
Gorilla Biscuits (Créditos: Matheus Paiva @mpm.foto/Musicult)
Para os fãs de hardcore, o show do Gorilla Biscuits em São Paulo era um dos mais esperados deste ano. Produzido pela Powerline Music & Books em parceria com a New Direction Productions, o evento aconteceu no dia 27 de setembro, no Fabrique Club, e contou com a participação de nomes conhecidos do underground nacional: Freak Fur, Strong Reaction, Good Intentions – que fazia o penúltimo show de sua carreira naquela noite – e Paura, além dos também estadunidenses do Values Here, que pisavam pela primeira vez em terras brasileiras.
As apresentações começaram pontualmente, com o Freak Fur sendo a primeira banda a subir ao palco. Na sonoridade, a inegável influência do hardcore melódico que se popularizou, de bandas como Pennywise, Bad Religion, Cigar, entre outras. Com letras em inglês e melodias marcantes, o quarteto apresentou no setlist músicas como Tomorrow Never Die e The Same Old Shit Again.
Em seguida, foi a vez do Strong Reaction mostrar a que veio. Com um som pesado e rápido, a banda fez uma apresentação cheia de energia, trazendo no setlist músicas de no máximo dois minutos, como manda o figurino do hardcore. No setlist, músicas como Iron Eagle e Personification deram o tom do show e, quem não conhecia, assim como eu, ficou curioso para ouvir mais.
Com a casa um pouco mais cheia, o Good Intentions subiu ao palco, trazendo consigo, além do clima de despedida, toda a força da causa vegan straight edge, que por anos foram a força motriz que produziu a Verdurada, um dos principais eventos da cena underground não só de São Paulo, mas do país inteiro.
Depois de 25 anos na ativa, a banda paulistana decidiu encerrar as atividades, e isso por si só tornou o show ainda mais especial, como bem lembrado pelo vocalista André Vieland nos intervalos do setlist, que contou com clássicos como Fase Que Não Passa, Be For Yourself, Representar Ameaça e Vida Simples, verdadeiros hinos do “X na mão”.

O show inteiro foi marcado pelos famosos sing alongs, estimulados por Vieland, que dividiu o microfone com quem estava na beira do palco. Um show especial, que arrancou discursos carregados de emoção por parte do vocalista, do guitarrista Fausto Oi, vulgo “homem das mil bandas”, mostrando que a filosofia straight edge segue mais viva do que nunca.
Pausa para a troca de bandas. Era hora do Paura subir ao palco. Logo no começo do show, um momento de irreverência do vocalista Fábio Prandini: o frontman iniciou a apresentação jogando balas de Cosme e Damião para o público, já que o dia 27 de setembro é justamente o dia dos santos.

Apesar dos problemas técnicos que comprometeram a qualidade do som em alguns momentos do show, o quinteto paulistano não se deixou abalar e não tirou o pé do freio um só segundo. No setlist, uma agradável surpresa: a música Level of Maturity, que abre o primeiro LP da banda fundada por Alexandre “Farofa” Cruz, ex-vocalista do Garage Fuzz.

O setlist também contou com as clássicas Truth Hits Hard, NWA (Never Walk Alone) e Reverse The Flow, driblando as oscilações de som e entregando uma apresentação incrível.
Mais uma troca de palco. Era hora do Values Here se apresentar. Liderada pela vocalista espanhola Chui, a banda também conta com o lendário guitarrista John Porcell (Shelter, Youth of Today, Judge), trazendo uma sonoridade hardcore com toques de pop. Foi um momento de menos agitação e mais de “parar” para conhecer a sonoridade do grupo, afinal era a primeira vez deles por aqui.

Aos poucos, o público foi sendo conquistado pela simpatia e presença de palco da frontwoman e a sinergia foi crescendo. No setlist, as músicas que compõem o debut da banda, intitulado Take Your Time, I’ll Be Waiting. Para quem gosta de som melódico, é um prato cheio.

Gorilla Biscuits, senhoras e senhores!
Mais uma pausa, um pouco maior dessa vez. Pontualmente às 22h, ouviu-se a famosa intro de New Direction, tocada por Rafael Klem (trompete) e Loge (trombone), do Gritando Ska. Já nesse momento, ainda sem um nenhum acorde de guitarra ser tocado, pessoas começaram a voar do palco, em um show de stage dives, clássico dos shows do novaiorquinos.

Quando a banda finalmente começou a tocar a primeira música do álbum Start Today, um verdadeiro mar de gente se projetou para a frente do palco, alternando entre ficar no moshpit, dividir o microfone com o vocalista Civ ou tentar um stage dive.
Uma apresentação praticamente sem pausas, o que para mim foi ainda mais positivo. O som não parava em nenhum momento. Logo após New Direction, vieram Stand Still, Degradation, Forgotten e Things We Say, aumentando cada vez mais a interação entre banda e público. Público esse que, por muitas vezes, cantou quase mais alto que o vocalista da banda.

O setlist também contou com músicas como High Hopes, Good Intentions, Big Mouth, No Reason Why e o clássico Sitting Round at Home, cover do Buzzcocks. Por falar em cover, outras duas homenagens marcaram a noite: a banda tocou Minor Threat, da banda homônima, e As One, do Warzone.

A apresentação trouxe de volta os tempos áureos do hardcore old school, com circlepits, stage dives e sing alongs acontecendo na mesma proporção. A energia do público brasileiro, mais uma vez, arrancou sorrisos de satisfação de toda a banda, principalmente de Civ e do guitarrista Walter Schreifels, velho conhecido do público e que, no dia anterior, fez uma apresentação solo no FFFront, tocando algumas músicas do Quicksand e Rival Schools, bandas das quais também faz parte.

No ponto mais alto do show, o Gorilla Biscuits começou a tocar Start Today e o público começou a invadir o palco de uma forma tão intensa que a banda ficou em segundo plano, ao fundo, enquanto as pessoas se acotovelavam em busca do microfone ou faziam crowdsurfing em cima umas das outras. Show direto, sem firulas. Foram 45 minutos de uma verdadeira aula de hardcore, e quem não foi, perdeu a chance de ver uma banda lendária de perto.

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