O selo e produtora Balaclava Records viabilizou mais um grande acontecimento na cena alternativa de São Paulo: a estreia da cultuada banda inglesa King Krule no país. O local escolhido para o evento foi o Terra SP. Lá, pela primeira vez, o público brasileiro esteve cara a cara com o grupo e sua ousada combinação de gêneros, que vai do pós-punk ao jazz com muita autenticidade.
Às 19h40, antes mesmo do show de abertura, o público já se fazia presente e mostrava muita animação. As vozes de muitas conversas empolgadas criavam um burburinho, cozinhando a atmosfera da casa sobre as músicas de aquecimento.
Guerrinha
Pontualíssimo, Guerrinha subiu ao palco às 20h, dando início a seu show de abertura com climas lentos de teclado. Aos poucos, a massa sonora crescia, enquanto Gabriel Guerra mostrava sua agilidade e domínio pleno do instrumento.
Foram, então, adicionadas backing tracks para que Guerrinha desenvolvesse seus riffs, arpejos e cromatismos instrumentais, dando a conhecer as faixas dissonantes de jazz “espacial” de seu álbum Exposição Popular, lançado em janeiro deste ano.
Ainda que o tom e as características da apresentação pedissem uma introspecção marcada, o público não se acanhou e embarcou na viagem de Guerrinha, aplaudindo, gritando e agitando coros com o nome do artista.
King Krule
Depois, com cerca de 15 minutos de atraso, o grupo capitaneado por Archy Marshall subiu ao palco, levando a uma explosão efusiva do público que já urrava pedindo a entrada da banda há algum tempo.
Para o show principal da noite, a pista da casa ficou abarrotada, com quase nenhum lugar facilmente transitável. O primeiro camarote também tinha todos os seus lugares muito disputados. Podia-se ouvir gritos como “passa o telefone” vindo da plateia, indo de encontro a um início instrumental leve e sensível da faixa Perfecto Miserable, do álbum Man Alive! (2020).
Logo em seguida, houve um aumento de energia repentino, com instrumentais violentos, atravessados pela voz rasgada e característicamente grave de Archy. Com foco no mais recente álbum da banda, Space Heavy (2023), a banda costurou um show magnífico de quase duas horas, demonstrando profissionalismo, entrosamento e dedicação, sem deixar de fora também suas faixas mais emblemáticas, como Out Getting Ribs, Seaforth, Baby Blue e Easy Easy.
Um ponto interessante é a dinâmica trabalhada pela banda, que leva suas canções a um patamar muito diferente e superior às gravações de estúdio, com uma visceralidade ímpar que justifica o lugar de ícone da King Krule. O grupo atravessa jazz, blues, shoegaze, hip hop e pós-punk com irreverência, personalidade sonora e potência, de maneira quase obscena e profundamente magnética.
Por tão magnética, o público ia constantemente à loucura, aplaudindo e gritando elogios à banda. Quando a plateia puxou o coro “Archy, eu te amo”, obteve a resposta convidativa, em inglês, do frontman: “Então vamos nos amar hoje à noite”.
O saxofonista do grupo deu um show à parte, contraditoriamente sendo mais notado durante as músicas em que deixava seu instrumento de lado para dançar e pular, interagindo de forma divertida e instigante com o público.
Assim a King Krule seguiu, desfilando suas dissonâncias, tempos incertos e muita entrega, criando uma conexão cada vez mais forte e bonita com seus fãs, variando climas intensos com momentos de sensibilidade sonora. A plateia devolveu toda essa entrega com muita energia, até mesmo cantando parabéns para o guitarrista solo, aniversariante do dia, e deixando todos os integrantes da banda impressionados e lisonjeados.
A apresentação do grupo inglês não deixou dúvidas quanto a seu êxito, servindo como abertura de portas para futuros retornos. Com certeza, o público amou o show preparado pela King Krule e já está ansioso pelo próximo encontro.