Se o indie pop de 2007 tivesse uma voz, seria a de Kate Nash. É difícil não lembrar do timbre e carregado sotaque britânico da cantora que estourou em uma época mais simples para nós, millenials: a época de Foundations, quando Kate foi apresentada ao mundo pela favorita das paradas britânicas na época, Lily Allen.
De lá para cá, não só uma pandemia passou, mas a cantora de indie pop saiu do mainstream e até surfou um pouco no pop punk com o disco Girl Talk.
Foram quatro álbuns e um hiato de seis anos, mas no 2º semestre de 2024 Kate Nash voltou com seu novo disco: 9 Sad Symphonies, um álbum que facilmente faz qualquer pessoa adulta em 2024 se identificar.
Triste feliz e vice-versa
Pode até ser que a fase com influências punk e postura Riot grrrl de Kate Nash tenha sido interessante, mas sua essência musical, aquela na qual voz e melodias dão um match perfeito, sempre foi a do pop indie doce com um toque de tristeza.
Em 9 Sad Symphonies Kate retorna para nós com ritmos e letras um pouco mais melancólicas. E tem também o efeito The Cure, um “feliz triste”. O álbum é uma salada de frutas colorida servida em uma noite fria e chuvosa; violino, piano, batidas animadas, voz doce, letras íntimas e, às vezes, deprimentes.
“Eu me sinto tão sensível, é difícil viver quando alguma coisa me deixa para baixo a miséria está aí para te pegar” — Letra de Misery, faixa dois.
Quando ouvi o disco, tive certeza de que os palavrões, letras cruas e ácidas seguem sendo o charme da britânica. Prova disso é a música Wasteman que fala algo como “Você é um desperdício de homem e faz meus ombros doerem”. Lá para a quinta faixa, Kate para de insultar os machos e chega Horsie, cuja ironia é o arranjo e melodia que quase me ninaram, mas tem uma letra bastante desesperançosa sobre a vida.
9 Sad Symphonies: um álbum para ouvir na rede tomando chá
O disco inteiro tem uma estética campestre, para ouvir em uma chácara, tomando chá e fazendo carinho no seu pet (ou pelo menos sentir a vontade de fazer isso). E quem disse que não teria romance? A oitava música, Space Odissey 2001, é a história de um relacionamento do começo ao fim, e é (quase) óbvio que o fim não é nada bonito.
Voz e violão compõem a sentimental e introspectiva Ray, a penúltima faixa do álbum. Por último, e bem importante, chega Vampyre, que acaba sendo um sopro de leveza e otimismo, deixando nosso coração quentinho com uma melodia simpática, calma e romântica e uma letra sem grandes poesias.
Se você acompanha Kate Nash há bastante tempo, 9 Sad Symphonies pode parecer familiar. Será que ela caiu no comodismo, soando como uma cópia de si mesma, ou seria apenas sua personalidade e estilo musical? Deixo aqui o questionamento.
Seja autoplágio involuntário ou não, o novo álbum da britânica passa longe de ser pretensioso e é um retorno muito bem-vindo para quem quer respirar novos lançamentos de pop alternativo.
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