Nos dias 5 e 14 de março, a lendária banda punk Bikini Kill estreou no Brasil depois de anos de espera. Nós estivemos presentes na segunda e última noite de shows e contamos como foi neste texto, mas antes, um pouquinho de contexto.
Nos anos 90, a cena punk feminista entrou para a história com ajuda da lendária frontwoman do Bikini Kill, Kathleen Hanna. E, mesmo atuando da forma mais artesanal possível, produzindo zines e gravando no fundo do porão da casa de uma amiga, ela levou a perspectiva feminina para o mundo inteiro através de músicas com letras impetuosas, melodias estrondosas e uma voz muito potente.
Por mais que o barulho do Bikini Kill ja tivesse chegado aos ouvidos dos entusiastas do movimento Riot Grrrl no Brasil há muito tempo, a banda nunca tinha se apresentado no país até 2024, e o anúncio dos shows em solo brasileiro não poderia ter sido recebido de forma diferente.
Os ingressos do primeiro show se esgotaram tão rápido que o grande alvoroço dos fãs, que esperavam a oportunidade de ver a banda ao vivo pela primeira vez, acarretou em um show extra na capital paulista, provando que mesmo após mais de 30 anos, o clamor riot grrrl ainda reverbera com muita intensidade.
Bikini Kill no Brasil: o show do dia 14 de março
O show extra, no dia 14/03, foi inaugurado pelas apresentações das bandas de abertura com representações femininas de tirar o fôlego: Weedra, trio punk que lançou seu primeiro EP em 2019, Punho de Mahin, que há tempos vem se consolidando na música extrema com sua presença enérgica, e As Mercenárias, grande nome do punk paulista feminino há mais de 40 anos, e que mais uma vez mostraram porque são tão importantes na cena e fizeram uma performance cheia de clássicos que fez a plateia virar o quinto integrante.
A sensação de estar rodeada de mulheres que estavam lá para ver uma banda de mulheres, cantando coisas sobre mulheres, não poder ser descrita. Não consigo nem ao menos comparar com a tranquilidade de um jardim aos pés dos alpes suíços, ou no sossego de domingo à noite, já que nada poderia se aproximar da sensação de estar em um ambiente tão barulhento e bagunçado e, mesmo assim, tão acolhedor e pacífico.
É um paradoxo que conseguimos encontrar só em um show de riot grrrl. E o Bikini Kill, expoente desse movimento, entregou emoções e sensações incríveis como essa em um show de pouco mais de uma hora.
Assim que Kathleen Hanna, Tobi Vail e companhia subiram no palco, foram recebidas calorosamente por todos que aguardavam com muita ansiedade na pista. O espetáculo protagonizado pela banda levou o público, composto por diferentes gerações, a relembrar o peso das letras nos gritos fervorosos de Kathleen Hanna sobre as experiências femininas dentro da sociedade.
Tanto as mulheres que acompanharam o surgimento do riot grrrl nos anos 90 como as garotas que hoje vivem do seu legado podem dizer que a setlist da banda foi um abraço generoso em todos os fãs e uma forma de homenagear toda a história do Bikini Kill. Desde o álbum “Revolution Girl Style Now” até o álbum “Reject All American”, o repertório não decepcionou, muito pelo contrário, encheu de adrenalina o corpo de cada pessoa ali presente e atingiu seu clímax durante o grande hino da banda “Rebel Girl”, quando o público encheu os pulmões para cantar mais alto que a própria vocalista e, por sua vez, fazer um espetáculo para a banda.
A sinergia entre Bikini Kill e plateia do Brasil foi, inegavelmente, a cereja do bolo que coroou a noite de um encontro muito esperado por todes há mais de 30 anos.
Confira o setlist completo desse show:
Quem assina o texto e as fotos dessa resenha é Lara Zugaib. Siga o perfil de fotografias dela no Instagram: @hexedgen
Fotos e texto incríveis! Larinha entrega muita excelência. O Bikini Kill, mesmo sendo uma banda mais antiga, traz um frescor atual. As membros, além de performarem muito bem, tem essa personalidade que não envelhece nunca. Uma pena que perdi esse show (assim como o do L7 :C ), mas a vibe emocionante bate de um jeitinho especial. Queria acrescentar também que acredito que não exista escolha melhor do que a feita pela produção no que tange a line, pensar nas Mercenárias foi uma jogada de mestre, respeito pela nossa vanguarda br do punk.
Espero que venham mais vezes!!! Da próxima, espero marcar presença.