Quem esteve no Balaclava Fest, em São Paulo, no último dia 19, foi agraciado com momentos inesquecíveis, de verdadeira catarse. Um dos momentos mais esperados do ano pelos fãs do real emo, o show do American Football no festival superou quaisquer expectativas. Mas vamos devagar! First things first, fellas.
A abertura do Balaclava Festival
Divididas em dois palcos, as apresentações no Tokio Marine Hall começaram pontualmente às 15h40, com Terraplana e Shower Curtain performando no Palco Hall um setlist ideal para fãs de uma sonoridade alternativa e melancólica, algo que permeava a proposta do Balaclava Fest. Não à toa, em muitas vezes que ouvi falar no evento, ouvia variações da expressão “vai ser um rolê alternativão, com bandas bem diferentes”, o que pelo menos para mim é um ponto muito positivo. Novas propostas e sonoridades (no meu caso, que não conhecia tanto do lineup) são sempre bem-vindas aos meus ouvidos.
Em seguida, ainda no Palco Hall, foi a vez dos britânicos do PVA se apresentarem. Foi, de longe, o show com sonoridade mais diferente do evento. Ainda que trouxesse uma vibe mais melancólica e alternativa, a banda soava bem diferente das demais, pois trazia uma atmosfera carregada de influências de música eletrônica. Se me permitem uma comparação até um tanto esdrúxula, imagine o Kraftwerk com uma proposta mais moderna, quase pop e ao mesmo tempo soturna…pois bem, isso foi o show do PVA.
Abrindo a programação do palco Balaclava, foi a vez do duo Whitney se apresentar. Músicas como “No Matter Where We Go”, “Giving Up”, “Blue” e “No Woman” fizeram parte do setlist do show, que trouxe uma atmosfera mais sutil, com voz e violão dando o tom de toda a apresentação, com camadas mais suaves de outros instrumentos complementando a melodia principal. Um show bem bonito, sem dúvida.
Retornando ao palco Hall, foi a vez da cantora Hatchie mostrar o seu som, retomando a vibe eletrônica do PVA, com uma roupagem ainda mais pop. Ao contrário dos tradicionais festivais de punk e hardcore que costumo resenhar por aqui, uma unanimidade nos shows do Balaclava Fest foram os shows “sem agitação”. Calma, não é uma crítica negativa. Só é difícil imaginar circle pits e rodas punk em shows de música alternativa e emo intimista. De certa forma, isso foi um ponto positivo a mais, pois permitiu que o público prestasse ainda mais atenção no que era apresentado pelos artistas.
Senhoras e senhores…American Football!
Apesar de não ser a banda que fechava a programação do festival, o American Football era, sem dúvida, a mais esperada daquela noite de domingo. E isso podia ser percebido apenas olhando para o público, que naquele momento já ganhava um contorno mais diverso. Emos, punks, a galera do metal, do alternativo, entre outras vertentes… todos ansiosos procurando o melhor lugar na frente do palco Balaclava, aguardando o início da apresentação.
Às 19h15 CRAVADO, a banda liderada por Mike Kinsella (guitarra/vocal) entrou no palco. Vale lembrar que no dia anterior, o frontman se apresentou com seu projeto solo Owen na Casa Rockambole, em Pinheiros, criando todo aquele clima para o show da banda no dia seguinte.
Como se trata de um som caracterizado principalmente pelas guitarras limpas e menos “pressão” sonora, as reações do público estavam mais perceptíveis e palpáveis àquele momento. Quando o riff da primeira música, “Stay Home”, soou, já era possível ouvir uns “não acreditooo” e “tá acontecendo mesmo” de fãs mais emocionados. E não era pra menos.
Com poucas pausas, a banda de Urbana, Illinois, seguiu a apresentação, emendando uma música atrás da outra. “The One With the Wurlitzer”, “I Can’t Feel You” e “Silhouettes” vieram em seguida. As poucas (e rápidas pausas) aconteceram apenas para o American Football trocar de instrumentos (devido às diferentes afinações que usam) entre músicas e para Kinsella aproveitar e dar mais um gole na tradicional caipirinha brasileira, pela qual ficou visivelmente apaixonado, arrancando risadas do público que assistia à apresentação.
Show segue. A cada música, o público ficava cada vez mais encantado e cantava cada vez mais alto no Tokio Marine Hall. “Uncomfortably Numb”, “Heir Apparent”, um belíssimo solo de trompete do baterista Steve Lamos e “Give me The Gun” também fizeram parte do setlist, que até então estava lindo. Mas faltava alguma coisa. Eu sabia, o público sabia, e possivelmente você que está lendo esse texto também já saiba do que eu estou falando.
“Honestly?” “fechou” o set, protagonizando um dos momentos mais marcantes, visto que é uma das músicas mais conhecidas da banda, que por pouco não foi encoberta por um verdadeiro coral de emos acima de 30 anos de idade (aquela idade em que ser emo é um motivo de orgulho, e não daquela vergonha descabida que tínhamos quando adolescentes).
Luzes apagadas, banda saindo do palco. Mas, assim como em um filme da Marvel, ainda faltava o “pós-crédito” e ninguém arredou o pé de lá. Minutos depois, o American Football estava de volta ao palco e, sem muitas delongas, começou “You Know I Should Be Leaving Soon”, que foi seguida logo depois por “I’ll See You When We’re Both Not So Emotional”.
Por fim, “Neveeeeer Meeeeant” (você leu cantando que eu sei) fechou a apresentação que, pra mim, foi o show mais bonito do ano. Foi um momento de catarse, como já falei acima, já que muita gente, assim como eu, esperou anos para estar ali, naquele momento, cantando especificamente aquela música, a mais famosa da banda, com todo o mérito possível. Um show para não esquecer.
Thus Love e Unknown Mortal Orchestra fecham Balaclava Fest
Depois do show incrível do American Football, foi a vez do power trio de queer post punk Thus Love subir ao palco. Trazendo uma sonoridade um pouco mais rock, com grandes influências dos anos 90, a banda apresentou músicas como “On The Floor”, “Family Man”, “Put On Dog” e “Lost In Translation”, alternando entre versos contidos e refrões crescentes e explosivos, característica bem típica do rock alternativo.
Fechando a noite, o Unknown Mortal Orchestra subiu ao palco Balaclava às 21h45. Não é exatamente um horário comum para um show num domingo, mas o fato de ser véspera de feriado contribuiu bastante para que o público permanecesse no Tokio Marine Hall até o fim do evento.
A headliner da noite é uma daquelas bandas “ame ou odeie”. Com uma sonoridade que eu costumo chamar de “torta”, daquelas difíceis de rotular, a banda trouxe para o festival uma proposta autêntica em músicas como “The Garden”, “Layla” e “Little Blu House“. Explorando o eletrônico, alternativo e abstrato, a banda deu seu recado e mostrou a que veio, desconstruindo diversos padrões de musicalidade e mostrando que o “torto” também tem espaço.
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