No cenário punk/hardcore paulistano, algumas bandas internacionais já são cativas na cidade. Aquelas que “sempre vêm”, mas que, ao mesmo tempo, sempre causam grande euforia. O H2O, de Nova York, é um grande exemplo disso. Os shows deles, há muito tempo, não são mais novidade por aqui, mas sempre arrastam um público fiel quando dão as caras. E não foi diferente dessa vez, já que no último sábado (19), a banda liderada por Toby Morse passou por São Paulo em um show promovido pela New Direction Productions e, em clima de despedida, apresentou um show cheio de energia, com grandes clássicos dos 30 anos de banda.
No dia seguinte, o H2O se apresentou em Curitiba, outro grande celeiro do hardcore e que sempre recebe grandes shows internacionais, mas vamos nos concentrar em São Paulo. Por aqui, o show aconteceu no clássico Fabrique Club, e contou com a participação de Treva e Pense, completando o line-up.
Naquele sábado, nem a chuva e o tempo frio conseguiram estragar a festa. Como já de praxe, os shows começaram pontualmente, com o Treva sendo a primeira banda a subir no palco. A formação do grupo conta com Felipe Ribeiro (Guitarra/voz), Chris Wiesen (guitarra), Eduardo Moratori (baixo) e Pedro Hernandes (bateria), e a sonoridade traz uma bela e melódica combinação de rock n’ roll, punk rock, blues e até um tom de country, lembrando, em muitos aspectos, os californianos do Social Distortion, mas com o belíssimo diferencial das letras em português.
No setlist, a banda trouxe músicas como “Onde Morre o Sol“, “Renasce em Dor” e “Novo Amanhã“, trazendo na apresentação uma musicalidade que lembra filmes de velho-oeste, saloons e cerveja, com um tom por vezes até sombrio. Detalhe para o som extremamente nítido e definido, que deixou o show ainda melhor. Até aquele momento, eu não havia ouvido a banda com tanta atenção, e aquela primeira experiência, em um show, foi a melhor forma de conhecer mais a fundo. Curti muito e com certeza vou querer ver mais vezes, afinal sou um grande apreciador desse tipo de sonoridade: punk rock simples, mas carregado de melodia, melancolia e boas letras.
Logo depois, foi a vez do Pense subir no palco. Banda bastante conhecida no cenário nacional, e agora reformulada, conta com Ítalo no vocal, Daniel e Raphael nas guitarras, Judá no baixo e Alexandre na bateria. Com músicas cheias de riffs trabalhados e um som pesado e melódico, a banda agitou o público do Fabrique, que a este momento já estava lotado.
No setlist, músicas já conhecidas, como “Recomeçar“, “Gota a Gota“, “Andando Sobre Pedras“, “Espelho da Alma” e “Eu não posso mais”, deram o tom da apresentação da banda, que lançou, nos últimos dias, o álbum “Tudo que temos de lembrar“, o primeiro da nova formação. Um ponto marcante do show foi a interação com o público, que a todo tempo cantou com a banda. A apresentação foi tão contagiante que Toby Morse e o filho Max, do H2O, ficaram no canto do palco por quase metade do show, agitando e aplaudindo, mostrando o quanto gostaram da sonoridade.
E assim foi durante todo o show, público e banda fazendo parte de uma só energia, falando de positividade, superação e diversidade, temas sempre presentes nas letras do Pense. Um belo show, sem dúvida.
O “até logo” do H2O em São Paulo
Pontualmente às 21h30, o H2O sobe ao palco do Fabrique Club em São Paulo, trazendo na formação, além de Toby e Max, o baixista Adam Blake, e os guitarristas Rusty Pistachio e Matt Henderson, este último conhecido por seus trabalhos com o Madball e Agnostic Front.
O show, que marca a despedida da banda do público brasileiro (em outro momento, Toby alegou que os deslocamentos muito longos começaram a ficar desgastantes para o grupo que, por esse motivo, faria sua última passagem por Brasil e Chile), começou com a clássica “Nothing to Prove“, do disco homônimo, de 2008, um dos mais aclamados da banda. Já tendo o público brasileiro como um velho conhecido, Toby distribuía sorrisos a cada música, contagiando cada vez mais todos que estavam presentes com sua energia e presença de palco, no melhor estilo PMA (Positive Mental Attitude).
Logo em seguida, veio “Everready“, interrompida no meio da execução por conta de um pequeno erro da banda (ao fim do show, ela foi tocada novamente, inclusive). Depois, foi a vez do público cantar “Family Tree” junto com o H2O, que ao final da música sempre emenda os primeiros versos de “Waiting Room“, do Fugazi. E, neste momento, o som da voz do público cobriu a banda, cantando “I am a patient boy, I wait, I wait, I wait, I wait”. Incrível.
Também fizeram parte do setlist músicas como “1995“, a belíssima “Sunday“, que fala de como a paternidade mudou a vida de Toby, e “Still Here“, considerada um verdadeiro hino do movimento straight edge. Mas um dos pontos altos do show, sem dúvida, foi quando Rusty tocou os primeiros acordes de “Memory Lane“, música que há muito tempo não era executada ao vivo. Foi um verdadeiro show de stage dives e sing alongs.
Outro ponto cheio de energia foi quando a banda tocou “Guilty by Association“, com participação de Maneko, vocalista do Mais Que Palavras, de Brasília, e amigo de longa data de Toby. A cada música, a energia da apresentação crescia, com a alegria daquele momento misturada à tristeza pela eventual despedida dos novaiorquinos das terras tupiniquins.
O clássico “What Happened?” também esteve no setlist, levando a um dos sing alongs mais altos da noite e, por fim, “5 Yr. Plan” e o bis de “Nothing To Prove” fecharam o show, que durou pouco mais de uma hora. Uma verdadeira catarse para os fãs de hardcore. Agora, é esperar para saber se a despedida é pra valer ou se é apenas um “até logo”. Aguardemos os próximos anos.