Após 14 anos sem dar as caras por terras brasileiras, o Dinosaur Jr estava finalmente de volta ao Brasil, sendo o headliner do já conhecido Balaclava Fest 2024. O show do powertrio liderado por J Mascis aconteceu no dia 10 de novembro no Tokio Marine Hall, em São Paulo, e o evento contou com um time de peso: Raça, Paira, Ana Frango Elétrico, Nabihah Iqbal, BADBADNOTGOOD e Water From Your Eyes.
Mas antes de falar dos donos da noite, vamos dar um passeio pelos demais artistas que tocaram no festival. Vale lembrar que o Balaclava Fest, em 2024, manteve o formato de dois palcos, para garantir que a troca entre as atrações seja mais rápida e dinâmica. A programação foi iniciada por volta das 15h40 daquele domingo, com o duo mineiro de alt-rock eletrônico Paira subindo ao palco Hall.
Com uma proposta que une elementos de math rock e música eletrônica, a dupla formada por Clara Borges e André Pádua trouxe no setlist músicas como “Como um Rio”, “Preciso ir” e “O Fio”. Uma musicalidade interessante, inovadora e fora de qualquer padrão. Conheçam Paira!
Em seguida, foi a vez do Raça se apresentar. Com um som carregado, lento e sentimental, a banda também tocou no palco Hall. Com uma sonoridade que lembra nomes como Terno Rei, o grupo tem 12 anos de trajetória e já conta com um público cativo, que marcou presença na apresentação. No setlist, músicas como “Tudo bem” e “Quente” deram o tom da apresentação.
Logo em seguida, abrindo o palco Balaclava, foi a vez de Ana Frango Elétrico se apresentar. Artista que traz uma bela fusão de música brasileira com o funk americano em sua musicalidade, ela botou o público para dançar com músicas como “Mulher homem bicho”, “Dela”, “Camelo Azul” e “Coisa maluca”. Um ponto interessante a se observar foi que o público fez questão de transitar entre os dois palcos e prestigiar cada um dos shows, diferente de muitos festivais, nos quais as pessoas vão para assistir apenas a um ou outro artista. A apresentação durou por volta de uma hora, com a cantora despejando diversos hits. Um grande show, por sinal.
Às 18h30, a inglesa Nabihah Iqbal subia ao palco Hall para iniciar sua apresentação. Nascida em Londres, a artista traz em sua música uma mistura de indie com rock alternativo, cold wave, eletrônico e experimental. No setlist, músicas como “This World Couldn’t See Us”, “Sunflower” e um belo cover de “A Forest”, do The Cure. Em um primeiro momento, é um som que provoca certa estranheza aos ouvidos, mas em seguida vamos acostumando com a proposta e passamos a viajar na série de camadas que ela traz em suas músicas.
De volta ao palco Balaclava, era a vez de BADBADNOTGOOD se apresentar. Nascida em Toronto, no Canadá, a banda funde elementos do jazz, soul, hip-hop e música eletrônica experimental. O setlist da banda foi afiado, tocando músicas como “Eyes On Me”, “Take Me With You”, “Weird & Wonderful” e “Lavender”, reforçando o caráter totalmente alternativo do Balaclava Fest. O som impecável e definido marcou a apresentação do grupo.
Penúltima banda da noite, mais um duo: Water From Your Eyes. Formada por Nate Amos e Rachel Brown, a dupla traz um som super alternativo, com músicas que parecem ter saído de um videogame antigo. Um exemplo dessa proposta é “Adeleine”, uma das principais músicas do setlist da banda. Logo depois, vieram “Structure”, “Barley” e “Cold Stare”, agitando o público do agora lotado Tokio Marine Hall.
Após 10 anos…Dinosaur Jr de volta
Após as demais bandas se apresentarem, era hora de os presentes se acotovelarem pela melhor posição diante de palco Balaclava para ver o retorno triunfal do Dinosaur Jr a terras tupiniquins. Eu, como grande fã da banda, me posicionei quase colado à grade e já fiquei em choque quando vi a equipe montando a verdadeira “parede” de amplificadores Marshall que cerca J Mascis em cada apresentação do trio. Era como um verdadeiro trono, esperando o rei se sentar.
Pontualmente às 21h50, a banda que, além de J Mascis, conta com Lou Barlow (baixo) e Murph (bateria), iniciando o show com “The Lung”. Sem muita firula nem muita lenga lenga, o trio seguiu despejando um hit atrás do outro. “In a Jar”, “Garden” e “Been There All The Time” vieram logo em seguida. Nas pausas do show, o temperamento introspectivo já conhecido de J se manifestava e o vocalista e guitarrista se limitava a afinar sua belíssima Fender cor de rosa, enquanto Barlow interagia de modo divertidíssimo com o público. “Alguém tem uma tiara para emprestar? Meu cabelo fica caindo no rosto o tempo inteiro”, perguntou o baixista em determinado momento.
O show prosseguiu, com “Kracked”, “Sludgefeast” e “Little Fury Things” vindo na sequência, com Mascis despejando toda a sua habilidade na guitarra, com solos cheios de fuzz e muito, mas muuuuito volume. Entre uma música e outra, o guitarrista e vocalista se dirigia ao seu “bar particular” montado no canto do palco para beber um pouco de whisky, vodca, entre outras bebidas.
Em seguida, o riff de “Out There”, principal música do disco “Where You Been”, veio à tona e esse possivelmente foi um dos momentos mais marcantes do show, com o público arriscando até a fazer algumas rodas punk, deixando a apresentação, até então calma, com um clima de punk rock. Me senti até mais à vontade neste momento, confesso.
Logo depois, foi a vez de “Feel The Pain”, outro hit, ser tocada, e mais uma vez fomos contagiados por uma verdadeira catarse, com verso calmo e refrão explosivo, culminando com um maravilhoso solo de guitarra. Um ponto característico de Mascis é que, nos shows, os solos nunca são tocados da forma que foram gravados. Nem mesmo as improvisações ao vivo se repetem. Ou seja, cada solo é único.
Na sequência, outros dois hits: “Pieces” e “Start Choppin'”, que fizeram o público vibrar ainda mais, e nesse momento já era possível ver alguns fãs mais emocionados fazendo crowd surfing. Como já é de praxe, o Dinosaur Jr também tocou um belo cover de “Just Like Heaven”, do The Cure, que foi seguido por “Gargoyle” e a emblemática “The Wagon”, para fechar o show. Eu nunca havia assistido a uma apresentação do Dinosaur Jr antes, e sem dúvida valeu a pena esperar todos esses anos. Foi um show incrível, apoteótico, que eu nem me incomodei de ter que cruzar São Paulo numa madrugada de domingo para segunda-feira para chegar em casa depois do show. Inesquecível.
Confira fotos do Balaclava Fest 2024 (Créditos: Luke Santos @luke.that.pic/Musicult)