O diretor Edward Berger desfruta de sua fama após comandar o drama de guerra Nada de Novo no Front (2022), que retrata de forma crua a I Guerra Mundial. O filme recebeu inúmeras indicações e prêmios, como o Oscar, e após dois anos Berger retorna com o thriller Conclave.
O longa, baseado no romance de Robert Harris, apresenta um momento conhecido por todos: a escolha de um novo Papa. No entanto, a história se desprende de mostrar apenas esses momentos e adentra em um suspense que instiga o espectador até o fim.
O conclave trata-se de uma reunião formada por cardeais para a eleição do novo papa, seja por morte ou renúncia do líder atual. O Vaticano então organiza uma votação com os membros mais importantes das arquidioceses do mundo, que podem se candidatar ou apenas votar no próximo líder da igreja.
É a partir do início desse evento que as atuações impecáveis de Ralph Fiennes, Stanley Tucci e John Lithgow roubam a cena. Ralph interpreta o decano Thomas Lawrence, responsável por organizar a votação entre o clero, que conta com candidatos à vaga de pontífice com diferentes opiniões e visões de como devem guiar as doutrinas católicas.
E é nesse momento que a trama central do filme muda, e aquilo que inicialmente parece apresentar os bastidores de um conclave, torna-se um suspense complexo e cheio de ideologias apresentadas por diferentes personagens, sendo estes bem construídos e impactantes. Então, o desenrolar da trama que alguns dos cardeais presentes mostram seus segredos e lados obscuros, com Lawrence (Ralph Fiennes) atuando como mediador das farsas e descobertas apontadas pelos membros do clero.
A criação de Lawrence é um dos pontos mais altos do longa, que insiste em dizer que não deseja ser escolhido como novo Papa, mas acaba sempre sendo cotado para o cargo, recebendo votos durante as sessões do conclave. Tudo isso é administrado pela ansiedade e receios do cardeal, que tem dúvidas sobre seu próprio futuro dentro da igreja, além de precisar lidar com as atitudes questionáveis de seus colegas.
No entanto, o longa acaba entregando momentos que parecem fugir do que o filme realmente quer passar, com momentos que soam desnecessários quando se reflete no filme finalizado, ou que acabam entregando “pistas” de como todo o desenrolar da trama poderá acabar. Em certos momentos torna-se uma discussão que aparenta tentar apenas causar um efeito fora das telas, que gere debates, deixando cenas pontuais com falta de naturalidade quando comparados ao contexto geral da trama.
Mesmo que um suspense de ótima qualidade seja construído ao longo do filme, o espectador mais atento pode acabar entendendo para onde tudo está caminhando com certa rapidez, algo que para um filme que busca instigar e gerar cada vez mais a curiosidade de “o que vai acontecer” possa acabar não sendo tão eficaz.
O longa tem a intenção e a cumpre muito bem de criticar o conservadorismo da Igreja Católica, mostrando como se desenrola um conclave papal sem desrespeitar a instituição, além de contar com uma direção de fotografia impecável, realizada por Stéphane Fontaine, que a cada cena mostrada em tela você tem certeza que aquela imagem foi construída com cuidado e talento.
Conclave é mais um filme sobre o Papa, mas que não se rende as fórmulas já saturadas do gênero, e que mesmo com pontos a serem discutidos como a forma com que algumas intrigas são abordadas, Berger entrega um thriller com atuações impecáveis, bem construído e original, que o consagra como um dos grandes diretores da atualidade.