Na última semana, o Musicult teve a oportunidade de conferir com antecedência Saudosa Maloca, filme que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 21 de março.
Saudosa Maloca é inspirado em uma das canções famosas do lendário cantor e compositor paulista Adoniran Barbosa, nome artístico de João Rubinato, que é conhecido por canções como Trem das Onze, Tiro ao Álvaro e Saudosa Maloca e traz São Paulo como protagonista de suas músicas.
A trama divide-se entre o presente, no qual Adoniran conta histórias do seu passado para Cícero (Sidney Santiago), um jovem garçom, e o passado, com flashbacks dos momentos narrados. Adoniran Barbosa (Paulo Miklos) discorre sobre os saudosos tempos de uma São Paulo que já não existe mais, crônicas vividas ao lado dos amigos Matogrosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado), de Iracema (Leilah Moreno) e outros moradores do bairro do Bixiga, ameaçados pelas grandes transformações urbanas nas décadas de 1950 e 1960.
Dirigido por Pedro Serrano, esta não é a primeira vez que o diretor conta a história do músico. No passado, Serrano já lançou o curta Da Licença de Contar (2015) e o documentário Adoniran, Meu Nome é João Rubinato (2020).
Saudosa Maloca mostra de forma precisa o “encanto das ruas”. Como afirma Luiz Antonio Simas no livro O Corpo Encantado das Ruas, as ruas incorporam o movimento, propiciando diariamente encontros improváveis e a convivência entre os mais diferentes sujeitos: sambistas, crianças, mães, garçons, empresários, comerciantes amantes desesperados, freiras… As ruas são “objetos de história”, reunindo diferentes modos de vida, visões de mundo, dinâmicas e saberes.
A produção exibe perfeitamente o contraste entre os diversos moradores do Bixiga, com seus diferentes sonhos, dilemas e vivências e o longa equilibra de modo preciso momentos sérios e descontraídos, contrapondo o clima leve de boemia, rodas de samba semanais no bar, tiradas engraçadas e a amizade existente entre Adoniran, Joca e Matogrosso, com questões sérias como fome, pobreza, gentrificação, a ameaça aos pequenos negócios, preconceito linguístico e luto.
O longa dispõe-se a mostrar os aspectos negativos do “pogréssio”, focando na narrativa daqueles quem sofrem as consequências diretas do surgimento de grandes inovações. Assim, a cultura da gafieira retratada ganha dualidade, funcionando também como um simbolismo para a simplicidade e rota de escape e resistência daqueles que não são “bacanas” e levam uma vida dura em meio às adversidades.
A interpretação de Paulo Miklos de Adoniran Barbosa traz, de forma convincente, um personagem complexo, enquanto Matogrosso e Joca são o alívio cômico do filme. Iracema e Cícero, embora tenham menor tempo de tela, cativam o público com personagens interessantes que provocam empatia instantânea com o espectador.
Cabe ressaltar que, uma vez que o filme é inspirado pela canção “Saudosa Maloca”, não é uma biografia completa sobre a vida de Adoniran Barbosa. Portanto, o filme limita-se a um recorte, não adentrando os anos de sucesso da carreira do sambista, suas relações familiares e amorosas ou os episódios de sua vida que ocorrem fora do bairro do Bixiga.
Assim, é um filme autêntico, cativante e bem-humorado sobre parte da história de um grande ícone do samba brasileiro, e possui duração de 1 hora e 20 minutos.
Assista ao trailer do filme aqui, procure a sessão no cinema mais próximo e leia outras resenhas de filmes no Musicult.