
Kate Bush (Divulgação)
Mais de 1.000 artistas, incluindo Damon Albarn, Kate Bush, Annie Lennox, membros do Radiohead, Bastille, Jamiroquai, The Clash e Mystery Jets, assim como Billy Ocean, Yusuf/Cat Stevens, Riz Ahmed e Tori Amos lançaram um álbum silencioso em protesto contra as mudanças previstas nas novas leis do Reino Unido a respeito de direitos autorais e uso de IA na música.
Intitulado ‘Is This What We Want?’, o álbum é completamente silencioso e foi feito com a esperança de chamar a atenção para o impacto da IA na indústria musical. A tracklist do álbum forma a frase: “O governo britânico não deve legalizar o roubo de música para beneficiar empresas de IA”.
Todos os lucros do álbum serão doados para a instituição de caridade Help Musicians e é lançado enquanto o governo do Reino Unido planeja fazer mudanças nas leis de direitos autorais – tornando mais fácil para plataformas de inteligência artificial desenvolver e treinar seus modelos usando trabalho protegido por direitos autorais, sem precisar de uma licença.
“Na música do futuro, nossas vozes não serão ouvidas?”, provocou Kate Bush em uma entrevista recente, mas esta não é a primeira vez que Kate Bush se pronuncia contra IA na música. Em dezembro, ela assinou uma petição sobre o tema, que ganhou mais força depois que Thom Yorke, do Radiohead, e Björn Ulvaeus, do ABBA, também assinaram.
Na mesma época, Paul McCartney também se posicionou e pediu que novas leis fossem implementadas para impedir o roubo em massa de direitos autorais por empresas de IA.
O impacto do uso de IA na indústria musical já é uma realidade. Há apenas dois meses, um novo estudo compartilhou um alerta de que as pessoas que trabalham com música provavelmente perderão um quarto de sua renda para a IA nos próximos quatro anos.
Fora do Reino Unido, duas notícias recentes também alertaram sobre o uso indevido de IA na indústria musical.
No Brasil, Ronaldo Torres de Souza, cantor sertanejo de 46 anos, foi preso em dezembro de 2024 por liderar um esquema de roubo de músicas no Spotify. Ele criou 209 perfis falsos na plataforma, utilizando documentos falsificados e vinculando seu próprio PIX para receber os royalties gerados pelas reproduções. O esquema resultou em 28 milhões de reproduções fraudulentas, causando um prejuízo estimado de R$ 6 milhões a compositores legítimos, incluindo o artista Murilo Huff. Além disso, Ronaldo utilizou IA para criar as faixas, tornando a fraude mais difícil de ser detectada.
E nos EUA, Michael Smith foi acusado em setembro de 2024 de criar bandas e fãs fictícios usando IA, arrecadando ilegalmente US$ 10 milhões em royalties. Smith produziu centenas de milhares de músicas geradas por IA e as disponibilizou em plataformas como Spotify e Apple Music. Para inflar artificialmente o número de reproduções, ele criou uma rede de contas falsas que executavam as músicas em loop, gerando royalties que deveriam ter sido destinados a músicos e compositores legítimos. Smith enfrenta acusações de fraude eletrônica e conspiração para lavagem de dinheiro, podendo ser condenado a até 20 anos de prisão para cada acusação.