
Capa do single "Bobagem"
Abrindo os trabalhos para o futuro terceiro álbum, Existir é Resistir, a Trash No Star, banda carioca formada por Letícia Lety, Felipe Santos, Pedro Millecco e Mara Chantre, se uniu a Reynaldo Cruz (Plastic Fire) no lançamento do single “Bobagem”, que, apesar do nome despretensioso, traz uma letra profunda que é tudo, menos uma coisa boba.
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“Até quando eu vou ter que repetir até você entender?” é a pergunta que inicia a música, que, numa sonoridade grunge encontra shoegaze traz a voz suave de Lety falando sobre vozes silenciadas e o sentimento incomparável de ter sofrido uma violência.
Segundo a vocalista, “Bobagem” foi composta em 2014 numa tarde de muita raiva. E esse sentimento é perceptível na versão final da faixa, que traz no refrão uma afirmação poderosa e na segunda parte o contraste entre a voz de Lety com os gritos poderosos de Reynaldo.
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“Fiz essa música em 2014, num momento muito delicado, quando estava bastante envolvida com a militância, realizando diversos acolhimentos e senti na pele o que é ter que lidar sozinha com isso quando aconteceu comigo”.
A letra fala sobre buscar ajuda e em troca receber julgamento, descaso e culpa.
“Esse tipo de desdobramento é muito comum após uma situação de violência. As pessoas te acusam de não ter se cuidado o suficiente, questionam seu caráter e te culpam por ter sofrido o assédio, o estupro, o racismo… Ainda é difícil tocar ela ao vivo, e é assustador a quantidade de pessoas que se identificam. A impressão é que ninguém liga, que estamos sozinhas nesse barco sofrendo opressões absurdas, que a nossa voz nunca vai chegar onde deve, e se chegar vai ser relativizada. A rede de apoio é mínima, somos nós por nós mesmo, sabe? De 2014 até hoje quase nada mudou, até que virou uma chave de que não basta nós mulheres, pessoas pretas e demais corpas dissidentes lutarmos contra as violências que sofremos, está na hora dos aliados cobrarem seus pares e se posicionarem. Tenho cobrado muito isso nos shows e geralmente rola um silêncio constrangedor depois dessa minha fala, salvo manifestações das mulheres e da comunidade LGBTQIAPN+ presentes”.
A bateria foi gravada por Vita Parente no antigo endereço da Motim, na Gonzaga Bastos (Vila Isabel), as guitarras, vocais e baixos foram gravados por Lety e Mara Chantre em suas respectivas casas.
Lançado pelo selo Efusiva, a mixagem e masterização de “Bobagem” foi feita por Leo Shogun, “que foi meu professor de áudio num curso oferecido pela Biblioteca Parque no centro do Rio”, diz Lety. “Shogun adicionou o toque My Bloody Valentine na música, com a guitarrada dominando tudo. Amamos e dá uma prévia do que está nas demais faixas de ‘Existir é Resistir'”.
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