Carnaval, muito calor, folia, samba? Essa é a combinação de tudo que a maioria das pessoas estavam fazendo no último domingo, mas outra boa parte do público de São Paulo decidiu quebrar esse paradigma e ir ao Carioca Club para mais um Kool Metal Fest, que dessa vez apresentou uma edição bastante focada em Thrash metal e Crossover e fez a alegria da galera que escolheu curtir o carnaval de uma maneira diferente.
Com duas atrações internacionais, Vio-lence e Exhorder, bandas de fora de São Paulo, como o Damn Youth, e os já consagrados Ratos de Porão, o Kool Metal Fest acertou em cheio no lineup, conseguiu atrair muita gente para o evento, e ainda deu espaço para bandas emergentes da cena apresentarem excelentes trabalhos autorais ao público.
Os destaques dos shows do Kool Metal Fest
Santa Muerte
A primeira banda a subir ao palco foi a Santa Muerte, fazendo um Thrash/Crossover. É muito significativo ver um festival com um público predominante masculino (não tenho dados oficiais, mas, de olho, aproximadamente 80% do público era masculino), ter uma banda com integrantes mulheres abrindo o evento, fazendo um som de extrema qualidade e sendo muito aplaudidas e respeitadas pela plateia, que chegou cedo para ver a banda.
As músicas que mais chamaram atenção do público e promoveram até aquele momento, pequenas rodas, foram “Hipocrisia Never Ends” que é o single mais recente da banda, de 2019, e “Círculo de Sangue”, do álbum Psychollic, de 2017. Pra quem conhece a banda apenas pelos trabalhos distribuídos nas mídias digitais, vale muito a pena ver o show ao vivo, pois a banda é bastante virtuosa e tira um som muito interessante no palco.
Apesar do set de apenas 30 minutos, por conta de um festival, a Santa Muerte fez um excelente show e deixou uma boa impressão no público que chegou cedo para ver todas as bandas.
Cerberus Attack
As 15h20 foi a vez da Cerberus Attack subir ao palco. Velhos conhecidos do público de Thrash metal de São Paulo, e também do público que acompanha o Kool Metal Fest há muitos anos, a Cerberus Attack é uma banda de São Mateus, Zona Leste de São Paulo, e faz um autêntico thrash metal, sendo sem dúvidas uma das bandas que mais chama atenção na cena atual em cima do palco.
O som impecável ao vivo mostra que a banda consegue reproduzir seus trabalhos de estúdio até melhor ao vivo, e colocar a energia do público lá em cima. É interessante assistir a uma performance da banda justamente por isso, enquanto uma parte do público abriu rodas e suou bastante, outra parte parecia bastante concentrada em frente ao palco vendo um grande show, com destaque ao guitarrista Marcelo Araújo, que é um baita músico, assim como todos da banda.
“Fastest way to die”, “Abyss of lost souls” e “Strategic Cut on Education” foram as músicas que fizeram a galera abrir as rodas e suar bastante na também curta apresentação da banda.
Escalpo
A Escalpo foi a primeira banda que fugiu um pouco do Thrash Metal no festival. A banda apresenta um Metalpunk de protesto com vocais muito potentes e músicas bastante diretas com riffs pesados. Por mais que fossem a banda de sonoridade mais diferente até então, o público a recebeu extremamente bem.
Uma banda nova na cena, porém bastante experiente, a Escalpo está com turnê internacional já marcada para esse ano, e apresentaram seu primeiro álbum para um Carioca Club já bem cheio. “Eviscerando o Opressor” foi a música que chamou mais atenção do público.
Damn Youth
Uma das atrações mais esperadas do evento, e mais comentada nos intervalos pelo público, a Damn Youth subiu ao palco as 17h e já começou agradecendo a toda equipe do Kool Metal e todo o público presente.
A banda Cearense, apesar de ser um dos maiores nomes do Thrash/Crossover no Brasil atualmente, vem pouco a São Paulo, devido, obviamente, às dificuldades logísticas de se viabilizar isso, mas, quando vem, mostra o porque é tão esperado e querido pelo público. A banda fez um show espetacular, e o público correspondeu da mesma forma. Não teve uma música de descanso para quem estava nas enormes rodas que se formaram durante o show.
Destaque para as performances de “No mercy to nazi sympathy”, “Descents into desorder” e “Jurisdiction” e também para o discurso da banda sobre não existir uma divisão entre público e banda, e sobre sermos todos iguais, algo que deveria ser comum a todos, mas que sabemos que não, já que existe muito estrelismo na cena do rock em geral.
Ratos de Porão
Chegou o momento da banda mais consagrada da cena subir ao palco, às 18h: João Gordo, Jão, Boka e Juninho abriram o show homenageando os 30 anos do álbum “Just Another Crime”, e logo após apresentaram o seus mais recentes trabalhos, muito bem recebidos pelos fãs da banda.
>>Leia aqui a resenha do último disco do Ratos de Porão
Além disso, o Ratos de porão passou por toda sua discografia tocando sucessos como “Aids, pop, repressão”, “Amazônia nunca mais” e “Crucificados pelo sistema”. Para completar o pacote, o Carioca Club estava lotado no momento da apresentação da banda e a roda gigante do público fez o espetáculo de uma das maiores bandas do país ficar melhor ainda.
Exhorder
O Exhorder foi a primeira atração internacional a subir ao palco, e eles vieram para chamar atenção. Belas guitarras, pedal duplo na bateria, e uma qualidade excelente do som marcaram a apresentação da banda, apesar de terem tido pequenos problemas nas guitarras nas primeiras músicas, praticamente imperceptíveis ao público, tamanha qualidade sonora da banda.
Apesar disso, o show do Exhorder foi um pouco morno, pois o diálogo entre público e o simpático vocalista Kyle Thomas às vezes parecia desconexo. Kyle falou bastante em inglês e boa parte do público parecia não entender 100% o que ele estava falando, o que foi deixando o show mais devagar, mas não estragou a experiência dos fãs que aguardaram por muito tempo para ver a banda em terras brasileiras.
“Slaughter In The Vatican”, música que dá nome ao primeiro álbum, e “Year Of The Goat”, mais recente lançamento da banda foram os destaques da apresentação.
Vio-lence
O Vio-lence era a atração internacional mais esperada da noite. Lendas do thrash metal, a banda subiu ao palco pontualmente as 20h30, e aos primeiros acordes, uma roda enorme se abriu no Carioca Club. Não houve cansaço de uma maratona de shows do festival que resistisse aos sucessos do Vio-lence, que fez ali no Kool Metal seu último show com Phil Demmel na guitarra, pois ele irá assumir as guitarras do projeto de Kerry King, do Slayer.
Um fato chato que chamou atenção durante o show foi a postura do vocalista Sean Killian, que empurrava os fãs que subiam no palco para dar stage dives, principalmente as mulheres, que pareciam gerar um certo incômodo maior no vocalista e eram rapidamente empurradas por ele em meio às músicas.
Mas focando no setlist, “Serial Killer” foi insana de se ouvir ao vivo, assim como “Phobophobia” e “Eternal Nightmare”, e o público respondeu fortemente para a banda, que fez um belíssimo show, com uma qualidade de som beirando a perfeição.