No último fim de semana, O Musicult foi a uma das sessões interativas de Rocky Horror Picture Show no Rio de Janeiro, organizadas e interpretadas pelo Sombrios, o primeiro Shadowcast do Brasil.
Shadowcast é o nome dado ao elenco que interpreta Rocky Horror em sala para a audiência, contando com looks semelhantes ao do filme exibido e a participação da audiência.
História
Antes de falar do evento, o Musicult explica como surgiu a tradição de realizar sessões interativas de Rocky Horror no Halloween. O filme, um clássico cult de 1975 que mistura terror, comédia e musical, conta com elementos do terror, como: um cenário à primeira vista sombrio, a criação de Rocky aludindo a criação do Frankenstein , alienígenas e um jantar macabro. Mas como se deu o início da tradição?
Apesar de ser uma produção inglesa, o filme conquistou uma verdadeira legião de fãs nos Estados Unidos. Com sua história única e a frente do seu tempo, em pouco tempo tornou-se um dos primeiros filmes ser exibido nas Midnight Screenings, nome dado às sessões da meia-noite nos cinemas ou na televisão que passavam majoritariamente filmes de menor orçamento e filmes cult. Assim, as sessões de meia-noite de Rocky Horror com presença de Shadowcasts ganharam força e acontecem por todo o país até hoje, sendo referenciadas em outras obras da cultura pop, como no livro As Vantagens de ser Invisível.
O shadowcast Sombrios trouxe essa tradição em 2015 para o Brasil, reunindo todos os anos um público apaixonado pelo filme, que se fantasia, se envolve e recita falas do filme. As sessões lotadas reúnem tanto espectadores fiéis que vão todos os anos aproveitar a experiência, quanto os “virgens”, aqueles que estão participando da sessão interativa e assistindo o filme pela primeira vez.
A Sessão Interativa
As sessões de 2024 ocorrem nas cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Niterói. No Rio de Janeiro, a exibição do filme foi no Cine Odeon, um dos cinemas mais tradicionais do Rio de Janeiro, palco de pré-estreias, mostras, festivais, shows, óperas, cursos e filmes.
Antes de entrar na sessão é possível comprar um kit de props interativo, que inclui elementos como lanterna, arminha de água, confete e páginas do jornal, dentre outras surpresas (qual o propósito de cada um desses itens? Sem spoilers da nossa parte).
Neste ano, o aquecimento da experiência pré-filme no Rio de Janeiro foi comandado pela icônica Drag Queen Melissa L’Orange, que deu boas-vindas aos novatos no palco e conduziu um concurso de melhor fantasia, o que revelou-se uma escolha difícil, considerando que havia forte concorrentes com fantasias bem produzidas e criativas, representando diversos personagens e referências da história.
Após esse primeiro momento, o filme teve início. Durante a sessão, os números musicais são performados e encenados pelo elenco de artistas do Sombrios dentro da própria sala de cinema, ou seja, há um show dentro de um show. A sensação de assistir o filme em grupo de forma interarativa é única: as pessoas levantam-se para dançar juntas o animado hit Time Warp; a tempestade do filme acontece também dentro do cinema; frases como “ah mas se não tivéssemos feito isso…” são rebatidas por exclamações sincronizadas do público de “mas fizeram!” (um diálogo que não está presente no filme em si, mas que faz parte do Guia de Interações).
O evento leva a sério a frase “Não sonhe, seja!” do lendário protagonista Dr. Frank N. Furter (Tim Curry). Definitivamente, é uma experiência imersiva única, interessante e muito divertida.
O filme
Para além da sessão interativa, Rocky Horror Picture Show é por si só uma obra ousada, que homenageia simultaneamente os gêneros de ficção científica e terror no formato de um musical. Trazendo à tona, direta e indiretamente, temas como pertencimento, expectativas sociais, sexualidade e liberdade de expressão, o filme mantém-se extremamente atual e relevante. A trilha sonora também é marcante, com hits como “Time Warp”, “Sweet Transvestite”, “Science Fiction/Double Picture” e “Touch-a, Touch-a, Touch Me”.
O filme inicia-se a partir do momento em que Brad Majors (Barry Bostwick) pede sua noiva, Janet Weiss (Susan Sarandon), em casamento. Antes da cerimônia, eles partem em uma viagem para visitar um amigo, mas acabam se perdendo durante uma tempestade. Em busca de ajuda, eles vão até um estranho castelo próximo, onde são recepcionados por Riff Raff (Richard O’Brien) e conhecem o Dr. Frank N Furter (Tim Curry), proprietário do local. Brad e Janet se deparam então com personagens peculiares, um cenário caótico e comportamentos que estranham, sem imaginar que Frank N Furter dedica a vida ao prazer e que a sua mais nova ambição é criar um homem musculoso, Rocky (Peter Hinwood), que possa atender aos seus desejos.
Se na época do seu lançamento, em 1975, o filme não foi um sucesso estrondoso de bilheteria, hoje tornou-se um clássico cult popular do cinema, sobretudo após tornar-se a estrela das sessões de meia-noite de Halloween já mencionadas. Seu status como alternativo e fora do padrão Hollywoodiano, tornou-se um grande elogio.
A obra traz personagens satirizados e personagens complexos, todos representando a sociedade da época. Dos mais conservadores aos mais extravagantes, cada um tem sua própria jornada de descoberta e seu arco de evolução, rompendo padrões e convicções ao longo do filme.
Para além do seu status como clássico cult no coração dos cinéfilos, o filme tem grande significado para a comunidade LGBTQUIAPN+. Rocky Horror mostra seu potencial transgressor ao defender a livre expressão da sexualidade e a revisão de estereótipos de gênero. Da desconstrução do conservadorismo nos personagens, à abordagem da bissexualidade, a um protagonista transsexual confiante com maquiagem carregada e lingerie, às performances musicais impecáveis, é fácil entender porque a obra adquiriu tamanho significado.
Confira o trailer do filme abaixo: