
Bring Me The Horizon no Allianz Parque (Créditos: @anendorf/@30ebr)
Desde a retomada dos shows, tem sido comum alguns shows que antes eram em casas “menores” serem marcados em estádios, gerando dúvidas entre imprensa e público quanto ao verdadeiro tamanho e alcance de alguns artistas. Quando o Bring Me The Horizon, que na última passagem pelo país, em 2022, se apresentou no Vibra (casa com capacidade para 7.000 pessoas) e no festival Knotfest, foi anunciado no Allianz, ao lado de The Plot In You, Spiritbox e Motionless In White, os ingressos para alguns setores se esgotaram rapidamente, outros levaram meses, ao contrário do show solo que a banda anunciou na Audio, casa para 3000 pessoas, que se esgotou em horas.
O que parecia ter sido uma decisão não tão acertada se tornou um evento sold out às vésperas de sua realização, e quem esteve lá entendeu o motivo: Bring Me The Horizon é um fenômeno.
>>Relembre aqui os shows do BMTH no Brasil em 2022
Inicialmente, o evento tinha um ar de festival, eram 4 bandas no mesmo dia, com sonoridades muito parecidas entre si. Abrindo o palco, The Plot In You, banda de Ohio, que existe desde 2010 e que contou com um público bem considerável, com pista premium, pista comum e várias cadeiras superiores e inferiores ocupadas.
Na sequência, a estreia da Spiritbox no Brasil levou o público ao delírio. Courtney Laplante, vocalista, é dona de uma voz poderosa, que contrasta com sua performance e seu jeito suave de falar ao agradecer o público. A vocalista disse diversas vezes que agradecia não só ao Bring Me The Horizon pela oportunidade de poder tocar em um estádio – e pela banda mostrar que bandas pesadas como eles podiam sim chegar lá -, mas também ao público que chegou cedo pra ver as bandas de abertura (mal sabia ela que muita gente tinha ido lá por causa do Spiritibox, principalmente).
Depois, o Motionless In White, banda que tocaria com o Bring Me The Horizon em 2022 no Vibra, mas que cancelou dias antes, enfim voltou ao Brasil para um show que foi considerado por muitos o melhor da noite (a autora deste texto, inclusive).
O fenômeno Bring Me The Horizon e o metal sem regras
Lembra o que eu disse sobre o evento ter um ar de festival no início do dia? As bandas eram parecidas entre si, o público se dividia entre camisetas de todas elas… mas quando o Bring Me The Horizon, headliner da noite, subiu ao palco, foi perceptível a mudança de energia: o Allianz lotado não demonstrava nem um pingo de cansaço às 21h (os shows começaram às 16h30) e as pessoas começaram a ficar mais e mais ansiosas quando o telão começou a exibir o que parecia ser a introdução de um jogo de videogame. Ali já era notável que o show era do Bring Me The Horizon com 3 bandas de abertura, por mais que todas as bandas tivessem sido muito bem recebidas pelo público.
Agora, como uma banda de Sheffield, Inglaterra, que surgiu em 2004, no meio da explosão das bandas de emocore e suas vertentes, se manteve tão atual e gigante a ponto de lotar um estádio no Brasil?
A resposta veio música após música. Ou melhor, ainda na introdução do show. Depois do “start”, uma personagem de inteligência artificial começa a falar com o público que, segundo as palavras dela, aceitou os termos e condições para fazer parte do show. Ali, o público já se funde à experiência do show.
A cada música, a banda segue contando a história da Nex Gen, conceito distópico explorado nos últimos álbuns da banda (e que foi muito bem explicado por um fã numa thread do X (antigo Twitter), leia aqui), em meio a uma megaprodução sobre a qual poderíamos falar muito, mas, para além da megaprodução, da pirotecnia e de trazer o público para dentro da história contada e até mesmo para além do próprio show no Allianz, o Bring Me The Horizon é um fenômeno porque, assim como as bandas de abertura daquele dia 30, é uma banda que soube moldar seu som para algo menos agressivo, mas ainda muito intenso e pesado, com a incorporação de batidas eletrônicas, parcerias diferentes, como Ed Sheeran, Aurora e Babymetal, além, do conceito visual, que utiliza muito anime, inteligência artificial e referências de filmes de terror, trazendo um público cada vez mais jovem a se interessar pela banda antes mesmo de ouvir.
E se em 2022 eles levaram Pabllo Vittar para cantar “Antivist”, no show do Allianz os convidados foram Di Ferrero, do NX Zero, e o funkeiro MC Lan, que já demonstrou muitas vezes ser um grande fã de rock.
Essa mistura de estilos e a quebra de padrões também é um ponto que agrada uma nova geração de fãs de metal que é cada vez menos conservadora e que vê em bandas como o Bring Me The Horizon uma banda que apoia a inclusão e a diversidade, palavras até então quase proibidas no meio do metal e da música extrema.
E por fim, é impossível falar da comoção dos brasileiros pelo BMTH sem citar o frontman da banda, Oliver Sykes, que, casado com uma brasileira, procurou aprender o idioma da esposa, tem casa no Brasil e adora falar muito em português durante o show. E ele faz isso muito antes do Bruno Mars e de outros artistas descobrirem que os fãs brasileiros são muito engajados, ok? (depois de mandar frases como “foda, né?”, “meu Deus, Nossa Senhora” e “Eu tenho um CPF, eu sou brasileiro”, Oliver disse que ao se apaixonar por uma brasileira não imaginava que iria se apaixonar por um país inteiro e, novamente em português, disse “eu te amo, Brasil, eu te amo muito, gratidão, gratiFUCKINGdão”).
Essa soma de elementos mostra que o conceito da NEX GEN dos álbuns do BMTH pode ser aplicado à cena do metal e ao que a banda representa: uma próxima geração em uma cena que precisou se destruir para renascer diferente, moderna e sem regras.