Fui assistir a Foge-me ao controle esperando um documentário padrão. Daqueles que colecionam trechos de entrevistas e momentos marcantes da personalidade na TV, depoimentos de amigos e familiares e, vez ou outra, algum vídeo inédito. Mas um filme sobre alguém como Fernanda Young jamais poderia ser padrão ou comum.
Engraçada, desbocada, assertiva, autêntica… muitos adjetivos eram atribuídos a Fernanda Young (1970-2019), uma artista que eu conheci, inicialmente, como apresentadora, no programa “Irritando Fernanda Young” no GNT. Me chamou a atenção alguém ter um programa com esse nome, que deixava claro que ela estava ali pra ser irritada, provocada – e provocar de volta. Mas ao ver aquela mulher, me vi encantada pelo seu jeito direto e pelas inúmeras tatuagens.
Com o tempo, eu fui crescendo e me inspirando de alguma forma em Fernanda Young, depois li “Aritmética” e outros de seus livros e minha admiração pela multiartista que se mostrava talentosa em tudo o que se propôs a fazer só aumentou.
Sua morte, aos 49 anos, me chocou como se eu tivesse perdido alguém conhecido, uma amiga.
Em Foge-me ao Controle, que sairá 5 anos depois da morte de Fernanda, é possível reviver um pouco do que ela foi para a arte no geral. Sem a pretensão de ser um documentário padronizado, o filme é uma viagem artística pelo pensamento de Fernanda, por meio de trechos de programas de TV que apresentou, depoimentos que deu e imagens de sua vida pessoal, além de cenas de séries que roteirizou, como a eterna “Os Normais” e “Shippados”.
Inclusive, nos roteiros, Fernanda contou, muitas vezes, com a parceria do marido, Alexandre Machado. E essa parceria ganha uma descrição poética e sincera de uma das filhas do casal.
Mas, apesar do sucesso dos roteiros e de suas aparições na televisão, Fernanda Young sempre se identificou como escritora e isso é reforçado em muitos trechos de entrevistas mostrados no filme, assim como excertos de alguns de seus 15 livros publicados ganham vida lidos pela atriz Maria Ribeiro.
Além das letras, Fernanda também desenhava e lançou um livro fotográfico e esses desenhos e fotos ganham animações que completam o documentário.
“O documentário mergulha neste lado literário da Fernanda que pouca gente conhece. Ela se ressentia por não ser reconhecida como escritora, e foi uma voz sobre o feminismo em uma época em que o assunto era pouco abordado”, conta Susanna Lira, diretora de Foge-me ao Controle.
Durante todo o filme, que tem 86 minutos de duração, é possível ver as diferentes fases e faces de Fernanda Young, que foi de uma jovem punk revoltada a uma mãe amorosa e criativa, que deixou um legado indiscutível na TV e na literatura.
Com distribuição da Synapse Distribution, o filme chega aos cinemas no dia 29 de agosto depois de ganhar os prêmios de Melhor Montagem no Festival “É Tudo Verdade” e de crítica no Festival de Paraty.
Com argumento de Marcella Tovar e Susanna Lira, o documentário tem roteiro final de Clara Eyer e Ítalo Rocha, que também assinam a pesquisa de conteúdo; e roteiro de Beto e Bruno Passeri. “Fernanda Young – Foge-me ao Controle” é um filme da Modo Operante Produções, em coprodução com o canal GNT.
O filme terá sessões especiais, seguidas de debate, nos dias 29 e 30, em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente.
Em São Paulo, o evento está marcado para às 18h, no Espaço Augusta 4 – Anexo, com a presença da diretora Susanna Lira, da diretora assistente Clara Eyer, da roteirista Juliana Rosenthal e de Catarina Young, filha de Fernanda.
No dia seguinte, 30/8, sexta, o evento acontece no Rio de Janeiro, no NET Gávea, a partir das 20h. Além da diretora e da diretora assistente, participam do debate a atriz Maria Ribeiro – responsável pela locução no filme – e a editora Eugênia Ribas.
O filme terá exibição até o dia 4 de setembro em outras cidades no Brasil, confira os locais: