
Chococorn and the Sugarcanes | Crédito: Divulgação
De Santa Bárbara d’Oeste, interior de São Paulo, a Chococorn and the Sugarcanes vem se destacando cada vez mais com seu som autêntico, marcado por influências musicais do pop punk e do midwest emo, ou, traduzindo, “emo caipira”, estilo que está se destacando na cena underground atual.
O banda, que faz parte do selo +umHits, é formada pelos amigos de infância Alexandre Luz (bateria), Filipe Bacchin (guitarra base), Pedro Guerreiro (guitarra solo) e Pietro Sartori (baixo), e está em meio a sua segunda turnê pelo país, em conjunto com a banda A Bella e o Olmo da Bruxa.
E em meio a essa turnê, a Chococorn and the Sugarcanes parou pra conversar com a gente sobre o cenário do rock nacional, bandas amigas, futuros projetos e muito mais.
Entrevista | Chococorn and the Sugarcanes
Musicult: Nossa primeira pergunta é sobre o Emo Caipira, que é um termo que vem crescendo na cena do rock nacional, também usado por outras bandas. O que vocês acham que caracteriza o Emo Caipira? E como vocês acham que se diferencia de outros estilos dentro do Emo? Principalmente, nesse momento em que a gente tem visto uma “volta do Emo”.
Chococorn: A gente tem uma principal inspiração na parte sonora, um gênero gringo chamado Midwest Emo. Ele se originou nos anos 90 com bandas como American Football, Mineral. É uma derivação do Post-Hardcore e do Emocore. Essas bandas, como o próprio nome diz, são do Meio-Oeste (Midwest), interior dos EUA.
Nesse ponto cultural, a gente faz esse paralelo entre o Midwest, interior dos EUA, e o Caipira, o interior do Brasil. Além de outros paralelos que a gente gosta de usar entre esses 2 gêneros, principalmente a sonoridade, que tem bastante guitarra distorcida e riffs limpos e melódicos. As temáticas a gente também gosta muito: emoções, relacionamentos, amizade e histórias passadas, nostálgicas…
E o que a gente gosta de abordar muito, na produção mesmo, é a questão do fazer você mesmo, “Do it yourself”. Nessa parte dos EUA, o DIY se mostrou muito no som cru, como, por exemplo, o do Cap’n Jazz, uma banda do final dos anos 80. Essa filosofia do fazer você mesmo torna a música muito mais democrática do que um “virtuosismo”, em que você tem que pagar um estúdio caro e pegar a melhor guitarra.
Para a banda, a questão de “fazer você mesmo” gerou a principal vertente do Emo Caipira. A gente vê muita banda de um pessoal de 17, 18 anos que pergunta como começar e sempre mostramos que é possível fazer. É a melhor parte do processo, usar o que você tem e se divertir. O emo Caipira é muito sobre isso: caprichar no processo, se aventurar, ter experiências legais, ter um momento descontraído com seus amigos e criar histórias.
M: Para vocês chegarem nesse som, como vocês falaram do Do It Yourself, cada integrante trouxe uma bagagem. Então, quais vocês diriam que são as principais influências de vocês, seja como banda ou individualmente?
C: Quando a gente iniciou a banda lá em 2021, a gente queria ser um pouco midwest mesmo, sabe? Acho que as primeiras composições que a gente fez foram querendo focar nesse gênero, apesar de que talvez nunca tenha sido o gênero mais escutado por nós.
Eu (Pietro) sei que o Ale escutava muito, mas eu e Pip estávamos começando a escutar e o Pedro conhecia fazia alguns meses. Nisso, a gente tem muita influência do rock alternativo, do indie rock e sempre gostou muito de Radiohead, The Strokes, Arctic Monkeys. Então, acho que quando pegamos gosto, a gente teve muita influência desse rock dos anos 90 e 00, além do emo. Isso é visto bastante na estrutura das nossas músicas, que são um pouco mais pop e verso-refrão do que o Post Hardcore.
Eu sinto que o Pipe traz muito a questão de synths, um pouco mais pop e eletrônico; o Pedro escuta bastante brasilidades, então as primeiras influências que a gente teve de Los Hermanos, de samba e MPB, foram dele. O Ale curte muito post-rock e se mantém um pouco no emo mesmo. E eu tenho escutado muito Talking Heads, mas acho que minha pira principal talvez seja o rock anos 2000, né? O que chamam de post-punk revival, do Strokes, Interpol, Arctic Monkeys, etc.
É bem legal ver que quanto mais tempo passa, mais a gente é produto de diversas fontes de inspiração. A gente se afasta cada vez mais da intenção original, que era ser math rock, midwest emo, American Football e… eu gosto de pensar que a gente é uma banda emo, sabe? Não vou falar que não somos, mas é muito legal ver que as nossas influências são bem diversas. As últimas músicas que a gente vem lançando e trabalhando são reflexo disso.
Um ponto também sobre o emo caipira, é que a gente usa muito da regionalidade pra retratar crônicas ou coisas locais que achamos interessante. Por exemplo, nossa maior música em termos de números hoje é Dom Bosco S.A, que trata da cidade que a gente mora e faz divisa. Tentamos construir um imaginário nas nossas músicas pra que o público se sinta por dentro da história.
Além disso, outra parte dessa regionalidade é tentar trazer pro pessoal de outras cidades do interior um pouco da ideia de que dá pra se fazer música morando no interior. Então, a gente tenta muito sair da sombra do eixo Rio-São Paulo e fazer que as pessoas do interior de São Paulo e qualquer outro estado do país se sintam motivados a fazer música como conseguem. No estilo faça você mesmo, como comentamos.
Tem ainda outra vertente paralela de inspiração que vem desde o começo, até hoje, que é a das bandas que são nossas amigas. Eu lembro que quando a gente começou a banda, isso inspirou muito nosso jeito de ser e o que fazer “Vamos lançar música? Por onde? A gente vai gravar como? Vamos fazer show?” Ver bandas como Bella e o Olmo da Bruxa, Chão de Taco, Sofia Chablau, que conhecíamos do período que montamos a Chococorn, foi um Norte. Até hoje, quando a gente faz show com eles, estamos assistindo e anotando na cabeça: “isso é legal, esse som é muito bom, queria escrever algo assim”. Muito vem também dos amigos de Santa Bárbara e Americana, como a A Império Contra Ataca.
M: Nessa questão de levar a música pra outras cidades, vocês em 2004 fizeram a primeira turnê nacional da banda. Como foi essa experiência? Tem algum momento marcante do qual vocês se lembram?
C: Teve um momento muito marcante. A primeira vez que a gente tocou em São Paulo. É uma barreira pra quem tá aqui em Santa Bárbara. Existem as bandas que já tocaram em São Paulo e as que não tocaram, e é difícil arrumar um show em São Paulo e pagar pra todo mundo se deslocar. Foi louco quando a gente conseguiu arrumar um show, pagar e tocar numa casa de show lotada com pessoas que sabiam cantar nossas músicas, tá ligado? Tínhamos três músicas lançadas e o pessoal sabia cantar as três, sabe? Mudou a minha vida a primeira vez que cheguei num show que eu não conhecia ninguém do público e todo mundo sabia cantar o que eu tava dizendo.
Foi bizarro, a gente escreveu essas músicas em Santa Bárbara, nos nossos quartos, e tinha tanta gente de uma realidade diferente da nossa que sentia do mesmo jeito. Essa conexão norteou a maneira que a gente se sente na tour. Parece que vamos rodando pelas cidades e conhecendo mais pessoas que se conectam com a gente e entendem não só o que a gente canta, mas o que a gente vive.Vamos fazendo amigos, a melhor parte de todas.
É uma vivência muito estranha. A gente cria afeto por cada lugar que passa, conhece tanta gente e é tão momentâneo, porque são um ou dois dias nessas cidades e tanta gente legal. Parece que a cada dia a gente adentra um mundo diferente, é tão rápido, tão fugaz, num sentido bom, sabe?
Por enquanto não tem músicas que foram trabalhadas depois do processo das turnês, mas a maior fonte de inspiração no momento talvez sejam essas viagens. Ir pra longe, com frequência, é uma coisa muito bizarra de viver, eu não imaginei que seria tão grande. É muito grande pra gente, muito mesmo.
É um respiro muito bonito quando, em um show, vemos alguém comovido a iniciar uma banda, a fazer música, essa manutenção de um movimento é uma das principais forças que a gente carrega e é essa mensagem que a gente quer levar. Um dos principais propósitos da banda é fazer com que a máquina continue girando e que cada um se sinta inspirado a criar, a se expressar de uma maneira bonita. Uma das coisas mais gratificantes de estar nesses lugares é ter jovens mais novos que chegam pra gente e falam sobre montar uma banda, trocar ideia e enviar material para a gente escutar.

M: Inclusive, vocês comentaram também sobre os amigos pelo caminho e amizades com outras bandas. Como surgiu essa ideia ade turnê conjunta com a Bella e o Olmo da Bruxa e quais as expectativas?
C: Primeiro, é muito louco, porque eu sinto que a Chococorn só existe por causa do Bella. Em certo ponto, a gente ouviu o Bella, e viu que eles tinham a nossa idade e estavam fazendo música de alguma forma, música boa que as pessoas estavam ouvindo. Sinto que a Chococorn and the Sugarcanes só existe por isso, ver o Bella foi uma das motivações pra ter a banda.
Estar com eles, por si só, já é maneiraço. A primeira vez que a gente tocou com eles foi…”Caramba, já vou tocar com eles, mano?”, e agora somos muito amigos. Foi uma relação bem próxima que a gente criou com eles. E é legal ter essa conexão com alguém que mora tão longe, sabe? Sempre que a gente se encontra é muito engraçado. Apesar de ser muito fã da Bella, o que mais me anima é estar junto com eles, os momentos que a gente vai beber cerveja juntos.
M: Vocês também disseram que pretendem lançar versões acústicas das suas músicas favoritas. Vocês podem dar algum spoiler do projeto pra gente?
C: Eu acho que é mais…a gente gravou um acústico de Caminhão de Mudança e foi bem legal.A gente gravou no Estúdio El Rocha e foi uma experiência muito diferente, tinha muito equipamento lá e foi bem profissional. Querendo ou não, a gente ainda tá começando, né? Então, acho que, até agora, foi a nossa gravação mais dedicada, a nossa maior gravação até hoje.
Foi muito legal ouvir a versão final e revisitar a música, trabalhar em arranjos pra ela e em jeitos novos de tratar a dinâmica dela. Foi um processo bem divertido e estamos bem ansiosos pra lançar logo e trazer essa nossa visão da música pro nosso público.
Eu espero que a música esteja transparecendo essa diversão, sabe? Desde o início que a gente compôs ela, sentimos que tinha uma progressão e um timbre um pouco mais terroso, mais soturno, uma pegada que ficaria muito legal se a gente conseguisse transpor pro acústico. Algo mais grave, mais tranquilo. A versão acústica ficou muito mais bonita e tem mais arranjos orquestrais, diferente da música original, além de ter percussões aprimorada, em partes, em alguns vocais. Estamos muito animados pra lançar essa música, com certeza!
M: Por fim, eu tenho uma questão que eu fiquei curiosa. De onde vem a inspiração e a ideia pro nome da banda? Acho tão icônico!
C: Tem uma festa em Santa Bárbara que chama Chocomilho. E é engraçado o nome, Chocomilho. Pensamos que Santa Bárbara tem bastante canavial e tem as usinas de álcool, né, então, tem muita cana-de-açúcar também. Aí, Chocomilho e as canas-de-açúcar. Chococorn. Sugarcanes. Um nome completamente regional, refletindo toda a mensagem que a gente quer passar com a banda. O nome não é só pela piada, gostamos do quanto ele simboliza nossa própria cidade. Ele tem bastante identidade e é único. Virou bem icônico mesmo, né?
M: Pra encerrar, o Musicult é voltado para indicar novos sons. Então, além da Chococorn and the Sugarcanes, o que vocês indicam para o nosso público do site ouvir?
C: Tem a Império Contra-Ataca (da qual Pietro também participa), e a gente lançou um single recentemente, então vou falar dela. Tem o pessoal da Feto também, que vai lançar uma música no dia 12 de março e tá bem boa, a gente já ouviu. Então, escutem Feto.
E tem novas bandas surgindo de amigos nossos, que vão nos nossos shows, a Magólias, a Este Lado para Cima, a Mães Católicas, a Hidio Banda, que tem algumas demos no Soundcloud, a Viúva Fantasma, de Campinas. A Bella e o Olmo da Bruxa, que vocês já conhecem… Queremos dar muita moral, e realmente compartilhar muito esses caras, porque eles são novos e estão fazendo música, é exatamente o lugar que a gente estava no começo. Todas são muito legais!
A gente tem, aliás, uma playlist para o nosso público no Spotify. A cena emo caipira está muito representada pela playlist, o contexto, a cena… Então, se vocês quiserem achar alguma banda, tá tudo lá direitinho!
Gostou de conhecer melhor a Chococorn and the Sugarcanes? Confira o som da banda e fique de olho nas redes sociais deles pra saber quando eles passarão pela sua cidade. Se você é de São Paulo, no dia 6 de abril o Hangar 110 recebe a Chococorn ao lado de Bella e o Olmo e Eliminadorzinho. Imperdível, tá? Ingressos aqui!
