A espera acabou. Coringa: Delírio a Dois, a continuação do filme Coringa (2019), indicado ao Oscar em 2020, chegou aos cinemas nesta semana.
A sequência dá continuidade aos eventos ocorridos no primeiro longa. Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), preso no hospital psiquiátrico de Arkham, aguarda o seu julgamento público. Durante a sua estadia, ele acaba conhecendo Harleen “Lee” Quinzel (Lady Gaga) e eles desenvolvem um relacionamento romântico doentio. Lee e Arthur embarcam em uma desventura alucinada e caótica por Gotham City, enquanto o julgamento se desenrola, impactando toda a cidade.
O longa, que, assim como Coringa, foi dirigido pelo cineasta Todd Philips, adota um estilo narrativo e fotografia semelhantes ao anterior. Entretanto, há diferenças marcantes entre as obras, como o fato de Delírio a Dois ser um musical e de o novo filme basear-se em uma questão apresentada logo nos primeiros minutos: Arthur e Coringa são a mesma pessoa ou personalidades diferentes que coexistem?
Joaquin Phoenix entrega novamente uma excelente atuação no papel de protagonista, explorando com profundidade a mente complexa, o passado e os dilemas de Fleck. Já Lady Gaga, interpreta uma Lee com muito potencial, mas pouco aproveitada em razão das limitações do roteiro, deixando a desejar. Teria sido interessante explorar mais a fundo o passado da personagem, compreender melhor sua história e as suas motivações, além de vê-la protagonizando mais cenas.
O filme inova ao se apresentar como um musical, uma escolha artística que poderia ter se revelado uma excelente surpresa. Algumas das canções, como o cover de (They Long to Be) Close to You cantado por Lady Gaga e For Once in My Life, cantada por Joaquin Phoenix, são cativantes e interessantes para a construção da narrativa, acrescentando à atmosfera do filme. Phoenix, por exemplo, canta de forma amadora no filme, algo que faz total sentido considerando o seu personagem, que usa a música para expressar-se, mas não é um cantor profissional. Entretanto, o filme se estende de forma cansativa ao apresentar numerosas cenas musicais, sobretudo duetos, que, em sua semelhança, soam monótonos e repetitivos.
A tensão constante sentida pelo espectador, o timing dos acontecimentos e reviravoltas e a ambientação criados pela fotografia do filme são ótimos, entretanto, a excelente execução do filme não apaga o seu principal defeito: a aparente falta de propósito. A trama do filme, ao longo da sua duração de 2h e 20 minutos, avança pouco. Há diversas cenas que exploram o psicológico do protagonista ou momentos do seu cotidiano, mas o tempo da história real corre lentamente, sem que sejam apresentadas novas conclusões ou subtramas que justifiquem a existência do filme. Cenas como o difícil depoimento de Gary no julgamento, um novo ângulo da comoção pública instalada em Gotham ou da relação entre Arthur e os Wayne, por exemplo, poderiam ter sido melhor exploradas.
A falta de avanço da trama e de uma história envolvente nos fazem questionar a necessidade da sequência, uma vez que o primeiro filme funcionava bem como um filme solo de final em aberto até então. A fotografia, a originalidade e as boas interpretações não são suficientes para que o espectador evite comparações e questione o propósito da obra.
Ao tentar se distanciar do filme anterior, Delírio a Dois acaba nos relembrando ainda mais a sua dependência do primeiro filme para funcionar e os motivos e elementos pelos quais Coringa ainda é uma obra icônica e memorável (motivos e elementos que não estão presentes na continuação).
Confira o trailer de Coringa: Delírio a Dois abaixo: