Quando Placebo foi confirmado no festival Estéreo Picnic, conhecido como o Lollapalooza de Bogotá, as expectativas da banda no Brasil só aumentaram e, enfim, foi anunciado um show solo em São Paulo, que aconteceu no último dia 17.
Antes mesmo da casa abrir, a banda, que já é famosa por não gostar do uso de celulares desde a última vez que vieram ao Brasil, em 2014, postou no Instagram um stories com os horários e um pedido para que o uso do aparelho fosse evitado.
E o pedido se repetiu antes do show, com uma mensagem gigante no telão. Mas, antes de falarmos dessa mensagem, vamos ao show de abertura.
O duo britânico Big Special é quem abre os shows do Placebo na turnê sul-americana e o som da dupla é bem inovador. O vocalista canta como se fizesse rap ou declamasse poesia, enquanto o baterista conduz não só as baquetas, mas também os sintetizadores, dando um ar post punk ao som do Big Special.
Apesar do som incomum, o Big Special agradou aos fãs que aguardavam o Placebo em São Paulo, que chegaram até a gritar o nome da dupla ao fim do show, que teve muita interação entre os artistas e o público. Os músicos pareciam muito felizes de tocar no Brasil e até arriscaram algumas palavras em português, esbanjando um carisma e uma extroversão bem diferentes das estrelas da noite.
Isso porque além dos muitos pedidos pelo não uso dos celulares, o Placebo não foge do que sua música entrega. Brian Molko e companhia são mais sombrios e interagiram pouco com o público (e quando eu digo pouco eu digo apenas uma fala entre todas as músicas do setlist e um muito obrigado ao fim do show). Mas isso não é uma crítica. Cada banda tem sua personalidade e o show do Placebo não foi pior ou ruim por conta disso, muito pelo contrário. Foi um excelente show.
Placebo em São Paulo: um show não se resume a stories, filmagens e hits no setlist
Ok, já falamos muito sobre o pedido para não filmarem o show nessa resenha, então, pra fechar esse tópico, sim, o pedido foi bem acatado pelos fãs. Claro que não foi unânime e nem durante todo o show.
Em músicas mais famosas ou queridas, era visível mais celulares para o alto, mas numa casa que tem capacidade para 8 mil pessoas, ver de 10 a 20 celulares na nossa frente é algo bem pequeno, né?
Além disso, estou falando das pessoas que viram o show mais para o fundo da plateia, já que lá na frente era praticamente nula a presença dos aparelhos (houve um boato de que os seguranças do Placebo estavam proibindo mais incisivamente os fãs da grade).
Além do tópico “celulares”, outro ponto que levantou discussões pré, durante e pós show foi o setlist. O Placebo, como dito, não vinha ao Brasil há 10 anos, e de 2014 pra cá, o único álbum de inéditas lançado foi “Never Let Me Go”, de 2022, que não emplacou nenhum grande hit como “Meds”, “Pure Morning”, “Every you Every Me”, “Special Needs” e “Special K”, grandes sucessos que ficaram de fora do setlist.
Focando nas músicas do álbum recente, apenas “Scene of the Crime”, “Too Many Friends”, “The Bitter End”, “Infra Red” e “Song to Say Goodbye” foram os hits da noite, mas fã é fã e a emoção de rever uma banda 10 anos depois ou apenas ver pela primeira vez superaram qualquer ausência no setlist.
Além disso, tornando a experiência de um público que ama redes sociais e ama filmar shows, como o público brasileiro, mais imersiva de fato, proibindo que a gente se preocupe com enquadramento, zoom, postagens etc., a presença do Placebo em São Paulo, com um som alto e claro e a voz impecável de Brian Molko, mostrou que, em um show, mesmo que o palco e o jogo de luzes sejam um espetáculo a parte, no fim, é só a música que importa de verdade.
*Tradução do texto no telão: Queridos fãs do Placebo. Eu gostaria de pedir, gentilmente, que não passem todo o show filmando com seus celulares. Isso torna a performance do Placebo muito mais difícil. Mais difícil de se comunicar com vocês e de comunicar, efetivamemente, a emoção das músicas.
Isso também é desrespeitoso com seus companheiros da plateia, que querem assistir ao show e não a traseira do seu celular. Por favor, esteja aqui agora no presente e aproveite o momento. Porque esse exato momento nunca mais vai acontecer de novo.
Nossa proposta é criar comunhão e transcendência. Por favor, nos ajude nesta missão. Com respeito e amor. Paz. Namaste.