and Leather” e os clássicos “Wheels of Steel” e “Princess of the Night”, fechando a apresentação do icônico grupo de heavy metal inglês.
Dark Angel
O Dark Angel foi uma excelente adição ao sábado do Bangers Open Air. Quem estava à procura de ouvir um thrash metal de qualidade enquanto o power metal dominava os palcos principais com uma grande sequência de bandas pôde ver uma banda de muita qualidade.
Apesar de se identificar como thrash, o grupo tem bons traços de um metal mais clássico, com um vocal mais grave e riffs bem marcantes, mesmo sendo canções rápidas e com todas as principais características que um bom thrash pede.
Mesmo dividindo espaço com o Powerwolf na grade do festival, a banda teve um bom público, que esteve muito atento ao show e, claro, abriu muitas rodas para esquentar ao som de canções como “Darkness Descends”, “Time Does Not Heal” e “Death Is Certain (Life Is Not)”.
Um ponto muito legal do show foi a apresentação da música “Extinction-Level Event”, lançada 34 anos depois do último lançamento do Dark Angel. A canção foi dedicada com muito amor pela banda a Jim Durkin, o guitarrista fundador do Dark Angel, falecido em 2023. Ron Rinehart, visivelmente emocionado, contou que a música foi composta por Jim e que estavam muito contentes e gratos por terem conseguido finalizá-la e colocá-la no mundo. O público ficou muito feliz em poder ouvir o último registro de Jim Durkin pela banda que ele fundou.
O Dark Angel fechou o show com a explosiva “Perish in Flames” e deixou o público do Bangers Open Air com um gostinho de quero mais.
Kerry King

Kerry King se apresentou pela primeira vez no Brasil sem estar com o Slayer e trouxe toda a energia e os fãs de toda sua carreira para a frente do palco do Bangers Open Air.
Com um show que começou um pouco morno, mas muito afiado em questão de musicalidade, Kerry King dá nome à banda e também mostra certo protagonismo em canções com bastante destaque para sua guitarra, sem deixar de lado uma boa harmonia entre os músicos.
A plateia, num primeiro momento, pareceu esperar um cover do Slayer, aguardando ouvir grandes hits, mas Kerry King e banda parecem querer mostrar mais de seus novos materiais, sem se desvencilhar de sua origem. O setlist foi bastante tomado pelo seu primeiro álbum solo From Hell I Rise.
Apesar disso, lá pela quarta música do setlist o público entendeu do que se tratava o show e a nova banda de Kerry, e então entrou no clima. Foi assim que vimos, na música “Residue”, a primeira grande roda do show. A partir daí, o show engrenou de vez e vimos as maiores rodas do festival ao som de Kerry King.
Ainda houve tempo para a banda fazer a alegria dos mais nostálgicos com um cover de “Killers”, do Iron Maiden, e “Disciple”, “Black Magic” e a mais aclamada, “Raining Blood”, do Slayer, que foi um dos pontos altos de todo o festival e levou o público à loucura.
Não é todo dia que vemos o guitarrista de uma das maiores bandas de thrash metal da história tocando um dos maiores hinos do gênero ao vivo. Com isso, Kerry King conseguiu, apesar de um início não tão quente, emplacar os excelentes sons do seu primeiro álbum solo e, ainda assim, agradar quem estava ali aguardando ele executar alguma de suas grandes contribuições para a história do metal. Enfim, todos saíram extremamente satisfeitos.
Bônus
Vale a pena citar algumas outras apresentações muito relevantes do festival: o belíssimo show do Lacrimosa, fechando o palco Sun no sábado com uma qualidade extraordinária; o show do W.A.S.P., que não viria ao Brasil tocar seu show especial do álbum homônimo, mas acabou se contradizendo e tocou – além de contar com a ilustre presença do baterista brasileiro Aquiles Priester os acompanhando nessa turnê; e também os grandiosos shows de Sabaton, Powerwolf, Sonata Arctica e Blind Guardian, que brilharam como grandes nomes desse festival.
E assim se encerra nossa passagem pelo Bangers Open Air 2025. Ansiosos pela edição já confirmada do festival em 2026. Vida longa ao Bangers Open Air!