Estrelado por Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist, o filme Rivais conta a história da treinadora Tashi Duncan (Zendaya), que inscreve seu marido, o célebre jogador de tênis Arthur Donaldson (Mike Faist) em decadência, em um torneio menor para que ele recupere sua autoconfiança. O seu principal adversário do torneio é seu ex-melhor amigo e ex-namorado de sua esposa Patrick (Josh O’Connor). O reencontro entre ex-amigos e ex-amantes desperta antigas memórias e situações do passado.
Rivais é dirigido por Luca Guadagnino, também diretor do aclamado filme Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e vencedor do prêmio BAFTA de Melhor roteiro adaptado e conta com roteiro de Justin Kuritzkes.
O longa é uma obra cinematográfica sedutora, intensa e dinâmica como um jogo de tênis, afinal segue a dinâmica de uma partida: tensões, idas e vindas, rivalidade, competitividade. Além disso, o tênis literal e metaforicamente é um dos protagonistas do filme, afinal, como Tashi diz durante uma das cenas: “o tênis é um relacionamento”. Essa afirmação diz muito sobre a centralidade do esporte na trama.
Em Rivais, o sexo também aparece como um instrumento de poder. De forma mais óbvia entre Zendaya e os protagonistas masculinos, mas de forma mais sutil e sugerida, também entre os dois. É por meio desse elemento que a dinâmica de amizade no filme se altera, e que se cria, fomenta e termina relacionamentos.
Como principal ponto positivo, o filme consegue construir bem seus momentos de tensão e expectativa e acertar no timing desses momentos, deixando o espectador na ponta do assento, atento a cada detalhe que se passa na tela de cinema. O filme também acerta em relação aos flashbacks, que agregam positivamente à narrativa, sem torná-la confusa, e são essenciais para que o público compreenda aos poucos os eventos ocorridos.
Outro grande mérito do filme é o fato de que o longa não tenta recorrer a artifícios mirabolantes para se estabelecer como um bom filme: já imaginamos o que provavelmente aconteceu entre os personagens, então as novas informações não são reviravoltas chocantes para o espectador. O destaque é a execução e a forma como a história é retratada: como os detalhes vem à tona, as sutilezas do roteiro, as expressões faciais e, sobretudo, as nuances das imperfeições e complexidades de cada personagem, na forma não-linear e coerente como a história é contada.
O longa conta com ângulos de câmera inovadores, sobretudo durante a principal partida de tênis do filme, uma sequência intrigante e dinâmica de tirar o fôlego, que de forma alguma é passiva “apenas” randomness uma partida. O jogo de câmera contribui para a percepção de que há muito mais em jogo, que há sentimentos, riscos e competitividade envolvidos. É também interessante como o contraste entre cenas aceleradas e cenas de câmera lenta é usado para gerar antecipação na audiência.
O filme não conta com uma variedade de personagens ou enredos secundários mas o trio de protagonistas Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist sustenta a trama, atuando de forma impecável. Apesar de cada um ter seus traços marcantes que os caracterizam e Patrick e Arthur serem complementares em certa medida, são complexos e humanos em suas motivações, ambições, sentimentos e travas emocionais. Observar Zendaya interpretando uma personagem adulta (não mais uma estudante do ensino médio) e mãe em um filme de drama também é revigorante, conferindo um peso maior aos papéis interpretados por ela.
A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Rose também contribui para a completa imersão do espectador no filme, contando até mesmo com a canção Pecado de Caetano Veloso, que aborda amor e proibição, dois temas centrais ao filme.
Assim, Rivais é uma surpresa bem-vinda, que não se destaca por grandes acontecimentos, mas pela complexidade dos relacionamentos abordados, sejam eles amorosos ou amizade, pela magnitude de atuações, e por suas excelentes e inovadoras escolhas criativas.