Argylle: O Superespião é o novo filme do diretor Matthew Vaughn (Kingsman), que estreou na última quinta-feira, 1, nos cinemas brasileiros.
O longa de espionagem, baseado na obra literária homônima escrita por Elly Conwway, e conta com um elenco repleto de nomes conhecidos, com nomes como Henry Cavill, Bryce Dallas Howard, Samuel L. Jackson e Dua Lipa.
O filme traz uma sinopse original: a escritora Elly Conway (Bryce Dallas Howard) lança o novo volume da sua saga de romances de espionagem best-seller Argylle. Entretanto, o que acontece quando sua fiçção se mistura à realidade e ela subitamente se vê perseguida por uma organização crimonosa da vida real? Elly conta com a ajuda de Aiden (Sam Rockwell) e seu fiel companheiro felino Alfie para descobrir o que está acontecendo.
Assim, como ocorre em Kingsman, há uma intenção clara de se subverter de forma inovadora a narrativa clássica de filmes de espionagem, brincando com clichês de filmes clássicos como 007. Ao mesmo tempo, o filme traz os elementos nostálgicos inerentes ao gênero: uma sensação de perigo que beira o surreal, cenas de ação bem coreografadas, aventura e situações altamente improváveis que apenas um superespião poderia viver e dar conta.
O filme utiliza forma brilhante o recurso da metalinguagem a todo momento: os diálogos de Elly com Argylle (Henry Cavill) na sua própria mente; a cena na qual Elly escreve em seu computador em Londres; a existência do livro Argylle dentro do universo cinematográfico e até mesmo o fato de a identidade da escritora ser ainda um mistério no mundo real. A dualidade é bem-retratada e sempre presente ao longo do filme. Argylle também traz um certo ar brega que se encaixa bem na proposta da trama, tornando-a mais única.
Argylle conta com múltiplas reviravoltas, que em sua maioria de fato surpreendem o espectador e tornam o filme mais dinâmico, apesar da previsibilidade de algumas delas. Entretanto, essa estratégia nos faz refletir porque o filme recorre a tantas reviravoltas. Seria um artifício para prender a atenção de espectadores de uma geração que, acostumada às telas, tende a dispersar a atenção facilmente? A alta frequência de reviravoltas da trama mina a sua credibilidade, cansando e confundindo o público em vez de animá-lo.
Ouro ponto negativo que cabe ressaltar é o desenvolvimento raso da protagonista Elly Conway, que constantemente é tratada de forma estereotipada. Ainda que não deixe de ser uma personagem empática, é linear. O mesmo ocorre com os vilões, cuja representação é caricata e as motivações são rasas. Por esse motivo, Aidan, o personagem de Sam Rockwell, cuja personalidade é desenvolvida de forma mais complexa, é alguém que destaca mais aos olhos do público. Contudo, cabe apontar que apesar da construção rasa de personagens, a dinâmica da dupla principal Aidan e Elly funciona muito bem, de forma orgânica.
O uso da trilha sonora, por sua vez, é construído de forma impecável, uma vez que a música é utilizada para agregar a cada cena específica, contribuindo perfeitamente para a construção do tom desejado, seja ele humor, tensão ou tristeza.
Assim, Argylle é interessante na medida que reinventa conceitos, brinca com a metalinguagem de forma inteligente e se mostra uma obra dinâmica e original, mas falha na criação de personagens carismáticos e no exagero de reviravoltas que cansa o espectador. Ao que tudo indica haverá uma continuação caso o filme seja um sucesso de bilheteria.
Obs.: Não poderia deixar de recomendar que o espectador assista a cena final, que definitivamente vale o tempo de espera.
Confira o trailer abaixo: