Depois de lançar seu livro “Encurtamentos” na Casa Gueto durante a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, pela editora Patuá, o filósofo e escritor Victor Costa fará uma sessão de lançamento em Campinas no próximo dia 2.
Com “Encurtamentos”, Victor oferece uma exploração única da experiência humana em ambientes urbanos sul-americanos, apresentando uma interação convincente entre prosa poética e fotografia.
Uma confluência de arte e testemunho
“Encurtamentos” é uma obra colaborativa que combina a prosa instigante de Victor Costa com a fotografia evocativa de três talentosas fotógrafas sul-americanas: Adriana Lestido, Tuane Fernandes e Melissa Haidar. A decisão de incluir essas fotógrafas no projeto foi baseada em seus estilos documentais e no compromisso compartilhado de usar sua arte como testemunho da vida em cidades do sul global.
O trabalho da reconhecida fotógrafa argentina Adriana Lestido, especialmente sua série “Metrópolis”, dialoga fortemente com os textos que mergulham no tema da vida urbana sul-americana e serviu como inspiração inicial para essa colaboração. Tuane Fernandes, conhecida por suas fotografias de protestos como parte do coletivo Farpa, também se tornou uma contribuinte vital para o projeto. Melissa Haidar, cujas fotografias surgiram a partir de derivas por Ouro Preto e pelo Rio de Janeiro, completou o trio.
Essas três fotógrafas compartilham o compromisso de documentar a paisagem urbana, enfatizando as subjetividades de pessoas menos conhecidas. Sua preferência pela fotografia em preto e branco intensifica a experiência do urbano e a profundidade das subjetividades retratadas. Cada foto em “Encurtamentos” parece ser o resultado de uma deriva através da lente de cada fotógrafa, refletindo o desejo de capturar o espectro urbano testemunhal e encontrar a beleza em pessoas marginalizadas.
Da roteirização à escrita do livro
Victor Costa, que também trabalha como roteirista, reconhece a influência de sua formação em “Encurtamentos”. Ele considera o livro como um “livro-cinema”, uma fusão única de prosa poética e fotografia que oferece a vantagem da leitura não linear.
“A escrita em ‘Encurtamentos’ é caracterizada por elipses, circularidade e uma exploração persistente do mesmo tema, muito semelhante à busca de arcos narrativos de um roteiro. Ao contrário de um filme ou de um texto filosófico, “Encurtamentos” adota uma abordagem menos objetiva, circundando seu tema em vez de seguir diretamente ao ponto.”, define o autor.
O corpo em diferentes formas
Ao longo de “Encurtamentos”, o corpo é um tema central abordado de várias maneiras: no título, nas fotos e nas observações prosaicas do cotidiano. Victor Costa vê esse diálogo como um elemento essencial de seu trabalho, refletindo não apenas sua experiência como pessoa com deficiência, mas também as experiências de outras pessoas que se encontram nas margens da sociedade. Isso oferece uma perspectiva singular sobre o corpo, diferente das representações tradicionais encontradas na poesia.
Além disso, o livro todo traz uma característica distintiva: o uso exclusivo de letras minúsculas. A intenção de Victor Costa com essa escolha tipográfica é criar uma representação visual de sua própria condição física.
Ele nasceu com uma deficiência congênita que resultou em sua perna direita e pé sendo mais curtos do que seus pares esquerdos.
O uso de letras minúsculas também perturba o ritmo convencional das palavras, promovendo uma sensação de neutralidade no texto. Isso atua como uma sutil rebeldia contra as normas tipográficas, assim como sua própria condição de vida, que desafiou as expectativas.
“A experiência do meu corpo com deficiência, em geral, não é a experiência retratada em livros de poesia. Essa premissa me permite pensar nos outros corpos que também estão à margem. E são esses corpos que compõem junto aos meus textos e às fotos uma variada gama de situações de encontros”, conta.
Encurtamentos: um relato da última década
“Encurtamentos” é um reflexo dos tumultuados eventos da última década no Brasil e na América Latina. O livro encapsula um período de mudanças profundas, perdas e acúmulo, marcado por importantes agitações políticas, sociais e de saúde. Embora as fotos e textos não abordem diretamente o contexto histórico, eles exploram as subjetividades latentes dessa era, capturando a essência de um período complexo e desafiador.
“Encurtamentos trata de um tempo muito difícil. Os textos foram escritos ao som de gritos sobre o preço da passagem, sobre as decisões da Lava Jato, sobre o golpe contra Dilma, Fora Temer, Bolsonaro e uma pandemia. Imagens e textos não tratam diretamente da historicidade mas sim das subjetividades latentes deste período (as fotos da Lestido e duas entre as três da Haidar são de décadas atrás, mas trazem à tona o tema das subjetividades que o Encurtamentos persegue)”, detalha Victor Costa.
“Eu diria que é um livro que provoca, evoca, encontros com pessoas que podem ser nós mesmos. Há uma multidão neste livro, uma multidão que nos implica em múltiplas paisagens do existir na América do Sul”, convida.
Lançamento na Fêmea Fábrica
- Fêmea Fábrica | Campinas
- 02.12 às 16h30
- entrada gratuita, com LIBRAS