A hegemonia da política neoliberal na contemporaneidade, isto é, no reconhecimento de que tudo hoje passa pela lógica capitalista e na consequente falta de esperança quando percebemos que não há escapatória, junto ao metal/hardcore torto e em diversos momentos caótico, é o pano de fundo do novo EP do Institution, O Grande Vazio, já nas plataformas de streaming.
O Grande Vazio traz quatro faixas, sendo uma delas, “Eulogia a um Futuro Esquecido”, com participação nos vocais de Jair Naves (Ludovic).
O Grande Vazio foi produzido por Rodolfo Duarte, baixista da banda, em conjunto com a banda. Foi gravado no estúdio High Five e mixado pelo próprio Rodolfo. A master ficou por conta do Fernando Sanches do estúdio El Rocha.
O guitarrista Fábio Pereira comenta sobre a evolução da banda, se comparado este lançado ao anterior, o álbum Ruptura do Visível (2020): “Evoluímos muito na questão de montagem das músicas, estamos muito mais atentos a certos detalhes musicais que antes passavam batidos”.
Além disso, O Grande Vazio amplia no Institution o uso de sintetizadores, que já haviam aparecido no último disco. Samplers eletrônicos também aparecem no novo EP para enriquecer mais ainda a experiência sonora e trazer mais ambientes diferenciados nas músicas.
Os anos de produção, aliás, explicam os tantos processos e experimentos. As músicas começaram a ser concebidas ainda em 2020, no ano em que a pandemia forçou uma verdadeira ruptura nos planos do Institution.
“Fomos forçados a cancelar a nossa tour que já tinha cerca de 20 shows e cada um ficou focado em ‘sobreviver’, já que a maior parte da banda trabalha com arte. Quando conseguimos voltar a ensaiar em 2022, o nosso disco mais ‘novo’ já tinha 2 anos e sentimos a necessidade de gravar músicas novas”, lembra Fábio.
Sem pressão, a banda foi minuciosa na produção das novas músicas até levar o material bruto para estúdio e, enfim, nascer O Grande Vazio.
As letras de “O Grande Vazio”, comentadas pelo vocalista Hélio Siqueira
A faixa “Assimetria” fala sobre como a “autonomia” foi transfigurada pela internalização das injunções do mercado. O empreendedorismo se tornou uma ferramenta ideológica. Exigimos contínua produtividade e excelência de nós mesmos e acreditamos que o sofrimento é parte da prosperidade. De que para chegar lá, se faz necessário sofrer no processo. Hoje, exploramos a nós mesmos sob a ideia de que somos livres, quando no fim nossas ações passam por essa lógica empresarial, de contínua produtividade. O esgotamento e a depressão surgem, então, como sintomas patológicos desse processo.
No caso da faixa “Eulogia A Um Futuro Esquecido”, fica o sentimento de negação frente a impossibilidade de superação do capitalismo. O neoliberalismo está tão naturalizado que se apresenta como um fato inerradicável da vida. Para essa música, chamamos nosso amigo Jair Naves. Somos admiradores do seu trabalho e há tempos gostaríamos de trabalhar com ele. A voz do Jair caiu como uma luva para o tom da música. Não podia ter sido de outra forma.
“Autofagia” faz referência a dinâmica de destruição e de ressignificação do capital. A gênese do neoliberalismo está justamente nas crises que o capitalismo enfrentou ao longo das últimas décadas. Não há nada que não venha a ser reificado pelo capital. Ele devora tudo, inclusive a si mesmo. Lucro é a única meta. Nada mais importa.
A música “Lapso” corresponde a lógica de que, se não há mais como superar as estruturas do capitalismo, então nós falhamos. A submissão fatalista parece ser o único caminho seguro de um futuro que se mostra cada vez mais cancelado.
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