Crítica: Os Rejeitados, um filme simultaneamente doce e irônico

O Portal Musicult teve a oportunidade de conferir Os Rejeitados (The Holdovers), que estreia 11 de janeiro (quinta-feira) nos cinemas brasileiros, cuja história se passa no final de 1970 e conta a história do rabugento professor Paul Hunnan (Paul Giamatti), que se vê obrigado a passar as férias de Natal no campus na escola na qual leciona na Nova Inglaterra para cuidar dos alunos que não têm como voltar para casa.

Ao longo do período, ele acaba desenvolvendo um vínculo improvável e especial com um sagaz e encrenqueiro aluno, Angus Tully (o estreante Dominic Sessa), e com Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), cozinheira-chefe da escola que perdeu recentemente um filho na Guerra do Vietnã.

Cotado para o Oscar e já premiado no Globo de Ouro, o longa de 2 horas e 13 minutos é dirigido por Alexander Payne, indicado a sete Oscars ao longo de sua carreira, e conta com roteiro de David Hemingson.

Os Rejeitados adota uma estética propositalmente retrô, simulando um filme dos anos 1970 desde os primeiros instantes e utilizando lentes de 55mm na sua fotografia.

O longa pode ser definido como uma dramédia: uma comédia genuinamente divertida sobre os dilemas da juventude e da vida adulta mas também um drama que não hesita em tocar em temas socioculturais difíceis, sempre de forma sensível: racismo, solidão, pobreza estrutural e luto. É um filme simultaneamente doce e irônico, leve e profundo, divertido e melancólico. A partir destas dualidades, emociona o espectador, provocando risadas, nostalgia e comoção.

O filme não aposta em nomes de astros famosos ou  fórmulas prontas nem conta com um orçamento milionário. Assim, tem sucesso no seu tom despretensioso e na execução perfeita de uma premissa aparentemente simples, criando uma história concisa, com diálogos inteligentes e personagens complexos e facilmente identificáveis.

O filme traz uma perspectiva interessante à dinâmica de se juntar pessoas com personalidades completamente diferentes em um mesmo ambiente, como ocorre em O Clube dos Cinco, por exemplo. Não há uma mudança radical e absoluta de valores em cada uma das personagens, mas mudanças sutis nas decisões e na forma de se pensar de cada um. É possível observar uma evolução gradual, como os dias de convivência impactam cada um de forma discreta mas fundamental. Impossível não pensar também em Sociedade dos Poetas Mortos, outro clássico que combina dilemas e reflexões profundos ao ambiente escolar.

Os Rejeitados é um filme que conta com excelentes atuações, não à toa conquistando duas vitórias no Globo de Ouro de 2024: Melhor Ator em Musical ou Comédia para Paul Giamatti e Melhor Atriz Coadjuvante para Da’Vine Joy Randolph. Dominic Sessa também mostra-se brilhante, surpreendendo ao interpretar o seu primeiro papel nos cinemas com a segurança de um ator veterano.

Confira o trailer do filme Os Rejeitados a seguir