Para os fãs de punk rock, a noite do dia 21 de junho de 2024 não foi só mais uma. Isso porque um dos grandes nomes do gênero, Discharge, retornava a São Paulo. Em sua terceira passagem pelo Brasil, os ingleses se apresentaram no Carioca Club. O show, que faz parte da Hell On Earth Tour, foi produzido pela Dreamers Entertainment em parceria com a Route One Booking, e contou com um line-up de peso: Manger Cadavre? (SP), Havok e Midnight, dos EUA.
E é claro que o Musicult esteve presente nessa festa, que começou pontualmente às 19h30, com o Manger Cadavre? subindo ao palco. Tocando para um Carioca Club ainda não tão cheio, mas com público bastante atencioso, a banda liderada pela vocalista Nata Nachthexen fez uma apresentação pesada, forte, e com posicionamento político forte: sempre à esquerda, favorecendo as iniciativas antifascistas, como o punk tem que ser.
O quarteto iniciou a apresentação com “Insônia” e logo em seguida vieram “Imperialismo” e “Hostil”. Durante os intervalos entre os blocos, Nata fazia questão de deixar claro que a banda não se resume à música, mas atua como uma forma de se manifestar politicamente, sempre defendendo a revolução popular contra o poderio da burguesia. Músicas como “Iconoclastas”, “Retórica do Silêncio” e “A raiva muda o mundo” também fizeram parte do setlist da banda de São José dos Campos. Para mim, esse último título resume bem a proposta da banda: a raiva como ferramenta de transformação social. Eu já conhecia a Manger Cadavre? há muito tempo e nunca tinha tido a oportunidade de assistir a um show deles. Superou as expectativas, sem dúvida.
Pausa para a troca de palco, era hora dos americanos de Denver do Havok se apresentarem. Pontualmente, às 20h30, o quarteto, que em muito lembra os brasilienses do Violator, começou sua apresentação em um Carioca Club agora mais cheio.
Com um thrash metal que une o som dos anos 80 com elementos mais modernos, a banda agitou o público, que fez circle pits incansáveis durante toda a apresentação. No setlist, músicas como “Point of no Return”, “Fear Campaign”, “Hang ‘Em High” e “Phantom Force”, o quarteto matava as saudades do público brasileiro, visto que já se apresentou por aqui em outras oportunidades.
Durante o show, “Covering Fire” aumentou o bpm da noite, acendendo ainda mais o público, composto por punks e headbangers de boné do Suicidal Tendencies com aba levantada (típico hahaha). Em termos de som, foi a melhor experiência, para mim. Tudo muito audível, alto e extremamente pesado.
Mais uma pausa e cerca de meia hora depois, Midnight subia ao palco. A princípio, confesso, o visual dos membros da banda, composto por jaquetas de couro, capuzes e cintos de balas, me fez pensar que se tratava de algo que flertasse com o black metal, o que me desanimou um pouco.
Mas, para minha agradável surpresa, a sonoridade lembrava uma mistura de muito bom gosto de Toxic Holocaust com pitadas de Motorhead. Um “Ace of Spades” mais 666, por assim dizer haha. Fizeram parte do setlist músicas como “Funeral Bell”, “Black Rock n’ Roll” e “Lust Filth and Sleaze”, essa última me chamando bastante atenção, pois para mim é a que mais traduz a proposta da banda. Se você é um grande fã de riffs com uma pegada mais rock ‘n roll anos 80 com elementos de thrash metal, super recomendo o Midnight.
Discharge no palco
Às 23h30, horário que já faz a coluna dos 30+ como eu gritar de dor depois de algumas horas de pé, o Discharge subiu ao palco. Velha conhecida e idolatrada pelo público, a banda não fez questão de tirar um som perfeito durante o show. A ideia era soar como nos discos: cru, sujo, pesado, sem tanto preciosismo. Afinal, trata-se de uma banda punk dos anos 70. Essa “sujeira” é que deixa tudo mais interessante.
Com muita energia durante todo o show, o frontman Jeff “JJ” Janiak conversou com o público, falando do quanto era bom estar de volta ao Brasil e se reconectar com o público de São Paulo. O show começou com “The Blood Runs Red”, “Fightback” e “Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing”, faixa título de um dos discos mais emblemáticos da banda inglesa.
Se você acha que o cansaço por conta da espera e do horário avançado ia deixar os presentes menos ensandecidos, se enganou horrivelmente. Bastou a banda colocar os pés no palco e tocar o primeiro acorde, para que os punks começassem a se jogar uns por cima dos outros e gritar como se fosse a primeira apresentação do Discharge por aqui. Incrível.
Dando continuidade ao show, mais clássicos, como “A Look At Tomorrow”, carinhosamente dedicada ao Ratos de Porão, que na última apresentação dividiu o palco com os ingleses no Fabrique Club, e “Protest and Survive”, deram o tom daquela noite. Com uma infinidade de músicas no set, como “War is Hell”, “The Possibility of Life’s Destruction” e “Decontrol”, o Discharge mostrou o porquê de ainda ser uma banda tão relevante. É como um bom vinho: quanto mais envelhece, melhor fica. E por aqui ficou de forma mais do que marcante. Inesquecível, sem dúvida. Agora nos resta esperar a próxima vinda do grupo por aqui, e se considerarmos a interação da banda com o público, posso afirmar que não deve demorar muito. Voltem sempre!