No último fim de semana, aconteceu, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, o C6 Fest 2024, segunda edição do festival que já está se tornando o queridinho dos indies no Brasil e que, neste ano, reuniu grandes artistas da música alternativa nacional e internacional.
A programação se desdobrou em dois palcos principais, o Heineken e a Arena MetLife, além do auditório do Ibirapuera. Alguns shows eram muito esperados, enquanto outros, com nomes menos conhecidos, surpreenderam pela incrível qualidade musical de seus artistas.
Mas no meio de tantos shows, o Musicult te conta quais foram os destaques deste eclético final de semana no espaço mais verdejante de São Paulo.
Os destaques do C6 Fest 2024
Raye
A cantora e compositora britânica Raye, encanta pelo seu estilo que lembra grandes nomes do jazz e pela maneira como mescla esse ritmo clássico com hip-hop. Ela prova em seu show, um dos melhores do C6 Fest, que é um nome que veio para ficar na indústria musical por muito tempo.
Com apenas um disco de estúdio lançado, “21st Century Blues”, Raye demonstra vocais intensos e é acompanhada por uma banda de respeito, que estimula uma plateia animada a cantar a plenos pulmões músicas como “Oscar Winning Tears”, “Worth It” e a mais lenta e delirante “Sweet Mary Jane”. No hit “Escapism.”, música que, segundo a própria Raye, mudou sua vida, é hora de se entregar, como se você precisasse daquela cura e daquela misericórdia para mudar sua vida, mas não naquela noite; no sábado do dia 18 de maio, todos só queriam curtir e se jogar na pista de dança que Raye criou.
Com músicas como “Black Máscara” e “Prada”, ela animou seu público, enquanto, cheia de simpatia e bom humor, compartilhava momentos de sua vida, o fato de ter feito o show do C6 Fest 2024 com intoxicação alimentar causada por ostras.
Em sua primeira apresentação no Brasil, a cantora de 26 anos mostrou que é muito mais do que belos vocais. Ela exala carisma, elegância e demonstra que não tem medo de relatar momentos de vulnerabilidade, o que marca um dos momentos mais emocionantes do show, na faixa “Ice Cream Man”. Raye conta sobre um episódio de abuso que passou com um produtor da indústria musical. Como diz em sua música, “I’m a very fucking brave strong woman”, e ainda bem que ela compartilha sua arte com o mundo.
Squid
Na sua estreia no Brasil, a banda Squid mostrou por que é uma das novidades mais empolgantes da atual cena Post-Punk. Em turnê pelo álbum Bright Green Field de 2021 e do disco O Monolith de 2023, os membros da banda exibem uma sintonia e criatividade que enchem o palco de rock experimental.
Com o vocalista e baterista enérgico, Ollie Judge, à frente, músicas como “Narrator” e “Padding” transformam o show em uma viagem impetuosa, conquistando tanto novos fãs quanto deixando os antigos com um gostinho de quero mais. Volta logo, Squid!
Cat Power
Ao assistir ao show de Cat Power, você logo perceberá que ela é a mulher mais elegante do mundo. Junte a isso uma banda incrivelmente talentosa que a acompanha e um elemento importante: nesta turnê, ela apresenta clássicos de Bob Dylan de forma intimista. Esses elementos combinados fazem com que seu show no C6 Fest 2024 tenha sido extraordinário em todas as suas nuances.
Chan Marshall, conhecida como Cat Power, recria de forma impecável as canções icônicas de Bob Dylan no álbum ao vivo “Cat Power Sings Dylan: The 1966 Royal Albert Hall Concert”, mas sem deixar de fora o seu diferencial, que torna as músicas tão suas. A primeira parte, composta apenas por faixas acústicas, é um emocionante passeio pela discografia do cantor.
Entre os destaques, a versão de “Mr. Tambourine Man” e, na parte elétrica do show, músicas como “Ballad of a Thin Man” e, é claro, “Like a Rolling Stone”, um clássico que empolga o público. Esta última encerrou o show de forma belíssima, deixando Cat Power visivelmente emocionada e a plateia com a sensação de privilégio por prestigiar uma artista multifacetada como Cat Power.
Daniel Caesar
No início da tarde de domingo, já era possível ver fãs acampados junto ao palco Heineken, esperando ansiosamente a performance do último romântico, Daniel Caesar. Seus fãs não devem ter se arrependido, pois foram presenteados com um show magnético que levou muitos às lágrimas, O cantor de 29 anos, demonstrava o tempo todo a sua alegria em estar no Brasil. Além disso, ele tinha o público nas mãos, permitindo um belíssimo coro em sua música de maior sucesso, “Best Part”.
Outros hits não foram deixados de lado, como “Get You”, “Superpowers” e “Japanese Denim”, mesclando faixas de seus cinco discos lançados. O show de Daniel Caesar valoriza a simplicidade, deixando claro a real conexão que o artista busca com seu público, o que o diferencia de outros, além de sua voz angelical.
Black Pumas
Na sua segunda passagem pelo Brasil, o duo Black Pumas mostrou mais uma vez por que é uma das combinações mais interessantes que surgiram nos últimos anos na música. Formado pelo renomado guitarrista Adrian Quesada e pelo vocalista Eric Burton, esse conquista o público com sua voz potente, simpatia e malemolência no palco, tornando o show um dos melhores do C6 Fest.
A mistura de ritmos dos Black Pumas é tão difícil de definir que a crítica americana os chamou de soul psicodélico. Em uma turnê baseada nos seus dois últimos álbuns, “Black Pumas” de 2019 e “Chronicles of a Diamond” de 2023, músicas como “Fire” trazem fúria ao palco, enquanto outras mais lentas como “Angel” dão total liberdade para a voz de Eric Burton hipnotizar a todos.
No final do show, a cativante “Colors” mostra a pluralidade desse duo. Ainda houve espaço para um cover de “Fast Car” de Tracy Chapman no encore. Ao final do show, o público foi arrebatado pela intensidade que é o Black Pumas.
Pavement
O show mais esperado de domingo foi do Pavement. Os fãs se aglomeraram na Arena Metflife para testemunhar a banda irreverente e autodepreciativa que moldou a cena indie dos anos 90. Neste retorno ao Brasil, eles revisitaram grandes sucessos como “Shady Lane” e “Gold Soundz”, além de fazer o público pular e relembrar os velhos tempos com músicas como “Stereo” e “Silence Kid”, provando que ainda permanecem enérgicos no palco, apesar do setlist mais curto em comparação com outros países da América do Sul.
A apresentação começou ao som de “Grounded”, uma homenagem à produtora mineira Fernanda Azevedo, uma fã da banda que faleceu recentemente. Outra surpresa foram as imagens de obras do artista plástico brasileiro Leonilson exibidas no telão. Ainda rolou uma dedicação especial à cidade de Porto Alegre antes de tocar a faixa “Cut Your Hair”.
O repertório foi recheado de hits, além de outras faixas dos cinco álbuns de estúdio da banda. Bob Nastanovich, sempre animado, permaneceu fiel ao seu estilo hilário, interagindo com a plateia e dançando com uma fã no palco. Steve Malkmus, brilha com sua voz inconfundível, que encanta gerações.
Para as novas gerações, a redescoberta da faixa “Harness Your Hope” – faixa b-side que se tornou hit no TikTok com jovens casais dançando – trouxe um vigor a banda. E apesar da promessa de não lançarem novas músicas juntos, a turnê de reencontro do Pavement vem para agraciar os fãs ávidos por bandas autênticas, pois no palco, o grupo continua afiado e cheio de energia.
Com tantos artistas incríveis, faltou tempo para ver todos os shows
O C6 Fest 2024 também contou com a presença de outros incríveis artistas como Romy, Noah Cyrus, Soft Cell e Paris Texas. Nos shows de todos esses artistas era visível a empolgação deles por estarem no Brasil, onde os fãs são tão entusiasmados.
Mas os shows eram em horários muito próximos um do outro, o que levou a galera a ter que se organizar para ver os shows que mais queria e, por isso, sacrificou outros shows.
Além disso, a distância entre os palcos era bem grande e foi preciso que funcionários do evento direcionassem as pessoas para que ninguém se perdesse.
Esperamos que a próxima edição do C6 Fest ajuste esses pontos e continue com a proposta de selecionar artistas fora da curva, priorizando o talento musical, algo que amamos ver.