Vórtex do Silêncio: é um prato cheio para os fãs de literatura fantástica

Imagine o planeta Terra, mais especificamente o continente americano e o Brasil, 2500 anos no futuro, dominado por seres sobrenaturais diversos, de magos a morto-vivos. Essa é a premissa do ambiente em que se passa a história de Vórtex do Silêncio, livro de estreia do autor brasileiro Heitor Zen, que vai muito além de um cenário distópico e é um prato cheio para fãs de literatura fantástica.

O livro

A história começa em Kilambaram, a última cidade humana do mundo, onde Goya, que é um mago da Escola da Luz, descobre que a magos da Escola da morte aprisionaram um ser, o vorágulo, e estão torturando, fazendo experimentos com ele e esse senso de justiça aflora em Goya, que decide usar seus poderes para salvar Yuki, o vorágulo aprisionado. Um desses poderes é a transmutação, e ele se infiltra como a feiticeira Cecília.

Então a partir desses primeiros capítulos do ponto de partida da história, a gente já tem muita ação, porque começamos a acompanhar a fuga dos dois e a tensão de um deles estar se passando por outra pessoa.

Apaixonado por Cecília, no momento em que Yuki descobre que ela é, na verdade, Goya, o vorágulo ataca seu companheiro de fuga, mas eles acabam tendo que permanecer juntos para sobreviver e, a partir dali, seguem em busca de um local seguro e a viagem se torna muito maior e com muito mais aventura do que ambos poderiam imaginar, especialmente após conhecerem Emma, uma luna, outro ser sobrenatural parte da história e que tenta alertar ao mundo sobre uma guerra iminente.

Outros seres sobrenaturais surgem ao longo da história como o vampiro Diego, os infernais e ê espectral Levi. Sim, o livro usa linguagem neutra para se referir a este personagem, o que só deixa tudo ainda mais interessante e imersivo em um mundo futurista – já que a discussão do uso da linguagem neutra ainda traz muito debate no mundo atual.

E falando em escolha de linguagem, outro ponto interessante é que o livro é narrado em partes por Goya e em outras partes por Yuki e a forma de escrita do autor se altera em cada um dos capítulos, deixando claro de qual ponto de vista estamos vendo aquela história – confesso que quando li as primeiras partes de Yuki, achei que havia algum erro de revisão, mas depois compreendi que o personagem não fala muito bem o idioma de Goya, rs., por isso não há artigos antes dos substantivos, mas depois que me acostumei, entrei mais na percepção do personagem.

O livro vem com um mapa, criado por Brendo Francis, e as cidades e locais pelos quais Goya e Yuki vão passar e traz uma história muito interessante que envolve aceitação, amor e muita batalha.

Amor e autoaceitação

Mesmo trazendo tantos elementos fora do comum e incorporando seres místicos, o livro traz como pano de fundo a autoaceitação, já que Yuki precisa entender seu passado e superar um de seus maiores traumas – a perda de um grande amigo vorágulo, e também uma história de amor entre dois seres que são completamente diferentes.

Manipulando a luz, Goya se vê dependente dos poderes sombrios de Yuki para sobreviver em um mundo onde tudo o que morre, volta a viver.

Um ser de luz e um que traz a escuridão dentro de si buscando se entender e também se conectar. E é neste caminho tortuso de sentimentos e em meio a uma guerra, que passamos pelas muitas páginas de Vórtex do Silêncio.

O autor

Heitor Zen é escritor e funcionário público em São Paulo. Graduado em direito pela Universidade de São Paulo (USP), pós-graduado em escrita criativa pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e formado pelo Curso Livre de Preparação de Escritores (Clipe), na modalidade Prosa, oferecido pela Casa das Rosas. Publicou contos em diversas antologias, além de revistas norte-americanas e brasileiras de ficção especulativa.

Sobre seu livro de estreia, que nasceu no auge da pandemia e foi publicado este ano, Heitor se inspirou em Tolkien e afirma que sua história é mais sobre pertencimento do que qualquer outra coisa:

“A história do meu livro nasceu no auge da pandemia e de certa forma foi gerada pelo isolamento: primeiro, como forma de sobreviver a ele; depois, como tentativa de transcendê-lo. Também ajudou que naquela época, de repente, eu tinha bastante tempo livre para escrever. O romance sofreu revisões, mas a essência permaneceu a mesma. É uma história, acima de tudo, sobre pertencimento.”.

Vórtex do Silêncio tem 385 páginas, sua 1ª edição saiu em 2024, publicada pelo selo Teju Jagua da Editora Urutau, e você pode adquirir o livro no site da editora. Ah, e ler mais sobre livros aqui no Musicult.