
Mudhoney em São Paulo - @cinejoia (Foto por: Matheus Machado @mpm.foto)
Fazia tempo que uma grande lenda do Grunge não vinha ao Brasil e, para matar a saudade do público, após 10 anos o Mudhoney voltou para uma turnê na América do Sul, com direito a quatro shows pelo Brasil. Em São Paulo, o show aconteceu no dia 21 de março no Cine Joia, e contou com a abertura de duas bandas nacionais que chamam bastante atenção atualmente: Elder Effe e Apnea.
Elder Effe
Elder Effe é um compositor paraense com uma grande bagagem pela música, e que já estava no nosso radar por estar fazendo apresentações muito elogiadas com sua banda, além de lançamentos recentes muito interessantes. A banda aproveitou muitíssimo bem a oportunidade de abrir um show para o grande nome da noite, Mudhoney. Nitidamente, o bom público já presente no Cine Joia, desde o início do evento, aprovou a apresentação. Com muitos aplausos e muita atenção da plateia, Elder Effe e banda apresentaram um som ao vivo muito consistente, com uma experiência até mais interessante do que nas gravações.
Com Augusto Oliveira (ex-Molho Negro) na bateria, a banda também contou com a participação de João Lemos, vocalista da Molho Negro, na música “Laurentino”, uma homenagem ao Mestre Laurentino, um clássico músico Paraense que faleceu em 2024 aos 98 anos, conhecido como “O primeiro rockeiro do Brasil”.
Elder Effe traz influencias e referências de sua regionalidade paraense para sua apresentação, e é muito importante ver um músico no palco trazendo a visão de ídolos do rock paraense e também sobre questões politicas da região. Antes de fechar a apresentação, Elder comentou sobre a COP30 que irá acontecer no Pará no final do ano e deve contar com a apresentação do Coldplay, e trouxe o sentimento dos artistas em querer ver a cultura regional representada na COP30, e não o Coldplay, uma banda sem identificação com a região, e fechou a apresentação com a emblemática “RatoCity” e com o público cantando junto “Calor Infernal, o lixo tá aumentando eu vou passar mal”.

Apnea
A banda Santista Apnea foi a segunda a se apresentar na noite, e cumpriu muito bem a missão de aquecer o público para o show mais aguardado da noite. Com uma mistura muito interessante de Stoner, Grunge e até um pouco de progressivo, a Apnea fez uma apresentação para um Cine Joia já muito cheio e recebeu muitos aplausos. Quem não conhecia a banda previamente, ou só sabia que Boka, baterista do Ratos de Porão, era um dos integrantes da banda, esperava uma apresentação mais rápida, mais hardcore/punk e foi surpreendido por uma banda que passeia entre sons bastante complexos.
Com solos de guitarra e um baixo bem encorpado nas músicas, além de um talento já muito conhecido na bateria, também mostrando sua versatilidade em tocar um estilo totalmente diferente do habitual. Vale o destaque para as canções do álbum de 2022, Sea Sounds, o primeiro e único full-lenght da banda, e também para os mais recentes singles lançados em 2024, “Undertow”, “Hope Springs Eternal” e “Paper Cut”.

Mudhoney
Com apenas 5 minutinhos de atraso do previsto, as 22:35, o Mudhoney subiu ao palco do Cine Joia. O fato curioso foi que a banda subiu ao palco, mas esqueceu as tradicionais folhas onde anotam o setlist, e o vocalista Mark Arm teve que voltar ao camarim para buscar. Passado o pequeno susto, o Mudhoney abriu o show com o clássico “If i think”.
Eu não me recordava a última vez que tinha ido a um Cine Joia tão lotado e também a última vez que tinha visto o espaço das paredes atrás do palco voltar a ser usado para projeções, o que deixa todo o espetáculo ainda mais bonito e imersivo.

O Mudhoney tinha muitos fãs ansiosos pelo seu retorno ao Brasil e, desde a primeira música, a animação do público que lotou a casa era muito grande, porém, a partir da terceira música, “Get into yours”, foi que a primeira roda do show se formou, e o público cantou muito alto com a banda.
Após isso, foi uma sucessão de hits como “into the drink”, “Good Enough” e “Let it slide” do álbum “Every good boy deserve fudge” que animaram a galera nas rodas, e o Mudhoney ainda tinha muitas e muitas cartas na manga para apresentar durante o show, e não deixava o público poupar energia em nenhum instante, pois logo após apresentaram um bloco com alguns hits e singles como “Touch me i’m sick” e “Sweet Young Thing (ain’t sweet no more)”, “You Got it (Keep it outta my face)”.

O Mudhoney fez uma apresentação bastante extensa, com 29 músicas, contemplando toda sua extensa discografia e ainda tendo espaço pra apresentar boas canções do mais recente lançamento “Plastic Eternity (2023)”, foram 6 músicas do mais último álbum da banda e como destaque, ficam as muito bem recebidas “Almost Everything”, “Souvenier of my trip” e a carinhosa “Little Dogs”.
O Mudhoney chegou a se despedir e sair do palco após um bloco sem tantos hits, que terminou com “One bad actor”, mas voltou para colocar fogo na plateia novamente e encerrou sua incrível noite com os grandes clássicos “Here comes sickness” e “In ‘n’out of grace”, fazendo sua apresentação mais extensa e completa dessa turnê na América do Sul junto ao show do Circo Voador, no Rio de Janeiro.
Os fãs de São Paulo foram agraciados com um show completamente especial e absurdo do Mudhoney e, debaixo de uma longa salva de palmas, a banda deixou o palco, com toda certeza deixando uma vontade de voltar em breve ao Brasil para receber esse calor novamente.